A maioria dos casais envergonha-se secretamente das suas discussões, diferenças e divergências. Rita e Guilherme não só não se envergonham como as tornam públicas. E fazem-no com uma graça que não é apenas, pronto, engraçada, como pode inclusivamente ser educativa: afinal, podemos não apenas rir-nos das nossas desgraçada conjugais como tirar partido delas para nos tornarmos mais unidos. Podemos mesmo dizer, neste caso, que aquilo que nos desune torna-nos mais fortes.
São humoristas mas conheceram-se num ‘jogo do sério’. Aguentaram mais de uma hora a olharem um para o outro sem se rirem. Nunca mais se largaram. Hoje estão juntos há oito anos e casados há cinco, e fizeram das suas divergências um modo de vida, no podcast ‘Terapia de casal’, em espetáculos ao vivo e no livro com o mesmo nome.
Em ‘Terapia de casal’ – Rita da Nova e Guilherme Fonseca falam – à vez – do seu dia a dia e daquilo que mais os irrita no outro, e cada um apresenta a sua versão sobre um tema. Da máquina de lavar ao cabelo, de roer as unhas a ver séries, de ir ao ginásio a ir ao supermercado, as ‘guerras’ diárias têm graça porque são precisamente isso: pequenas disputas comuns a todos os casais.
Não se discutem aqui temas, como se costuma dizer, fracturantes, como a guerra, os filhos, religião ou política. Mas todos os casais se vão reconhecer em coisas como a coreografia de cada um na hora de ir às compras, porque é que alguém acumula pilhas de livros para ler, porque é que um tem paciência de santo com as plantas e o outro não (“A Rita põe plantas cá em casa como o Júlio Isidro punha pessoas dentro de um mini”), porque é que um é incapaz de deixar coisas a meio e o outro faz barulho a comer (“O Guilherme não suporta a forma como eu como. Qualquer coisa que eu faça à mesa o incomoda e ele faz questão de o mostrar com uma linguagem corporal digna de uma aula de teatro na Comuna”).
A ideia, como já perceberam, não é ajudar a resolver problemas em nenhuma relação (nem na deles) mas simplesmemte brincar com as nossas diferenças enquanto casal. E isto não tem nada a ver com ser homem ou ser mulher, mas com características de personalidade.
Enfim, se quiserem começar o ano a rir, esta é uma boa ideia. Podem ler o livro a solo ou em conjunto com o vosso ou vossa ‘partenaire’, e completar com o podcast. E até pode ser que, a brincar a brincar, isto contribua para tornar mais leve a nossa vida.
‘Terapia de casal’ – Rita da Nova e Guilherme Fonseca, Manuscrito, E15,90