“Por volta dos 20 anos, diagnosticaram-me erradamente um cancro no ovário e andei mais de meio ano entre médicos e diagnósticos. Tinha dores horríveis e já havia uma cirurgia marcada quando me descobriram um ovário poliquístico. Aconselharam-me então a mudar de alimentação e de estilo de vida. Foi aí que comecei a interessar-me a sério por nutrição, especificamente ligada à saúde da mulher.
Às vezes, a má relação que criamos com os alimentos vem de bloqueios emocionais. Mas sou contra o termo comida-lixo. A comida não é lixo. Se uma vez por semana me apetecer uma lasanha porque me dá prazer, isso não é lixo, faz-me bem e está-me a nutrir. Por isso chamo-lhe ‘refeição relaxamento’.
Comer também é prazer e comer bem é mais fácil do que parece. Até num restaurante é fácil comer saudável. Há sempre bife de frango em todo o lado, arroz, salada, sopa. Nós é que complicamos. A minha frase-chave é ‘desembalar menos e colher mais’. Quanto maior a validade de um produto, menor o nosso tempo de vida. Fruta, vegetais, carne, peixe, leguminosas, essa deve ser a nossa base.
Cuidados a ter: não ir às compras com fome e levar uma lista. Se eu tiver um dia de trabalho brutal e só houver em casa alimentos cheios de gordura e açúcar, isso vai ser para mim o abraço que eu não tive. Posso comer açúcar? Pode: com moderação. Prefiro que coma um croissant ou um bolo por semana do que um ‘brigadeiro fit’ todos os dias. Porque atrás de um fit vem uma data deles.
Temos uma das gastronomias mais equilibradas do mundo. Temos boas gorduras e excelente produção local, não podemos é comer por compensação. Há duas formas de produzir serotonina, a hormona da felicidade: ou treinar ou comer. Ora se eu chegar a casa de noite, não vou para o ginásio. Vou comer bolachas. E isso é emocional.
Nós, mulheres, temos necessidades nutricionais diferentes dos homens. Uma mulher só tem uma semana de paz por mês, em todo o ciclo hormonal. Alguns alimentos são muito amigos das mulheres: o ovo, os frutos vermelhos e os cítricos, abacate e aveia, azeite, basicamente tudo o que tiramos da terra e leva luz solar, que nos vai dar energia. Também é importante não esquecer a hidratação. A regra é, dividir o seu peso por 35. E líquido não tem de ser água, pode ser chá, água aromatizada, sopa.
O meu prato preferido? (risos) Sou uma nutricionista que adora comer. Por exemplo, adoro sardinhas fritas com arroz de tomate. Mas claro que não vou comê-las todos os dias. Porque o ser comida caseira não significa que seja nutricionalmente adequada.
Agora há muito a moda do sem glúten, sem lactose, sem açúcar, ligados a processos inflamatórios com os quais não têm nenhuma relação, se a pessoa não for de facto reativa a nada disto. Claro que, como em tudo, devemos variar a alimentação. Há tanto para experimentar! Mas isso não quer dizer esquecer as nossas raízes. A ideia principal é: escolha produtos locais e sazonais.”