
Fala-se pouco na morte, mas ainda se fala menos na morte de um animal. Parece que nos envergonhamos de achar que um cão ou um gato pode fazer parte da nossa família, pode ter entrado na nossa vida e no nosso coração. Como afirma a autora, Millie Jacobs, “é uma dor silenciosa, solitária e incompreendida”.
É rara a pessoa que não tenha um animal na sua vida, é raro o humano que, como dizia Rudyard Kipling, nunca tenha tido o coração dilacerado por um cão. Ou um gato. (Aliás, já que estamos com a mão na massa, vão ler um dos livros mais lindos sobre animais algumas vez escritos, as ‘Histórias Assim’ – existe em Portugal publicado pela Bertrand – principalmente a história do ‘Gato que andava sempre sozinho’, que conta como os gatos se juntaram à ‘tribo humana’).
“Os animais com quem partilhamos a nossa vida não são apenas ‘animais de estimação’. São amigos, companheiros, almas gémeas,” nota Millie Jacobs. E quando desaparecem, o princípio do luto é reconhecer a sua importância, o que significaram para nós, o que levaram com eles.
As pessoas raramente oferecem apoio a quem perdeu alguém. “No entanto, ainda mais raramente oferecem cuidados àquelas que perderam os seus animais de estimação. Talvez considerem a perda de um animal menos significativa do que a de uma pessoa (e claro que é diferente) mas os animais de estimação são membros da família.”
Quando morre um animal muito querido, tentamos muitas vezes continuar como se não tivesse acontecido nada. E muita gente se sente culpada por achar que não deve sentir o que sente: falta de motivação, cansaço, incapacidade de tomar decisões, sentir-se perdido. Afinal, era ‘só’ um cão. As pessoas ao lado reviram os olhos. Não é como se tivesse perdido um marido ou um filho… Mas a verdade é que não é ‘só’ um cão: era um amigo, uma companhia, um elemento da nossa família. Se não nos sentirmos destroçados com a sua morte, é porque não significava nada para nós.
Depois de uma perda, as fases que cada pessoa atravessa serão diferentes. Cada dor é única, tal como cada pessoa e cada animal é único. O caminho, geralmente, é longo. Mas é uma viagem que transforma para sempre quem a faz.
Aqui se contam muitas histórias de humanos e animais e se discutem assuntos muito úteis para quem está a braços com a perda de um amigo animal. Como lidar com a dor, como resolver questões práticas, como voltar ao trabalho, como usar as redes sociais, como apoiar outras pessoas na mesma situação, o que não dizer, como falar com as crianças.
A autora apresenta ainda um programa de 31 dias, ao longo do qual acompanha os donos. Algumas ideias para lida com o luto são:
– “Falar é fundamental para que o cérebro e o coração aceitem o que aconteceu.”
– Escolher corajosamente ser vulnerável
– Falar com quem passou pelo mesmo e que vai entender.
– Não fugir do desgosto: encarar a dor.
– Não tentar controlar o luto, como não controlamos o amor ou a morte.
– Ouvir a voz que lhe diz ‘você vai conseguir fazer isto e sobreviver’.
– Focar-se naquilo que gosta de fazer, encontrar tarefas positivas, concentrar-se na próxima hora.
A saudade desaparece? Não. Mas, afirma Millie, “A dor deixou de ser uma inimiga e tornou-se uma companheira silenciosa, até que chegou o momento em que começou abandonar a minha vida, deixando apenas o amor na sua esteira.”
O luto por um animal de estimação – guia para superar a perda – Millie Jacobs, Asa, E13,41