Como avisa a autora, ‘A secretária de Churchill’ (Saída de Emergência, E18,80) não é um romance histórico nem pretende sê-lo. É uma mistura de factos e ficção.
O livro nasceu quando Susan Macneal visitou as Salas de Guerra do Gabinete, em Londres, e ouviu a leitura das recordações de uma das jovens secretárias de Churchill. Percebeu então que tinha ali a ideia para um romance. Baeando-se em recordações das mulheres que trabalharam com Churchill nos anos da guerra, criou a história de Margaret Hope, uma jovem americana apaixonada por matemática, com um dom natural para decifrar códigos, que fica em Londres quando a segunda guerra começa e arranja trabalho como secretária do primeiro ministro, numa altura em que as mulheres tinham profissões como secretárias ou enfermeiras mas a quem ninguém entregava tarefas complicadas, perigosas e arriscadas como desvendar conspirações.
Contado assim, o livro parace entusiasmante. E talvez a culpa seja minha, porque ia à espera de um tipo de livro que se calhar não é este (se calhar devia ter ido ler as verdadeiras memórias de alguma das secretárias do Churchill).
Não é que não seja bom: é. Lê-se muito bem, está bem pesquisado, bem traduzido, tem assuntos originais como a vida e a importância dos bailarinos durante a Guerra, e está sempre a acontecer qualquer coisa. É daqueles livros que se pensa que chegou ao fim e aquilo ainda vira. Para mim, o problema é que gostava de ter sabido mais sobre Churchill e menos sobre Maggie, mais sobre a Guerra em si e menos sobre a conspiração irlandesa (embora admito que seja um tema original e pouco tratado), e que a certa altura havia tanta movimentação e tantos atores em cena que se tornava francamente cansativo. Mas admito que uma leitora mais nova fique empolgada com tanta ação.
Aqui há espiões, assassínios, mortes, mortes que não aconteceram de verdade, duplas identidades, pais ocultados, tias gay, perseguições, raptos, bombardeamentos (como não podia deixar de ser), e a páginas tantas começamos a pensar que o raio da guerra nunca mais acaba.
É interessante que a autora tenha mostrado como a guerra abriu a porta às mulheres numa série de atividades, mas convenhamos que isso já está um bocado visto. Uma mulher matemática também é original, embora, não se sabe bem porquê, a personagem em si não soar muito credível. A parte da matemática ser uma atividade fria e racional contra a irracionalidade da morte e do sofrimento também é interessante mas lá está, também não é nada que já não tenhamos visto.
De qualquer maneira, é um livro cativante, interessante de ler, e uma boa ideia para quem não quer um clássico sobre a guerra ou uma leitura muito parada. Ah, e vêm aí mais aventuras de Maggie.
‘A secretária de Churchill’ – Susan Elia MacNeal, Ed. Saída de Emergência, E18,80