
Elisabete Barros tem 26 anos e é estudante de música em Londres, Inglaterra, mas é a partir de Macau que nos escreve. A sua família vive no país asiático desde 1995 e, com a disseminação do novo coronavírus, não teve dúvidas: decidiu regressar a casa.
“Sinto que as medidas tomadas pelo governo foram as mais adequadas, comparativamente a outros países. Mesmo estando fora, recebia e-mails do governo a dar-me opções para encomendar máscaras a baixo custo, que poderiam ser enviadas pela minha família, por correio, para Inglaterra,” conta-nos.
Ao chegar a Macau, a jovem foi levada para um hotel, onde ficou hospedada durante 14 dias, sem ter contacto com o exterior. Este é um procedimento comum no caso dos viajantes, cujo objetivo é garantir que não surgem novos casos fora das unidades hoteleiras designadas para a quarentena. “Mediam-me a temperatura corporal todos os dias. Além disso, fui sujeita a dois testes da COVID-19, mesmo não apresentando sintomas. Ambos deram negativo.”

Que medidas de distanciamento social estão em vigor em Macau?
As pessoas estão em casa desde janeiro e só recentemente, em março, é que puderam voltar a uma situação mais próxima da normalidade. Nos transportes públicos, o uso de máscaras é obrigatório e, mesmo na rua, não se vê ninguém sem elas.
Consideras que tem sido feito um bom trabalho no combate ao surto pandémico?
O sistema de saúde tem sido impecável! Prova disso é que o número de pessoas infetadas não foi dramático e não há mortes registadas desde 12 de abril. O governo e os agentes de saúde pública também estão a ser essenciais no combate à pandemia. Por exemplo, à entrada nos serviços públicos, temos de mostrar uma declaração de saúde a comprovar que não temos febre e não saímos do país nas últimas duas semanas. Sinto-me segura aqui e sei que, caso fosse contagiada com o vírus, seria bem atendida e tratada.
Como é que os macaenses estão a encarar a situação?
O espírito da população macaense é de solidariedade e união.
“O GRANDE APOIO DADO PELO GOVERNO, TANTO FINANCEIRAMENTE COMO NAS CONTAS DA CASA, TROUXE CALMA À MINHA FAMÍLIA E A MUITAS OUTRAS”

Como é que a pandemia afetou a tua rotina?
Antes disto, eu estava a gravar o meu EP e passava muitas horas fora de casa a trabalhar e a estudar. Entretanto, tive de deixar o meu part-time na área da hospitalidade, porque era muito arriscado.
Como artista, sinto-me bastante prejudicada. Os estúdios estão encerrados e o programa do meu curso teve de ser alterado, o que me deixou bastante frustrada, tendo em conta que estou no último ano e gostava de poder apresentar as minhas músicas ao mundo.
Como é ter de sair de casa em tempos de isolamento?
Depois de completar a quarentena, comecei a sair com os meus amigos, a passear e a tentar distrair-me. Acredito que o risco de contágio é quase inexistente, tendo em conta que as fronteiras estão fechadas e a população cumpriu – e continua a cumprir – as medidas impostas pelo governo.
Neste momento, do que sentes mais falta?
Tenho saudades dos amigos que deixei para trás, da minha cara-metade e das idas ao estúdio. Estou a tentar arranjar um part-time, mas tem sido muito difícil, especialmente no ramo do entretenimento. O mundo está em crise e Macau não é exceção.
Que lição estás a aprender com o isolamento?
Houve uma tomada de consciência da importância do contacto humano e de que aquilo que realmente importa são as pessoas, e não o dinheiro. Nunca mais vou adiar aquele café ou aquele almoço com os amigos, porque nunca se sabe o dia de amanhã.