Ora digam lá, mesmo quem se interessa por História de Portugal: alguma vez tinham ouvido falar de D. Catarina, pretendente ao trono de Portugal na altura em que Filipe de Espanha cá veio? Se forem como eu, na melhor das hipóteses tinham estudado a coisa por alto. Geralmente não nos interessamos muito pelos Filipes (sempre vistos em bloco, como se fosse um rei com três cabeças) e temos vários preconceitos contra todos eles sem conhecer nenhum muito bem.
Isabel Stilwell quis mostrar-nos a pessoa por trás do rei (o primeiro de Portugal, não os outros) e traça o retrato de um homem poderoso e muitas vezes duro mas também um pai muito próximo e muito preocupado com os filhos, e principalmente com as duas filhas mais velhas, a quem escreveu muitíssimas cartas que sobreviveram até hoje.
Mas a heroína de todo o livro é sem dúvida alguma Catarina, uma das pretendentes ao trono português, e que talvez tivesse lá chegado se não fosse mulher e tivesse tido um marido que a apoiasse, mas que mesmo assim deu toda a luta que pôde – e que havia de ser avó do próximo rei português, D. João IV.
Aqui ficamos a conhecer uma mulher corajosa, destemida, lutadora, uma mãe de 9 filhos que mesmo assim não parava quando se tratava de defender os seus direitos (de certa maneira, uma heroína feminista à sua maneira).
Este não é um livro ‘patriótico, é um livro de aventuras e um romance que não chega a acontecer porque nunca saberemos se de facto aconteceu. Sabemos que Filipe chegou a propor casamento a Catarina quando esta enviuvou, numa idade em que ela já não podia ter filhos, casamento que ela recusou para não perder o seu direito e dos seus filhos ao trono português. Catarina e Filipe têm os dois vidas longas, corajosas, aventureiras, cheias de congeminaçõs, traições, e esquemas, e o livro também nos traz muitas outras personagens interessantes, como a ‘boba’ Madalena, a princesa de Eboli, Isabel Clara Eugénia, a filha mais velha de Filipe, a madrasta Ana de Áustria e os cortesãos, embaixadores e nobres que enchiam as cortes de Espanha e Portugal.
Em resumo, não se deixem amedrontar pelas suas quase 600 páginas, porque é uma história de família, um romance, um relato de intrigas palacianas e uma disputa de direitos, tudo num só livro. Muito interessante até para quem sempre teve negativa a História.