Esta semana, Joana Marques dedicou dois episódios da sua rubrica na Rádio Renascença, “Extremamente Desagradável”, ao aumento do discurso machista e preconceituoso entre as camadas da população jovem-adulta.
A humorista analisou um podcast no qual três homens falam sobre o papel das mulheres da sociedade, sobre as atitudes que reprovam e as qualidades que procuram numa companheira.
“Sendo já um bocadinho spoiler: os homens são para trabalhar, as mulheres são para estar em casa; elas são interessantes se forem bonitas, eles são interessantes se forem ricos”, diz Joana Marques logo no início deste episódio, como forma de introduzir a linha de pensamento da conversa do podcast que escolheu comentar.
Ao longo do episódio, a humorista brinca com o discurso dos jovens, ao mesmo tempo que faz acusações subtis ao discurso conservador e retrógrado.
Nas redes sociais são muitas as mensagens de ouvintes que dizem ter rido com a emissão, mas também muitos a referirem que a ideologia apresentada pode ser perigosa para as mulheres e para as liberdades que já conquistada numa sociedade que continua a apresentar desigualdades.
Estudos comprovam o aumento das ideologias conservadoras entre os homens da Geração Z
No início do ano já havia artigos com dados estatísticos que confirmavam o aumento de ideologias conservadoras entre as gerações mais novas, o que acaba por ter reflexo nos comportamentos adotados no espaço social, relações familiares e escolhas políticas.
“A Geração Z [nascidos entre 1997 e 2012] procura uma visão política que satisfaça a sua nostalgia por temas que nunca conheceu: o casamento, a vida paroquial ou o orgulho nacional”, diz Imogen Sinclair, diretora do New Social Covenant Unit, um grupo do Reino Unido defensor dos valores familiares, em declarações à revista New Statesman.
Entre os homens da Geração Z, há quem veja o feminismo como prejudicial. Segundo dados obtidos durante o mês de agosto de 2023 pela Ipsos, uma multinacional francesa de estudos de mercado, 16% dos homens entre os 16 e 29 anos acredita que o feminismo não traz benefícios, ao contrário de 38% que diz que é benéfico.
Rosie Campbell, professora do Global Institute for Women’s Leadership do King’s College diz que “o facto de esta geração ser a primeira a obter a maior parte das suas informações através das redes sociais é, provavelmente, uma forma de justificar esta posição”. “Os jovens ouvem muito sobre o feminismo, mas não compreendem o que é, não entendem, por exemplo, o que é desigualdade no trabalho ou no cuidado dos filhos”, acrescenta, ao The Guardian. Em contrapartida, estes jovens acabam por criar ligação com personalidades, políticas, comportamentos e ideais que têm uma maior ligação a valores considerados machistas.
Richard Reeves, autor do livro “Boys and Men”, diz que os jovens lutam para encontrar motivação e um significado para as suas vidas, numa sociedade onde se assiste ao enfraquecimento dos laços sociais, apatia nas ambições profissionais e sentimentos generalizados de solidão. Procuram saber onde se enquadram numa realidade que enfrenta mudanças rápidas, tentam adaptar-se às novas normas sociais, a novos requisitos comportamentais, vivem incerteza quanto ao futuro devido à precariedade, à crise na habitação e às alterações climáticas.
Perante esta desorientação, os jovens masculinos da Geração Z procuram agarrar-se a modelos positivos e encontram respostas para algumas das suas inquietações em modelos conservadores.
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