Os Melhores Anos é um livro de Kiley Reid, publicado pela Editora Aurora. Uma obra muito elogiada lá fora, tendo vencido o Goodreads Choice Award de 2020 na catergoria de romance de estreia e tendo sido nomeada para o Book Prize no mesmo ano. Distinções que aguçam a curiosidade sobre esta leitura.
Ao longo da trama, vamos acompanhando as visões de duas personagens: Emira e Alix. Através de capítulos intercalados, o leitor fica a conhecer os pensamentos destas personagens, assim como as suas personalidades e motivações. Logo reparamos no grande contraste entre estas duas mulheres.
Emira é uma jovem afro-americana que, perto dos 30 anos, ainda não conseguiu encontrar estabilidade na sua vida. Trabalha como babysitter, vive em constante comparação com as suas amigas, que parecem mais resolvidas, e abstrai-se das preocupações em pequenos momentos de prazer. Já Alix é uma mulher caucasiana que cresceu num meio privilegiado, que desenvolveu um negócio próprio, está casada com um homem de carreira proeminente e tem duas filhas. O que as une? Emira trabalha para Alix.
O contraste entre estes dois mundos sensibiliza o leitor para as diferentes realidades que são vividas em simultâneo. Como somos condicionados pelo meio em que nos inserimos e como tal dita a forma como pensamos e agimos. Tal é especialmente evidente conforme a narrativa do livro se desenrola. Com o passar das páginas, vemos cada uma das personagens a tomar decisões que acreditam ser as melhores, vendo como isso pode afetar de forma negativa os outros, mesmo quando tal não é a intenção.
A dinâmica entre estas duas mulheres cativa. Entre elas e uma outra figura que, entretanto, se intromete entre ambas. Especialmente porque traz ao de cima formas de racismo que raramente são debatidas ou expostas. A autora fala da auto satisfação que por vezes se encontra em se provar que se luta pela igualdade, revelando que muitas vezes tal não é feito pelo bem do outro, mas como alimento do próprio ego. Recorda que existem várias formas de tal acontecer, fazendo o leitor questionar-se e colocar-se em perspectiva.
Através desta obra de ficção, Kiley Reid expõe preconceitos que existem em comunidades que não os admitem ter. Numa história com revelações impressionantes e uma escrita apelativa, o leitor é levado a questionar situações relacionadas com privilégio, etnia e classe, ao mesmo tempo que pensa que uma suposta boa vontade nem sempre conduz à melhor das ações.
Sinopse:
Quando Emira Tucker, uma jovem mulher negra, é acusada de forma abusiva por um segurança de um supermercado de ser uma potencial raptora de Briar, a criança branca de dois anos que a acompanha e da qual é baby-sitter, o acontecimento precipita uma surpreendente cadeia de eventos.
Alix Chamberlain, a mãe da bebé, uma blogger feminista com boas intenções, decide-se a resolver o problema e a compensar Emira, aproximando-se dela o mais que consegue. Esta, contudo, numa fase atribulada de entrada na idade adulta, entre indecisões profissionais e sentimentais e prementes fragilidades financeiras, hesita perante os interesses de Alix.
Quando uma inesperada ligação entre as mulheres é estrondosamente revelada, tudo o que pensam a respeito uma da outra, tudo o que pensam a respeito delas próprias, dos mundos que habitam e das diferentes dinâmicas dos privilégios sociais, será dolorosamente colocado em causa.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.