Carolina Almeida é mãe de duas crianças, fundadora do Comida de Bebé – um site, uma app e uma página de Instagram com informação sobre alimentação infantil e receitas nutritivas – e, agora, também autora: lançou recentemente o seu primeiro livro de receitas seu primeiro livro de receitas). “Em menos de três anos o comidadebebe.pt tornou-se num dos maiores sites de alimentação infantil em Portugal e uma referência nesta área.” Carolina também lidera um movimento que pretende melhorar a alimentação dos bebés nos berçários e creches em Portugal.
Como decidiu dedicar-se a este tema da alimentação infantil?
Sempre adorei cozinhar, mas o interesse nesta área da alimentação infantil surgiu com a introdução alimentar da minha filha. Alimentar um bebé tem tanto de fascinante como de desafiante. É preciso pensar nos alimentos que vamos introduzir, como oferecê-los, num prato completo e nutritivo. Comecei a documentar as refeições da minha filha, a escrever e guardar todas as receitas que fazia para ela. Desde cedo que adaptava a nossa comida para que ela pudesse comer o mesmo que nós. E depois percebi que podia ajudar outras mães e pais com essa informação, e por isso criei o site. A informação que partilho não substitui consultas com profissionais de saúde, obviamente, mas é um apoio fundamental para a tomada de decisão informada. Toda a informação que existe no site é, e sempre será, totalmente gratuita. Também ofereço o meu curso prático de introdução alimentar a todas as pessoas que não podem pagar por ele mas querem aprender a alimentar melhor os seus bebés.
Foi recentemente à Assembleia falar do tema…
Fui à Assembleia falar numa audição com deputados dos principais partidos sobre a alimentação nas creches e berçários em Portugal. Em junho do ano passado, levantei o pano a este tema na minha conta de Instagram e a resposta que obtive foi avassaladora! De repente, percebi que era um problema a nível nacional e por isso juntei-me à minha cunhada, que é advogada, e decidimos tentar fazer algo. Práticas desatualizadas, ementas pobres (em termos de nutrientes e variedade de alimentos), e uma oferta grande de alimentos ultraprocessados, cheios de açúcar, sal e outros aditivos, principalmente aos lanches. E começa muito cedo. Aos 6 meses os bebés já estão a comer alimentos com açúcar adicionado, quando as recomendações mais recentes dos principais órgãos de saúde, como a Organização Mundial de Saúde, é para não oferecer açúcar (e alimentos com açúcar adicionado) antes dos 2 anos.
Por que se come mal nas escolas?
Há várias razões. As tais práticas desatualizadas, falta de pessoal, falta de formação específica… Formação de quem está na cozinha e de quem decide as ementas.
E em casa?
As mães e pais portugueses passam muito tempo fora de casa a trabalhar. Os avós reformam-se cada vez mais tarde. As crianças passam muito tempo na escola. Sobra pouco tempo para cozinhar as refeições ou mesmo comer em família. Depois, os alimentos ultraprocessados são, muitas vezes, mais acessíveis que alimentos naturais. Isto torna-os escolhas mais óbvias. É uma bola de neve: se estas crianças veem cada vez menos os pais a cozinhar, se são cada vez menos expostas a alimentos naturais como vegetais, leguminosas ou frutas, então quando se tornarem adultas provavelmente vão ter mais dificuldade em fazer boas escolhas alimentares.
Quais as principais dúvidas das mães?
No topo está o evoluir das sopas e papas, ou seja, deixar de oferecer comida triturada para oferecer comida em pedaços. Outra está ligada ao comerem “pouco” ou rejeitarem certos alimentos. Por fim, pedem-me muitas referências de produtos, que não sendo produtos de bebés são apropriados para bebés e crianças.
Os principais erros das mães?
Uma coisa que acho que muitas mães (e pais) não fazem: questionar. É muito cultural. Vamos para a consulta e não nos informamos previamente, não questionamos as recomendações que nos são feitas. E isto é válido em outras situações, como a alimentação na creche.