Há livros que, mais do que romances ou histórias, são murais. Neles encontramos pessoas, classes ou vidas descritas de forma tão real que saímos dali com a verdadeira sensação de termos feito uma visita de estudo. Este é um deles.
O ‘objeto de estudo’ de ‘A casa de Pineapple Street’ (Jenny Jackson – Asa) é o mundo dos super-ricos, contado e descrito por alguém que o conhece muito bem. Bem-vindos à casa da família Stockton. O leitor aqui é um privilegiado, porque nem toda a gente tem acesso ao mundo dos Stockton (não ue o quisessemos, depois disto). Reis e rainhas da alta sociedade nova-iorquina, têm vidas preenchidas com golfe, ténis e iates, bailes de máscaras, organizações de ‘eventos’ e clubes privados. Tudo se celebra com um jantar temático para encher vidas sem rumo.
O mundo dos Stockton é visto de três ângulos femininos: a mulher que nasceu com dinheiro, a que casou com dinheiro e a que quer libertar-se dele. Acompanhamos Darley, a filha mais velha, que sacrificou a herança e a carreira por amor, Georgiana, a mais nova, que se envolve com um homem casado, e Sacha, a cunhada, a intrusa que não consegue perceber as regras do clã.
A casa – em ruas de Brooklyn com nomes de frutas, todas de famílias ricas – é ao mesmo tempo um cenário e um símbolo. Antiga e cheia de ‘tralha’, ela simboliza a ligação da família aos seus antepassados, mas também a sua incapacidade para se abrirem ao mundo, para pensarem de outra maneira, para serem mais acolhedores e arejados. O dinheiro serve para proteger mas também para infantilizar, e não admira que haja quem se revolte e quem queira escapar. Problema: é difícil.
De qualquer maneira, há membros mais novos da família que se revoltam e conseguem ver como há coisas que não funcionam. Este é um mundo onde as famílias não comunicam: ou o fazem através do ténis: “Quando ão conseguiam falar, jogavam. Naqueles anos em que Georgiana não tinha sequer a certeza de que a mãe gostasse de si, sempre soubera que, pelo menos, aprovava a sua forma de jogar.”
Também há as que são integradas pelo casamento, mas que permanecem sempre, de alguma maneira, outsiders, estrangeiras e espantadas, como Sasha: “ Para Tilda Stockton, uma noite nunca ficaria completa sem uma visão, um tema, um arranjo artístico da mesa e um código de indumentária. A Sacha, tudo isto dava vontade de se esconder debaixo de um monte de guardanapos de cocktail com monogramas bordados.”
O mais divertido, além das descrições (leiam a parte em que os velhos-ricos chocam com os neo-hippies) é perceber como este mundo estático choca de frente com questões como o amor, por exemplo, quando a realidade do que se sente se arrisca a fazer estourar a bolha do cenário social. Não, não é Jane Austen. Mas é, mesmo assim, muito enriquecedor. Desculpem o termo.
“A casa de Pineapple Street” – Jenny Jackson, Asa, E17,91
