É comum as grávidas notarem mudanças na pele. As principais ‘queixas’ prendem-se com o surgimento de estrias e manchas ou zonas escurecidas, mas existem outras condições que atormentam as mulheres nesta fase.
O sistema tegumentar, o conjunto de estruturas que formam o revestimento externo dos seres vivos, passa por várias alterações durante os nove meses de gestação. Isto pode acontecer devido a alterações hormonais ou mecânicas, sendo que algumas consequências são mais conhecidas (e faladas) do que outras.
Conversámos com dois especialistas da rede de hospitais e clínicas CUF, que partilham informações úteis tanto para gestantes como para quem planeia engravidar em breve.
Estrias
As estrias ocorrem em 70-90% das gravidezes, mais frequentemente a partir do 6.º mês de gestação. São mais comuns nas mulheres que nunca tiveram filhos e nas mulheres mais jovens. Manifestam-se como longas bandas lineares arroxeadas ou brancas, em oposição às linhas de tensão da pele, e tendem a surgir na região abdominal, na região mamária, nas coxas e nos braços.
A sua etiologia é multifatorial, incluindo tanto fatores físicos (como a distensão da pele) como fatores hormonais (como o efeito dos esteroides adrenocorticais e dos estrogénios nas fibras elásticas da pele). São causadas pela rutura das fibras elásticas da pele, o que explica a sua natureza irreversível. As estrias eritematosas tendem a tornarem-se brancas (ou da cor da pele) e mais finas no pós-parto, embora habitualmente não desapareçam.
O papel dos emolientes na prevenção das estrias continua controverso. O uso cremes e óleos específicos, assim como o aumento controlado de peso durante a gravidez, para evitar a distensão excessiva da pele, parecem prevenir o aparecimento das estrias durante a gestação. Já os tratamentos no pós-parto com recurso à atretinoina tópica, ao LASER vascular ou fracionado, e ao microagulhamento parecem melhorar a aparência das estrias.
Máscara de Gravidez, Melasma ou Cloasma
O melasma é observado em 45-75% das mulheres grávidas e pode afetá-las esteticamente de forma significativa. Manifesta-se como manchas acastanhadas simétricas, de contornos irregulares e limites bem definidos, com localização nas áreas foto-expostas, especialmente na região centro-facial e malar.
As alterações hormonais da gravidez e a exposição à radiação ultravioleta parecem estar na sua origem. O uso de protetores solares de amplo espectro (UVA e UVB) e evitar a exposição solar excessiva são aconselhados para prevenir o aparecimento do melasma e a sua exacerbação.
Na maioria dos casos, o melasma desaparece no pós-parto. Contudo, pode persistir em 30% das mulheres ou recorrer em gravidezes futuras, ou com o uso de anticoncecionais orais. Pode ser tratado no pós-parto com combinações de tretinoina tópica, hidroquinona e corticoides, ou com recurso a LASERs (picosegundos, por exemplo) ou peelings.
Linea Nigra
Surge frequentemente no segundo trimestre de gravidez. É uma linha escura que se forma na barriga, desde a zona púbica até ao umbigo ou até o topo do abdómen, substituindo a linea alba abdominal. O seu aparecimento está relacionado com as alterações hormonais da gestação. É mais frequente nas mulheres com fototipos mais elevados.
Não é possível evitar o seu aparecimento, mas algumas medidas como, por exemplo, o uso de protetores solares de amplo espectro (UVA e UVB), com fator de proteção muito elevado, podem minimizá-la. Desaparece alguns meses após o parto, quando os níveis hormonais diminuem gradualmente. Pode ou não recorrer em gravidezes futuras.
Acne
A acne é uma doença multifatorial. Isto significa que existem múltiplos fatores implicados na sua génese, nomeadamente: anormal queratinizacão dos folículos pilosebáceos (que se traduz por uma alteração da descamação das células da pele, levando a uma obstrução com retenção sebácea); excesso de produção sebo; colonização da pele pela bactéria Cutibacterium acnes e inflamação.
A secreção sebácea pode aumentar no terceiro trimestre da gravidez, levando ao aparecimento de acne na gestante. Fatores exógenos adicionais incluem o consumo de tabaco e uso de produtos cosméticos desadequados. História prévia de acne na adolescência, história familiar de acne e níveis elevados de stress parecem aumentar o risco, mas são necessários mais estudos para confirmar esta associação.
Em casos mais graves de acne na gravidez, é importante consultar um especialista para indicar um tratamento adequado e que possa ser utilizado durante a gestação, já que existem determinados produtos e medicamentos contraindicados nesta fase.
Aranhas Vasculares e Eritema Palmar
Os estrogénios e outros fatores hormonais e metabólicos causam distensão e proliferação de vasos sanguíneos durante a gravidez, levando ao aparecimento de aranhas vasculares e eritema palmar.
As aranhas vasculares surgem em cerca de 66% das grávidas de pele clara e apenas em 11% em grávidas de pele escura, segundo dados de um estudo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América (NCBI). Aparecem tipicamente entre o segundo e o quinto mês de gestação.
Clinicamente, apresentam-se como um ponto vermelho central do qual irradiam pequenos vasos mais finos, assemelhando-se ao aspeto de uma aranha. São mais comuns no pescoço, face, peito, braços e mãos. Geralmente, 90% das aranhas vasculares regridem até ao terceiro mês do pós-parto. No caso das lesões nos membros inferiores persistirem após este período, estas podem ser tratadas com recurso a diferentes técnicas como a escleroterapia e lasers.
O eritema palmar, que se caracteriza por um aumento das manchas avermelhadas que existem nas palmas das mãos, ocorre devido à dilatação venosa local e surge em 2/3 das grávidas no início do primeiro trimestre. As grávidas de pele clara são mais afetadas do que as grávidas de pele escura. As lesões regridem na primeira semana após o parto.