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Pronto, toda a gente sabe: não gostamos muito de nós próprios. Se calhar este ‘toda a gente sabe’ foi pessimista, porque de certeza que há quem goste bastante de si próprio, felizmente. Mas muitas vezes, principalmente as mulheres, crescemos com aquela sensação de que podíamos ser melhores, melhores pessoas, melhores mães, melhores, enfim, tudo. É esse o tema de ‘O ódio a si mesmo’, onde o ‘filósofo da vida quotidiana’ Alain de Botton reflete sobre aquilo a que chama ‘uma das maiores causas da nossa infelicidade’.
Uma das primeiras frases resume tudo: “O ódio a si mesmo é o fruto amargo de uma ideia enraizada de como deveríamos ser.”
Num mundo de redes sociais, exposição, aparência e superficialidade, parece especialmente difícil lidar com este espelho avariado, que nos troca as voltas e nos sobrecarrega de expectativas absolutamente surreais.
Se já estão a revirar os olhos e a dizer ‘ó não, outro livro de autoajuda’ podem pelo menos dar aqui o benefício da dúvida, porque em nenhum momento vos vão dizer como aumentar o vosso amor-próprio. Aliás, o autor nota uma diferença entre amor-próprio (a maioria de nós não consegue ver a maravilha de ser humano que essas teorias nos encorajam a ver) e auto-aceitação, compatível com a nossa tristeza e desconfiança.
Uma das partes mais interessantes do livro é descobrir porque é que a criação de um adulto mentalmente saudável pode ser tão complicada, e a relação que, para sermos (bons) pais, é preciso estabelecer entre a criança que fomos e a que temos nas mãos. Ou seja, para algumas pessoas, entre elas e a sua infância erguem-se barreiras difíceis de transpor. Como vão, depois, conseguir pôr-se na pele de outro ser humano que ali está em toda a sua fragilidade?
Mas este não é um livro pessimista: por muito que não gostemos de nós, há sempre esperança. E a cura passa precisamente pela liberdade de nos irritarmos com quem nos fez mal. Como afirma Alain de Botton, “o ódio a nós mesmos pode ter sido um traço dominante no passado, mas não precisa de ser o nosso futuro.”
Claro que há muito mais sobre o assunto. É um livro pequeno, mas muito sábio. Vão lá ler, fazem favor.
‘O ódio a si mesmo’ – Alain de Botton, D. Quixote, E15,90