‘A criada’ (Freida McFadden – Alma dos Livros, E19,45) foi o livro-sensação dos últimos tempos, e justifica-se: lê-se rapidamente e a autora consegue mesmo fazer com que o seu leitor fique preso à história capítulo após capítulo.
Então, a história: recém-saída da prisão e a precisar desesperadamente de um emprego, Millie aceita ser empregada doméstica interna de um casal aparentemente encantador, Nina e Andrew. As coisas cedo azedam: Nina é imprevisível e oscila entre simpática e insuportável, tornando a vida de Millie um inferno. O marido tenta aplacar os ânimos mas não consegue, a filha do casal é uma fedelha mimada que ninguém merece, e o jardineiro italiano, que mal fala inglês, tenta avisar Millie do perigo que corre, o que só a assusta mais.
O cenário não ajuda: a casa de família é grande e luxuosa, mas o quarto de Millie fica no sotão, é minúsculo e a porta tranca-se por fora sozinha, deixando-a sufocada e claustrofóbica. Em breve a tensão aumenta entre empregada e empregadores, e começarmos a pensar como é que a pobre Millie se vai safar deste inferno e duma patroa à beira da insanidade mental.
Enfim, quem já é versado em policiais percebe rapidamente que não lhe estão a contar a história toda, que nada daquilo é o que parece, e é ainda mais óbvio quem é que não é mesmo aquilo que parece. Portanto, aí não há surpresas (como digo, para quem já for versado em policiais). O que é surpreendente é a forma como a autora consegue mostrar como a nossa visão das coisas pode ser deturpada por aquilo que achamos que é verdade, pelos estereótipos, pela superfície das coisas, pela imagem que passamos. Isso é o mais interessante deste livro. Quantas vezes não julgamos uma situação sem sabermos de facto como é a vida daquelas pessoas, quantas vezes não julgamos uma pessoa sem a conhecermos?
Resta acrescentar outra informação interessante: Freida McFadden é médica e especialista em lesões cerebrais, o que sem dúvida lhe deu bastantes conhecimentos sobre psicopatas.