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O que têm em comum a escritora J. K. Rowling, o génio Einstein, o empresário Bill Gates, o basquetebolista Michael Jordan, a atriz Emma Watson, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, ou o ex-Presidente Barack Obama? Todos pertencem ao clube dos introvertidos. Provavelmente ficou surpreendida, mas isso deve-se ao facto de atualmente estarmos a ser bombardeados com a ideia de que o sucesso e a felicidade só se conquistam se formos exuberantes, tivermos uma legião de amigos (dentro e fora das redes sociais) e uma agenda superocupada, sem tempo para estar sozinha. Ora, se esta descrição para um extrovertido é o paraíso na Terra, para um introvertido – seja ele adulto ou uma criança – a vida nestes moldes é simplesmente um inferno. Passamos a explicar porquê.

EXTROVERTIDO VS INTROVERTIDO
Estes dois termos nasceram no princípio do século XX, pela mão de Carl Jung, e designavam dois tipos de personalidade. Segundo o psicólogo suíço, é extrovertido quem anseia pelo mundo exterior e ganha energia estando em situações onde haja muitas pessoas em grande atividade.
Já os introvertidos, apesar de gostarem da companhia de outras pessoas, perdem energia em ambientes com muitos estímulos com muita gente, cheios de luz e sons altos. Estes recarregam baterias quando passam tempo sozinhos, são pessoas mais reservadas, observadoras e a sua atividade favorita é solitária, mesmo que seja a correr ou estar enrolado no sofá com um livro ou com o iPad. Não são difíceis de identificar: em grandes festas, são os que estão num pequeno grupo; numa sala de aula, são os que querem vestir o manto de invisibilidade do Harry Potter quando o professor procura um voluntário para ir ao quadro, mesmo que saibam a matéria de trás para a frente.
Uns não são melhores ou piores do que os outros, mas hoje “vivemos numa sociedade que assenta no paradigma da competitividade, do sucesso e do reconhecimento mais pelo olhar do outro do que pela bitola interna, uma espécie de ‘sociedade do espetáculo’, e isso é um verdadeiro desafio para os introvertidos”, diz a psicóloga Joana Ferreira Alves, da clínica Canto da Psicologia. “Em consulta, encontramos frequentemente dois cenários: os pais que têm dificuldade em aceitar características de introversão, porque não se identificam de todo ou porque se identificam de mais, projetando nas crianças as suas expectativas, dificuldades ou receios; e outros que, não querendo transformar a personalidade dos filhos, e até podendo valorizar estas especificidades, vêm muito assustados pela pressão exterior.”
Para Susan Cain, autora (e introvertida confessa) dos ‘best-sellers’ ‘Silêncio, o Poder dos Introvertidos num mundo que não para de falar’ e ‘Poder silencioso, as capacidades secretas dos introvertidos’, as crianças com este tipo de personalidade (injustamente chamadas de ‘bichos do mato’) devem ser elogiadas em vez de pressionadas a mudar, porque a sua introversão não significa que vivam alheadas do mundo, significa que “são fantásticas na concentração, usam a solidão para pensarem profundamente sobre determinados assuntos e são extremamente criativas. Como são boas ouvintes, podem ser ótimas líderes, porque também inspiram confiança”.


TIMIDEZ = INTROVERSÃO?
Não, são duas coisas distintas. “Enquanto a introversão tem a ver com um registo de personalidade, um traço que funciona como um marcador na forma de a criança estar ou se relacionar, a timidez é uma espécie de resposta associada a situações específicas (geralmente relacionadas com um contexto social). Uma criança tímida pode ter alguma dificuldade num primeiro contacto com uma turma nova, mas irá rapidamente integrar-se e funcionar num registo extrovertido; já uma introvertida na mesma situação, pode conviver desde logo com os colegas, embora tenda a isolar-se ou a eleger um ou outro com quem se identifique mais”, esclarece a psicóloga. Quando está nas aulas, por exemplo, uma criança tímida é aquela que não levanta a mão quando o professor questiona a turma, porque tem medo de que a sua resposta esteja errada e fica envergonhada com a mera possibilidade de isso acontecer; a introvertida é aquela que não sente necessidade em participar, está concentrada a ouvir, a processar informação e não quer ser o centro das atenções.

OS CINCO SENTIDOS
Sabia que os cérebros dos introvertidos e dos extrovertidos não processam os estímulos sensoriais da mesma maneira? Foram realizadas várias experiências que comprovaram que estes dois tipos de personalidade reagem de maneira diferente a sons, a luzes e até a sabores. Em relação ao paladar, os introvertidos reagiram mais, produzindo mais saliva, aos sabores ácidos e doces. E, quando colocados perante problemas matemáticos num ambiente de trabalho com níveis variáveis de ruído, os introvertidos tinham melhores resultados quando havia menos ruído, enquanto os extrovertidos viam o seu desempenho aumentar na situação contrária.

QUANDO OS PAIS SÃO EXTROVERTIDOS
“Quanto maior for a pressão dos pais, da escola ou do grupo para que as crianças funcionem num registo diferente, maior é a probabilidade de as dificuldades surgirem”, alerta a psicóloga. É claro que a procura de isolamento por parte de algumas crianças pode ter a ver com ansiedade ou mal-estar, e os pais têm de estar atentos e recorrer a ajuda profissional para despistar a razão dessa ansiedade ou de uma possível depressão. Felizmente isso não é a regra, pois por vezes tem a ver com ‘feitios’ diferentes, e isso foi o que aconteceu com Cláudia Marques e o filho, de seis anos. Preocupada com a aparente falta de amigos do filho, Cláudia resolveu organizar-lhe uma festa de aniversário de arromba, pensando que iria ficar radiante com a surpresa. Convidou família, amigos e todos os colegas de turma, alugou castelos insufláveis e pôs a sua aparelhagem ‘hi-fi’ ao serviço, com música bem alta para o karaoke que ela adorava. Qual não foi o seu espanto – e tristeza – quando viu os amigos do filho aos pinotes e gritos, a divertirem-se, e Frederico, longe da algazarra, a dar toques de bola com o primo, com quem costumava brincar.
Todas as suas tentativas de o juntar às outras crianças saíram goradas. Frustrada e preocupada, Cláudia decidiu procurar ajuda, porque achava que o filho só podia estar triste e queria saber o que estava na sua origem. Depois de a psicóloga falar com ela e com o filho e de lhe revelar a razão da reação dele a todos aqueles estímulos, foi um admirável mundo novo que surgiu diante de si: o filho processava toda aquela informação sensorial de maneira diferente da sua. As duas personalidades eram completamente opostas: ele era introvertido e ela extrovertida. Ou seja, o que a ela dava energia, a ele fazia-o entrar em sobrecarga, daí as birras, as rabugices e a necessidade de isolamento. O que se seguiu desde então fez com que a vida de ambos se tornasse menos stressante: passou a dar ao filho o tempo e o espaço de que ele precisava para recarregar baterias, parou de organizar e de se preocupar com a vida social dele e percebeu que ele era feliz só com os seus dois fiéis amigos.

10 SINAIS DE QUE AS CRIANÇAS SÃO INTROVERTIDAS
. Gostam de estar sozinhas.
. Preferem passar o tempo com um ou dois amigos do que num grupo grande.
. Sentem-se cansadas depois de sair com amigos, mesmo que se tenham divertido.
. Preferem celebrar o seu aniversário com a família mais próxima e um ou dois amigos do que ter uma grande festa.
. Preferem escrever um e-mail ou sms do que falar ao telefone com alguém que não conhecem bem.
. Preferem não fazer nada ao fim de semana do que ter a agenda cheia de atividades.
. Evitam conflitos.
. Não gostam de mostrar o seu trabalho até estar concluído.
. Preferem trabalhar sozinhas.
. Não gostam de ser chamadas nas aulas.


COMO AJUDÁ-LAS…
… a atingir o seu potencial máximo num mundo cheio de estímulos.
. Se estão bem na escola mas regressam a casa rabugentas e implicativas, isso pode ser um sinal de exaustão emocional; dê-lhes tempo para recarregarem baterias sozinhas.
. Seja flexível na escolha das atividades extracurriculares. Se adoram natação e estar dentro de água mas stressam num ambiente com muitas crianças, procure um horário menos frequentado ou lições privadas.
. Se querem estar sozinhas a brincar com Legos, a ler, ou a pintar, respeite esses momentos.
. Não force o convívio. Pergunte-lhes primeiro se lhes apetece brincar com um amigo e prefira que seja em sua casa, porque é mais confortável para ela, ou então procure um sítio calmo fora de casa.
. Nas festas para as quais são convidadas, procure saber se se sentem mais à vontade se forem em locais ao ar livre, menos barulhentos, se vai o melhor amigo, e prometa ir buscá-las ao fim de uma hora em vez das três ou quatro da praxe.
. Reforce a sua autoestima dizendo-lhes que ser tranquilo é um superpoder invisível; que ser introvertido não é nenhum entrave a um futuro brilhante. Para além dos exemplos que já lhe demos acima, há muitos outros: o empresário multimilionário Warren Buffett, o ator de ‘Indiana Jones’, Harrison Ford, o Presidente Lincoln, a atriz Nicole Kidman. Lembre-lhes que muitas das boas ideias resultam do pensamento quando se está sozinho e que não é preciso ter uma personalidade efusiva para liderar, basta lembrarmo-nos de Gandhi ou Mandela.
. Não deixe que a introversão sirva de desculpa para não se tentar coisas novas. Tente a ‘teoria do elástico’ e ajude-as a criar novos desafios, de forma a saírem um pouco da zona de conforto. Mas lembre-se de que deve dar pequenos passos e que não tomem muito tempo, porque se o esforço for excessivo o tal elástico pode ‘rebentar’ ou ‘perder a forma’.

BOAS NOTAS COM SOLUÇÕES TRANQUILAS
Até o ambiente escolar atualmente parece estar pensado para ‘alimentar’ os extrovertidos: valoriza-se muito o trabalho de grupo, dão-se notas pela participação nas aulas e durante os intervalos o ruído e a confusão imperam. Mas também os introvertidos querem ter boas notas e não ser prejudicados pelo sistema, por isso há que dar-lhes ferramentas para que possam brilhar… com calma:
. Se sabe que irão debater um determinado tema ou fazer uma apresentação oral, os alunos podem preparar o discurso em casa, ao seu ritmo.
. Peça ao professor para não serem os primeiros a ir ao quadro ou a responder a alguma pergunta. Os extrovertidos pensam em voz alta, já os introvertidos gostam de pensar antes de falar e se o professor lhes der algum tempo para pensar ficarão menos nervosos.
. Ensine-os a fazer anotações, para que na altura em que tem de falar na aula possam consultá-las e não ter medo de perder o fio à meada.
. Nos trabalhos de grupo, o/ introvertido/a pode sugerir aos colegas que pensem em silêncio durante cinco minutos para depois discutirem melhor o tema. Assim tem tempo para organizar as ideias.
. Pergunte-lhes se não há um sítio calmo onde possam retemperar energias durante os intervalos.
. Os/as introvertidos/as têm de perceber que quanto mais vezes sairem da sua zona de conforto, nem que seja por cinco segundos, menos desconfortável será ao longo do tempo.






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