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O que torna um alimento ‘super’? Um valor nutricional alto, obviamente, mas também certas moléculas na sua composição que combatem a doença. Ou melhor: ajudam o corpo a combatê-la, porque ao contrário dos medicamentos, que são uma espécie de força de elite chamada do exterior para vir exterminar o mal, aqueles nutrientes e moléculas reforçam as tropas que pertencem ao próprio organismo, tornando-as mais poderosas e eficazes.
“Os alimentos contêm informação que é comunicada aos nossos genes, não têm só calorias para nos dar energia”, explicava recentemente num artigo o médico americano Mark Hyman, diretor da Cleveland Clinic Center for Functional Medicine e autor de vários livros sobre nutrição e medicina funcional. “Temos vindo a descobrir, com a pesquisa no ramo da nutrigenómica, que os alimentos ‘falam’ com o nosso ADN, ligando ou desligando genes que levam à saúde ou à doença. O que comemos programa o nosso corpo com mensagens que nos mantêm saudáveis ou nos deixam doentes.” E não estamos a falar de um refogado que nos deixou com azia…

PARA ALÉM DOS ‘SUSPEITOS DO COSTUME’
uando se fala em superalimentos pensamos em coisas vagamente exóticas como bagas goji, açaí ou spirulina, e ainda estamos formatados para os associar a suplementos. Por vezes até os usamos como desculpa para comer coisas menos saudáveis porque ‘depois compensamos’ (achamos nós…) com um superalimento de vez em quando. Mas a verdade é que todos os alimentos que os nossos antepassados comiam tradicionalmente, coisas corriqueiras como uma romã, uma couve, ou um dente de alho, ajudavam a mantê-los saudáveis e têm vindo a revelar e demonstrar os seus superpoderes. Estes alimentos são usados há séculos pelas populações para promover a saúde e mantê-la: o que é sempre melhor do que chegar ao ponto de ter de lidar com a doença.

A SAÚDE NA PONTA DO GARFO
Mark Hyman afirma que a alimentação é a terapia mais poderosa para tratar doenças crónicas, como diabetes tipo 2 ou hipertensão, e que temos de pensar na praça e na mercearia como a nossa farmácia. Uma ideia que é corroborada por William Li, médico e investigador pioneiro na área da angiogénese (o processo de formação de novos vasos sanguíneos) cujo trabalho tem repercussões no tratamento de diversas doenças, como cancro, diabetes, cegueira, doença coronária e obesidade. “O nosso corpo tem cinco sistemas de defesa”, explica no seu livro Eat To Beat Disease (Coma Para Derrotar a Doença). “A angiogénese, que gera os vasos sanguíneos que levam os nutrientes a todos os cantos do corpo; as células-mãe que reparam e regeneram os nossos orgãos; o microbioma, constituído pelas bactérias boas do nosso intestino; o nosso ADN, que consegue proteger-se e reparar-se quando é danificado; e o nosso sistema imunitário que se tem vindo a revelar mais poderoso do que conseguíamos imaginar.” Neste livro, o médico refere mais de 200 alimentos que, comprovadamente, estimulam um, outro ou vários destes sistemas de defesa. E depois há as superestrelas, que estimulam todos. E alguns são uma surpresa!

Tinta de choco
Este fluido de breu, segregado pelos chocos, lulas e outros cefalópodes como ‘cortina de fumo’ que os esconde dos predadores, não é apenas uma delícia: pode ter efeitos antioxidantes, anti angiogénicos (importante porque a angionénese também gera os vasos que alimentam os cancros e nesses casos tem de ser evitada), protetores das células-mãe e potenciadores da imunidade.

Navalheiras
Tão saborosas que até a melhor lagosta fica com inveja, demonstraram, em laboratório, ser capazes de aumentar a produção de anticorpos pelas células imunitárias, e de matar à queima roupa células de cancro da mama e do fígado.

Especiarias picantes
Li refere no seu livro novas pesquisas sobre as propriedades da capsaicina que podemos encontrar nas malaguetas, tanto frescas como secas, e um estudo de grandes dimensões feito na China, que mostrou que comer comida picante pelo menos uma vez por dia está associado a uma redução do risco de morte por qualquer causa, incluindo cancro, doença coronária, diabetes e infeções. E as bactérias do nosso intestino também adoram: um microbioma alimentado com chili pode prevenir a inflamação e a obesidade.

Batata roxa
Falamos daquelas que são mesmo violeta e começam a aparecer em mercados bio e lojas gourmet. Em laboratório revelaram propriedades anti-angionénicas e a capacidade de matar células-mãe cancerígenas. E os efeitos anticancro mantêm-se seja qual for a forma como forem cozinhadas (embora o bom senso dite que sejam apenas cozidas ou assadas e não fritas).

Oleaginosas
Toda a gente sabe que as amêndoas, cajus, castanhas, macadâmias, pecans, pinhões, pistácios e nozes nos fazem bem. Mas o seu efeito anticancro é espantoso. “Um estudo europeu mostrou que, consumir 22 metades de noz por dia está associado a uma redução de 31% no risco de vir a ter cancro do cólon”, diz Li no livro. “E duas porções de 3 nozes por semana está associado a uma redução de 53% no risco de morte em pacientes com cancro do cólon de estadio 3 que estavam a ser tratados com quimioterapia convencional.”

Com a tendência que todos temos para procurar a ‘bala mágica’, a coisa única que resolve tudo, as pessoas estão sempre a perguntar a Li se há um alimento entre todos que ele recomende. “Mas nunca há uma só solução quando falamos de comida.” Essa é aliás a sua grande vantagem porque nos dá escolha. “Mas se eu tivesse de escolher para mim, e escolho, todos os dias, esta seria a minha lista: alperces, mangas, beringelas, mirtilos, nectarinas, rebentos de bambu, cerejas, pêssegos, cenouras, kiwis, ameixas, lichias, couve kale, tinta de choco, azeite, chocolate negro, sementes de linhaça, de abóbora, de girassol e de sésamo, nozes, chá preto e verde, café e tisana de camomila.”

UM ARCO-ÍRIS NO PRATO
Para assegurar uma ação promotora da saúde a 360º, quanto mais variada e colorida for a alimentação, melhor. “Os nossos antepassados comiam mais de 800 variedades diferentes de plantas, e a cor de cada variedade representa uma família diferente de compostos medicinais”, explica Mark Hyman. Infelizmente ao longo dos tempos as variedades de cada planta foram sendo reduzidas de acordo com as conveniências da agricultura moderna e transporte de alimentos através do mundo. Mas temos de fazer um esforço para alargar os nossos horizontes alimentares. Os mercados biológicos têm sido excelentes neste aspeto porque propõem coisas diferentes: cenouras encarnadas, beterrabas amarelas, couve flor cor de rosa…
Os legumes e frutos vermelhos têm licopeno que parece prevenir cancro da próstata e doenças do coração e pulmões; os amarelos e verdes são boas fontes de luteína e zeaxantina que ajudam a reduzir o risco de cataratas e degeneração macular relacionada com a idade; os laranja contêm alfa caroteno que protege de alguns cancros e beta caroteno que o corpo converte em vitamina A; os amarelos e alaranjados são boas fontes de vitamina C; os vermelhos, roxos e azulados são ricos em antocianinas que parecem proteger das doenças cardiovasculares, prevenir coágulos e adiar o aparecimento da doença de Alzheimer; os verdes contêm sulforafano e isocianato e outros compostos que inibem a carcinogenese; e os brancos e verdes contêm flavonoides antioxidantes nalguns casos e, no caso da família dos alhos e cebolas, a alicina que tem propriedades anti-tumorais.

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