O Lugar das Árvores Tristes é um livro da Lénia Rufino, Publicado pela editora Manuscrito. Uma história que nos leva para um Portugal profundo da década de 1970, onde as opiniões alheias têm um peso imenso e a igreja exerce uma forte influência em todos os aspetos da vida da população.
Lénia Rufino consegue transportar-nos com mestria para esse ambiente misterioso e reprimido. Logo nas primeiras páginas, senti-me presa à história e com vontade de desvendar os segredos familiares das figuras centrais desta obra. Isabel é a primeira personagem a ganhar destaque, mas é a vida da sua mãe, Lurdes, que nos intriga.
Através de uma escrita bonita, Lénia Rufino apresenta personagens empáticas, cenários reais e uma narrativa credível que tem como base um mistério familiar. É fácil acreditar uma aldeia portuguesa onde uma jovem rapariga vê os seus sonhos desfeitos por algo de que é vítima e não consegue controlar. É fácil acreditar que esta rapariga teve todos os dedos apontados na sua direção quando nada fez para o provocar. É fácil vê-la a lidar com as escolhas de outros quanto à sua vida. É fácil vê-la a tomar consciência do mal que lhe foi feito e a ganhar forças para recuperar o que lhe foi tirado. É fácil vê-la a ceder. Infelizmente, tudo isso é fácil.
Digo infelizmente pois este é um retrato bastante fiel da realidade feminina. Verdade que muito mudou desde a década de 1970, mas a autora faz recordar a luta que as mulheres tiveram (e ainda têm) contra o preconceito, por um julgamento justo e por independência. Admirei a evolução de Lurdes e percebi as dificuldades que enfrentou. Tanto as que conseguiu controlar como as que fugiram do seu domínio.
A história é apelativa e proporciona uma leitura interessada e rápida. O mistério central deixa-nos sempre num impasse e com vontade de ver todas as questões respondidas. Lamento apenas que a conclusão não tenha sido mais desenvolvida, mas entendo que tal pode ter sido uma escolha para não tirar o foco da intriga principal. Lénia Rufino fez uma ótima estreia com este livro.
Sinopse
Isabel não tinha medo dos mortos. Gostava de passear por entre as campas do cemitério, a recuperar as histórias da morte daquelas pessoas. Quando a falta de alguma informação lhe acicatava a curiosidade, perguntava à mãe…
Quando esta se recusa a dar-lhe uma resposta sobre uma mulher chamada Eulália, Isabel inicia uma busca por esclarecimentos. Só que ninguém quer falar sobre o assunto e, Inesperadamente, Isabel vê-se confrontada com uma teia de mentiras, maldade, enganos e crimes que a levam a compreender o passado misterioso da mãe e a forma quase anestesiada da sua existência.
Um romance de estreia profundamente sagaz e envolvente que faz um retrato do interior português preso na tradição religiosa da década de 1970.