Dor de cabeça, cefaleia, enxaqueca, costumamos pôr tudo no mesmo saco, mas não devemos. Cefaleia é o termo médico para dor de cabeça, por isso são idênticos, já enxaqueca é um dos 14 tipos diferentes de dor de cabeça que existem, sendo das mais comuns.
Para facilitar o estudo das cefaleias, os especialistas decidiram dividi-las em dois grandes grupos, de acordo com a sua origem. Então, de um lado temos as cefaleias primárias (que não têm causas conhecidas e não há exames ou testes laboratoriais que possam explicar a razão por que aparecem) e do outro temos as cefaleias secundárias (que surgem como sintoma de uma doença, seja ela uma lesão na cabeça, um AVC, infeções gripais, perturbações na zona cervical, olhos, dores de dentes, e ainda um sintoma de falta de álcool ou cafeína, por exemplo).
As enxaquecas pertencem ao primeiro grupo – cefaleias primárias – para o qual a ciência ainda não consegue explicar a 100% a razão porque aparecem. Sabe-se que é “multifatorial e que o fator genético é muito importante”, afirma Isabel Pavão Martins, médica neurologista, por isso, se a sua avó teve, a sua mãe provavelmente também e a leitora é muito provável que tenha. “A dor na enxaqueca é muito intensa e incomodativa, sentida só em metade da cabeça – só do lado esquerdo ou só do lado direito –, as pessoas ficam nauseadas e podem mesmo chegar a vomitar. Ficam intolerantes aos estímulos sensoriais, como luz, cheiros, sons, e a dor piora quando se mexe a cabeça. Em qualquer esforço que se faça, como subir escadas, andar vigorosamente, sente-se uma dor, como um pulsar ou latejar”, continua a neurologista. As enxaquecas podem durar de 4h a 72h, e são autolimitadas, o que quer dizer que mesmo que não haja tratamento, desaparecem ao fim desse tempo, mas ao longo desses 3 dias há um grande sofrimento, que pode fazer com que as pessoas não consigam fazer a sua vida normal.
Sintomas debilitantes
Segundo dados da Sociedade Portuguesa de Cefaleias, calcula-se que cerca de 2 milhões de portugueses sofram de enxaquecas, 700 mil da forma mais grave, o que significa que têm mais de 4 crises por mês. É uma doença neurológica que atinge 3 vezes mais mulheres que homens, 1 em cada 5 mulheres, contra 1 em cada 20 homens.
As enxaquecas mais comuns são as sem aura, mas cerca de 20% tem aquilo que se chama enxaqueca com aura, mais complexa, com dormência na mão e/ou à volta da boca e com sintomas neurológicos visuais: brilhos, sensação de encadeamento e dificuldade em focar. Estes sintomas desaparecem ao fim de algum tempo e dão lugar a uma dor de cabeça fortíssima. Há ainda a enxaqueca crónica, em que uma pessoa sente dor de cabeça por mais de 15 dias por mês e que é extremamente incapacitante.
A faixa etária mais afetada é dos 15 aos 45 anos, embora haja crianças mais jovens a sofrer de enxaquecas, “cerca de 8-9% da população infantil até à adolescência sofre deste problema e costumam ser aparatosas, com as crianças a agarrarem-se à cabeça, muito pálidas, a chorar e a vomitar. Não conseguem abrir os olhos, nem ouvir barulho, mas depois de conseguirem adormecer, acordam e já estão boas”, conta-nos a neurologista. Para despistar se é um sintoma de uma outra doença, convém sempre consultar um neurologista, para aprofundar estas dores a fundo e proceder ao alívio e tratamento (há vários disponíveis, mas muitas vezes consiste em anti-inflamatórios, analgésicos específicos, como os triptanos, mas nos casos mais graves pode recorrer-se, por exemplo, à injeção de botox).