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Gosto de ficção científica, de distopias, aventuras fantásticas. Basicamente, histórias que testam limites e nos fazem viajar para uma outra realidade, mas nunca nos separando completamente dela. É isso que Zalatune, de Nuno Gomes Garcia, faz.
Nesta obra, publicada pela Editorial Presença, somos levados a um futuro que pode parecer descabido mas que tem uma base sólida e fácil de entender. Imaginem um regime populista corrupto que manipula a opinião pública, uma sociedade conservadora onde os estrangeiros são desprezados e relegados a condição sub-humanas, em que as mulheres continuam a ser vistas como o sexo fraco e o mundo está a ser atacado por uma pandemia. Nuno Gomes Garcia pegou nestes ingredientes e criou a ilha de Ínsula.
Nesta ilha, assistimos a uma narrativa que cativa pelo enredo misterioso e pelas personagens bem construídas, mas que choca pelas situações descritas. Ao mesmo tempo, faz-nos analisar a nossa própria realidade, questionando certas ideologias ou até mesmo fazendo recordar a importância de algumas lutas que têm sido travadas.
A certo ponto, senti que a leitura tinha perdido algum do seu ritmo. Isso pode ter acontecido por excesso de informação em alguns momentos ou até mesmo pelo estilo de escrita do autor, que se prende nos detalhes e nos floreados. Também gostaria que o conceito de “Zalatune” tivesse um desenvolvimento mais explícito, mas entendo que tal possa não ter acontecido para se manter uma aura de mistério quanto ao futuro.
Zalatune é uma distopia relevante e que prova que existem obras nacionais interessantes a serem publicadas dentro deste género.
Sinopse:
Em Ínsula, uma ilha perdida algures no Mediterrâneo, os estrangeiros são inimigos, a procriação é uma missão patriótica (e, por isso, todas as mulheres são obrigadas a ter pelo menos dois filhos), a pena capital foi reinstaurada e a Internet foi substituída por uma Intranet insular.
Naquele que parece ser um regime político verdadeiramente democrático, a vida do primeiro-ministro é acompanhada por câmaras 24 horas por dia, para garantir a total transparência do poder, e são os cidadãos que decidem o futuro do país, sentados no conforto do sofá, através de referendos online. Em 2034, está na mão dos eleitores dar luz verde à decisão de construir um muro e expulsar de vez todos os imigrantes.
Só que o passado insiste em perseguir-nos e o desígnio traçado trinta anos antes por uma criança está prestes a cumprir-se: as pessoas estão a desaparecer e, para trás, deixam um único rasto, um pedaço de papel onde se lê «Parti para Zalatune». O que está a acontecer? Para onde vão as pessoas que desaparecem? Estará a existência de Ínsula condenada?