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Cada país está a fazer o que pode para combater o coronavírus, à medida das suas possibilidades. No caso da Guiné-Bissau, a luta é marcada pelas dificuldades.
No primeiro de uma série de artigos sobre como se vive a quarentena fora de Portugal, a ACTIVA falou com Rufino Mendes, diretor financeiro numa organização humanitária. Num cenário de estado de emergência – decretado até 26 de abril e com alta probabilidade de vir a ser prolongado – o jovem, de 27 anos, explica que o mais difícil é fazer com que as pessoas respeitem as restrições em vigor.
Além de estar a atravessar um período de crise política, esta é considerada uma das nações mais pobres do mundo, na qual comércio informal predomina. “Uma grande parte da população não tem um salário mensal e vive das vendas diárias”, ou seja, os agentes que atuam nesse contexto, na sua maioria mulheres, sofrem um impacto direto. “O medo de passar fome e de não ter dinheiro para o dia seguinte fez com que a adesão ao distanciamento social fosse lenta,” explica.
Leia a entrevista, na íntegra, abaixo.
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Que medidas de distanciamento social estão em vigor na Guiné-Bissau?
Basicamente, consistem em restrições no horário de circulação. Numa fase inicial, para a compra de bens essenciais, foi estipulado entre as 7H e as 11H. Mas, a partir de 20 de abril, foi alargado até ao meio-dia. Ainda não é obrigatório usar máscaras e as pessoas devem manter um metro de distância umas das outras.
Consideras que tem sido feito um bom trabalho no combate ao surto pandémico?
A Guiné-Bissau tem um sistema de saúde precário e, dentro das suas limitações, penso que os agentes de saúde têm dado o seu máximo. Ainda não começaram a fazer a distribuição de máscaras e de luvas, mas têm distribuído lixívia e baldes de água pela capital [Bissau]. Além disso, vão começar a entregar materiais de limpeza no interior do país.
Como é que os guineenses estão a encarar a situação?
Até agora, há pessoas que não acreditam na existência da COVID-19. Dizem que, apesar de haver 53 casos confirmados, ainda não há provas. Portanto, associam o relatório de situação a uma manipulação política, cujo objetivo será angariar fundos internacionais para o governo. Mas, de um modo geral, há um espírito de união e de esperança.
“EU E A MINHA FAMÍLIA ESTAMOS A SENTIR O IMPACTO DA QUARENTENA. MAS PODEMOS ESTAR GRATOS, PORQUE A SITUAÇÃO NÃO PREJUDICOU OS NOSSOS SALÁRIOS E CONTINUAMOS A TER COMIDA.”
No teu caso, é possível estar em regime de teletrabalho?
Sim, mas não tem sido o caso. Devido à minha função, as medidas não são tão restritas. Tenho ido ao escritório cerca de três ou quatro vezes por semana.
Quanto às nossas atividades profissionais, estão a ser afetadas. Nós trabalhamos no ramo de segurança de armas e munições militares, e está tudo parado.
Como é ter de sair de casa em tempos de quarentena?
Só saio por motivos profissionais e tenho notado que muitas pessoas não cumprem o distanciamento social. Os mercados e os bancos continuam completamente cheios. A restrição da circulação entre as 7H e as 12H não me parece ser a medida ideal, porque causa aglomerações de pessoas, que é o oposto daquilo que se pretende.
Neste momento, do que sentes mais falta?
Sinto falta de ter liberdade. O ser humano é um ‘animal social’ e, portanto, tenho saudades das interações com outras pessoas e das gargalhadas com amigos.
Que lição estás a aprender com o isolamento?
Só há duas coisas que realmente têm o valor: a saúde e o tempo. Basta termos isso. Tudo o resto são coisas fabricadas e podemos correr atrás delas.