iStock-459082897.jpg

jacoblund

*artigo publicado originalmente na revista ACTIVA de abril de 2018

Só pelo título pomposo queremos fazer o mesmo que Maria Daniel Brás faz na Accenture. Mas o que é que faz de verdade uma Truly Human Innovation and Experiences Manager? O objetivo máximo é ter um impacto positivo na forma como trabalham e vivem os cerca de 450 mil trabalhadores da Accenture, multinacional especializada em consultoria de gestão. “O meu foco é incluir o que mais nos diferencia enquanto seres humanos nos nossos programas, processos, metodologias e resultados, de forma a que possamos melhorar a forma como os nossos colaboradores e o mundo à nossa volta vive e trabalha.”
Maria Daniel impressiona tanto pelo que faz quanto pela forma como o faz. É a partir da sua casa, em Lisboa, que coordena uma equipa internacional, o contexto ideal para uma mulher assumidamente introvertida. “É o meu estilo de trabalho ideal. Adoro poder contactar com pessoas de todo o mundo, mas como introvertida que sou também preciso do meu espaço isolado para recuperar energia.” É também o contexto ideal para uma millennial. “Privilegiamos a flexibilidade, a personalização e estamos bastante à vontade com a tecnologia. Isto faz com que estejamos preparados – e até desejosos – para esta forma de trabalhar (eu, pelo menos, estava!). O trabalho à distância dá-nos liberdade para realizar o nosso contributo para o mundo no sítio e horário que mais nos serve, com pessoas que não estão limitadas ao nosso escritório ou país. O mundo inteiro é o limite.”

Gere-se o tempo de forma mais eficaz, sem fronteiras rígidas entre vida pessoal e profissional

“Não acredito em fronteiras entre vida pessoal e profissional. Quem eu sou em casa, sou no trabalho, e quando estou a trabalhar não consigo desligar de quem eu sou. O trabalho faz parte da minha vida. Mas isso não quer dizer que esteja sempre a trabalhar. Da mesma forma que não fazemos exercício físico eternamente ou não dormimos eternamente, também o trabalho tem o seu tempo próprio. Trabalhar virtualmente dá-nos a vantagem de podermos gerir o tempo de forma ainda mais eficaz. Tenho liberdade para interromper o dia de trabalho para fazer exercício e posso trabalhar até mais tarde se assim for mais produtivo. Felizmente, estando na Europa, não tenho muitas videoconferências fora das horas de trabalho habituais no nosso país, embora já tenha havido exceções, em que adapto o meu dia para acordar mais cedo ou terminar mais tarde, para que possa falar com pessoas noutros países e diferentes fusos horários. Regra geral, tenho um dia normal como qualquer pessoa que trabalha num escritório, mas sem o stresse matinal para sair de casa e sem perder tempo no trânsito. Com esse tempo adicional, trato de mim, da casa, aproveito o tempo com as minhas gatas ou para ler ou aprender algo novo.”

O trabalho à distância aumenta a produtividade

“Mesmo que, por estar em casa, acabe por trabalhar mais horas, canso-me muito menos. Sou introvertida e os open spaces não são o espaço de trabalho ideal para mim. Em casa estou o dia todo em silêncio e sem interrupções, sou muito mais produtiva e com muito menos esforço. Além disso, posso fazer trabalho criativo nas horas em que o meu corpo está mais alerta. No escritório estamos limitados ao horário de trabalho, que nem sempre é o mais adequado para nós ou para a tarefa que temos de desenvolver.”

É possível criar laços, mesmo à distância

“Existem alguns mitos em relação ao trabalho à distância. Muita gente acredita que não se conseguem estabelecer relações profundas desta forma, ou que não se conseguem perceber bem as pessoas. Isso até pode ser verdade muito no início, mas ao fim de algum tempo é perfeitamente possível identificar pela voz se uma pessoa está triste, preocupada ou feliz. Também dedicamos tempo na agenda exclusivamente para celebrar eventos, como aniversários e falar de temas pessoais. Claro que cada um tem que fazer a sua parte e comunicar à equipa as suas necessidades pessoais, mas é perfeitamente possível manter o espírito de equipa à distância. Tenho muito bons amigos em vários países que nunca conheci pessoalmente.”

headshot.jpg

Maria Daniel Brás tem 36 anos e é Truly Human Innovation and Experiences Manager na Accenture e o seu trabalho, ainda que virtual, tem um impacto direto e bem real na forma de trabalhar e viver dos cerca de 450 mil colaboradores da consultora.

D.R.

Nas videoconferências é importante reservar tempo para assuntos pessoais

“Em qualquer dos meus projetos faço questão de que haja sempre uma ou várias chamadas iniciais dedicadas apenas a conhecermos a equipa. No mundo virtual é muito fácil irmos diretos ao assunto porque o tempo em conjunto é limitado, mas é fundamental dedicarmos tempo para nos conhecermos. Nessas chamadas podemos partilhar fotos, factos sobre nós que os outros não conheçam, os nossos gostos e preferências. Depois, manter conversas regulares individuais com cada elemento da equipa e também ‘reuniões’ de equipa em que partilhamos informação, momentos de generosidade e gratidão, celebrações e reconhecimento, é fundamental para manter o espírito de equipa. Mas no início, um site ou base de dados com o perfil de cada pessoa a que toda a equipa tenha acesso é uma boa ajuda.”

Não é preciso conhecer as pessoas pessoalmente para gerir uma equipa

“Devido ao compromisso com o ambiente, a empresa está dedicada a utilizar as novas tecnologias para ligar pessoas. Isto pode traduzir-se em eu nunca vir a conhecer a minha equipa pessoalmente. Através de algumas formações comuns (ou até viagens pessoais), podemos vir a conhecer alguns membros da equipa, mas é difícil conhecer todos. Acho que nestes sete anos nunca conheci a totalidade das minhas equipas pessoalmente.”

Nada se faz sem tecnologia

“Para trabalhar à distância é fundamental uma ferramenta de gestão de calendário, software para conversas individuais e de grupo, gestão de tarefas e ficheiros e, claro, software de áudio e vídeo. Ter tudo isto disponível em versão para computador, mas também em aplicações para o telemóvel torna o dia-a-dia muito mais simples e permite-nos ser verdadeiramente móveis. Utilizo também bastantes aplicações de formação online como Edx, Udemy, podcasts, etc.”

Nem tudo é negociável

“A regra fundamental é ser realista na gestão do calendário. É muito fácil aceitarmos mais uma e outra conference call e quando vamos a ver temos um dia inteiro de chamadas e já não temos tempo para trabalho efetivo… Saber dizer não é fundamental. E bloquear tempo para renovar, para trabalho de foco e para o que é importante para nós, também. No início, foi-me difícil dizer não, e como consequência estava a trabalhar horas loucas e a prejudicar a minha saúde e bem-estar. E depois descobri que não há consequência nenhuma por dizer não ou bloquear o calendário para tarefas pessoais ou de foco – é normal e aceitável que haja agendas diferentes e por isso pode-se adiar uma chamada. Se nós estivermos bem, vamos conseguir ajudar os outros e contribuir para a equipa de uma forma muito mais positiva. Também é importante partilhar logo à partida com a equipa o que não é negociável, de maneira a se encontrar uma forma de trabalho que sirva a todos e respeite as necessidades pessoais. O meu non-negotiable, por exemplo, é que a partir de certa hora estou desconectada porque é tempo de estar com a família.”

O trabalho à distância não é para todos

“Conheço pessoas que não se habituaram a trabalhar virtualmente e que regressaram ao estilo de trabalho tradicional. Essas pessoas sentiam falta do contacto presencial com outras pessoas. E se há algumas funções que não podem ser feitas de forma virtual, na grande maioria das tarefas de trabalho intelectual, com alguma criatividade e disciplina, praticamente tudo se pode fazer à distância.”

Sem título.jpg

D.R.

O que ler sobre o assunto

“‘Healing Spaces’, de Esther M. Sternberg, que nos ensina a criar o ambiente de trabalho ideal em casa (por exemplo, ter plantas em quantidade abundante à nossa volta ajuda a reduzir os níveis de stresse, limpa o ar e a poluição gerada pelos ecrãs digitais e ainda pode aumentar a produtividade até 15%); e ‘The Year Without Pants’, de Scott Berkun, porque conta a história do que é trabalhar à distância, de uma forma divertida.”

Palavras-chave

Relacionados

Mais no portal

Mais Notícias

26 consequências surpreendentes do aquecimento global

26 consequências surpreendentes do aquecimento global

Liliana Campos: “Estamos focados na reconstrução e em seguir em frente”

Liliana Campos: “Estamos focados na reconstrução e em seguir em frente”

Os resultados da cirurgia plástica de Sofia Sousa (e as fotos de como tudo se passou!)

Os resultados da cirurgia plástica de Sofia Sousa (e as fotos de como tudo se passou!)

Filha transgénero de Naomi Watts e Liev Schreiber desfila pela primeira vez em Paris

Filha transgénero de Naomi Watts e Liev Schreiber desfila pela primeira vez em Paris

Que histórias nos contam os painéis de Almada nas gares marítimas?

Que histórias nos contam os painéis de Almada nas gares marítimas?

25 batons para celebrar o Dia do Beijo

25 batons para celebrar o Dia do Beijo

Reportagem da VISÃO Saúde sobre evolução da Cirurgia Robótica em Portugal vence Prémio de Jornalismo

Reportagem da VISÃO Saúde sobre evolução da Cirurgia Robótica em Portugal vence Prémio de Jornalismo

Miguel Castro Freitas assume direção criativa da Mugler

Miguel Castro Freitas assume direção criativa da Mugler

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Kia EV6 remodelado: mais autonomia e tecnologia

Kia EV6 remodelado: mais autonomia e tecnologia

Descoberta revolucionária sobre a doença de Parkinson pode abrir caminho a novos tratamentos

Descoberta revolucionária sobre a doença de Parkinson pode abrir caminho a novos tratamentos

Salão do Móvel: design e inovação em Milão

Salão do Móvel: design e inovação em Milão

CARAS Decoração: as novas peças desenhadas pelos irmãos Bouroullec para a Vitra

CARAS Decoração: as novas peças desenhadas pelos irmãos Bouroullec para a Vitra

45 anos de Jornal de Letras

45 anos de Jornal de Letras

'Bora dançar hip hop?

'Bora dançar hip hop?

Um olhar incontornável ao papel das comunidades

Um olhar incontornável ao papel das comunidades

Mais vale prevenir do que fechar

Mais vale prevenir do que fechar

Guia de essenciais de viagem para a sua pele

Guia de essenciais de viagem para a sua pele

CARAS Decoração: residência artística no coração do Marais em Paris

CARAS Decoração: residência artística no coração do Marais em Paris

Sede da PIDE, o último bastião do Estado Novo

Sede da PIDE, o último bastião do Estado Novo

PRIO - Exame Informática - PEUGEOT: as melhores imagens no Oeiras Eco Rally Portugal

PRIO - Exame Informática - PEUGEOT: as melhores imagens no Oeiras Eco Rally Portugal

Em

Em "A Herança": Sofia tem crise de ciúmes

O futuro começou esta noite. Como foi preparado o 25 de Abril

O futuro começou esta noite. Como foi preparado o 25 de Abril

Rússia ataca alvos civis na Ucrânia e EUA reagem:

Rússia ataca alvos civis na Ucrânia e EUA reagem: "Ultrapassa todos os limites da decência"

Água, por favor!

Água, por favor!

Exposição em Paris: ‘Lisboa não sejas francesa’

Exposição em Paris: ‘Lisboa não sejas francesa’

Artrite reumatoide: tudo o que precisa de saber sobre esta doença

Artrite reumatoide: tudo o que precisa de saber sobre esta doença

Asus Zenscreen Smart MS27UC em teste: Este monitor também é uma 'mini-TV'

Asus Zenscreen Smart MS27UC em teste: Este monitor também é uma 'mini-TV'

Bárbara Branco e José Condessa em cenas eróticas em

Bárbara Branco e José Condessa em cenas eróticas em "O Crime do Padre Amaro"

Caras conhecidas à procura de um verão com estilo

Caras conhecidas à procura de um verão com estilo

Hyundai Inster: novo elétrico 'compacto por fora e grande por dentro'

Hyundai Inster: novo elétrico 'compacto por fora e grande por dentro'

Arnaldo Antunes - Canções do fim do (novo) mundo

Arnaldo Antunes - Canções do fim do (novo) mundo

A VISÃO Se7e desta semana – edição 1675

A VISÃO Se7e desta semana – edição 1675

Evento de moda reúne convidados especiais

Evento de moda reúne convidados especiais

Clima, risco, banca e crédito: o preço da (in)sustentabilidade

Clima, risco, banca e crédito: o preço da (in)sustentabilidade

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Matérias-primas: quatro portugueses entre os 47 projetos estratégicos da UE

Matérias-primas: quatro portugueses entre os 47 projetos estratégicos da UE

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Tarifar, retaliar, tarifar... A história (muito antiga) das guerras comerciais

Tarifar, retaliar, tarifar... A história (muito antiga) das guerras comerciais

Quadruplicaram as emissões poluentes para produção de chips de Inteligência Artificial

Quadruplicaram as emissões poluentes para produção de chips de Inteligência Artificial

Myanmar: O sismo pelos olhos de uma portuguesa

Myanmar: O sismo pelos olhos de uma portuguesa

Google Pixel 9a em análise: É mais barato, tem qualidade e muita Inteligência Artificial

Google Pixel 9a em análise: É mais barato, tem qualidade e muita Inteligência Artificial

Romulus: Como a engenharia genética trouxe o lobo gigante de volta à vida 10.000 anos depois

Romulus: Como a engenharia genética trouxe o lobo gigante de volta à vida 10.000 anos depois

A desenhar é que a gente se entende

A desenhar é que a gente se entende

17 boas exposições para ver em Lisboa, Cascais e Sintra

17 boas exposições para ver em Lisboa, Cascais e Sintra