Inês Pina tinha 13 anos quando lhe apareceu a primeira de muitas cistites. "Começava sempre com um ardor no final de fazer xixi. Depois passa a uma vontade constante e acabo por ficar sentada na sanita enquanto vou fazendo às pinguinhas", diz.
Agora com 27 anos e mãe de duas filhas, Inês sofreu com este problema principalmente durante as gravidezes, tentando solucioná-lo apenas com produtos naturais, pois não queria tomar antibióticos. A frequência com que é atacada por uma cistite varia muito. "Há alturas em que é uma infecção por mês e depois sou capaz de estar um ano sem nenhuma", diz.
O médico explicou-lhe que ela é portadora de uma bactéria: "Enquanto não descobrir qual é e o antibiótico mais indicado para a combater não fico curada. O problema é que quando me aparece a infecção não aguento o tempo suficiente para fazer a análise antes de tomar o antibiótico. Só posso dizer que é horrível, tenho muita inveja de quem não sabe o que isto é…", conclui.
O que é uma infecção urinária?
O sistema urinário é normalmente livre de bactérias. As infecções surgem quando estas o invadem e se localizam predominantemente na uretra (uretrite), bexiga (cistite) ou nos rins (pielonefrite). No caso das cistites, as bactérias que habitam no intestino ou na vagina conseguem alcançar a bexiga usando como acesso a uretra.
Dá-se uma irritação das paredes internas da bexiga, obrigando a pessoa a urinar mais vezes e causando ardor, sangue na urina e sensação de peso ou mesmo dor no baixo ventre. Estes sintomas podem aparecer isolados ou em conjunto. Se não for tratada correctamente, a cistite pode atingir os rins, resultando numa pielonefrite que causa febre alta e fortes dores abdominais, podendo levar ao internamento hospitalar.
Existem grupos de risco?
Embora possam atingir qualquer pessoa em qualquer idade, as infecções urinárias afectam mais o sexo feminino e quem está em idade fértil (a proporção é de um homem para dez mulheres) porque a uretra feminina (canal que liga a vagina à bexiga) tem apenas 3 centímetros contra 25cm da masculina. O facto de ser mais curta facilita o acesso das bactérias à bexiga. As mulheres entre os 16 e os 35 anos são as mais afectadas por terem mais frequentemente infecções vaginais produzidas por fungos, bactérias e vírus cuja presença diminui a resistência natural da vagina e da uretra.
Factores agravantes
Existem alguns factores que favorecem a contaminação das vias urinárias com bactérias:
. Durante a higiene, há que ter cuidado, um simples gesto errado e já está! Usar o papel higiénico do ânus em direcção à vagina leva as bactérias do trato intestinal para a uretra e de lá para a bexiga, contaminando-a. Sendo um local quente e húmido as bactérias proliferam rapidamente. Lembre-se que deve limpar-se da frente para trás, ou seja, da vagina para o ânus.
. Na menopausa, devido à diminuição dos estrogéneos, as paredes da vagina ficam mais susceptíveis à contaminação por bactérias.
. Na gravidez, devido ao aumento de progesterona ocorre um inchaço das vias urinárias. Para além disso, o aumento do tamanho do útero comprime a uretra diminuindo o fluxo da urina e favorecendo a proliferação de bactérias.
. As relações sexuais também podem constituir um problema. Certas mulheres desenvolvem cistites na sequência de relações sexuais muito frequentes. O acto sexual repetido produz um relaxamento da uretra, facilitando a invasão da bexiga por bactérias. É a chamada cistite nupcial ou de lua-de-mel.
Detecção e tratamento
Uma análise à urina é fundamental para confirmar a presença de bactérias. São feitos exames de cultura, que acusam o tipo de bactéria e qual o antibiótico indicado para a combater. Quando as infecções se repetem é também pedida uma ecografia das vias urinárias e uma avaliação ginecológica que ajude a detectar eventuais distúrbios que estejam na sua origem, como problemas renais e infecções ginecológicas.
Embora, em alguns casos, possa ocorrer uma cura espontânea (porque bebendo muita água a urina acaba por eliminar as bactérias da bexiga) a maioria dos doentes precisa de ser tratada com antibióticos durante períodos que variam entre os 3 e os 14 dias, dependendo da intensidade da infecção e do medicamento utilizado. Tratamentos inadequados consistem a principal causa de repetição destas infecções, que podem tornar-se crónicas.
Quando as crianças são as afectadas
As infecções urinárias são bastante frequentes também nas crianças ocorrendo mais nos rapazes nos primeiros seis meses de vida devido, na sua maioria, a malformações congénitas do trato urinário.Os meninos não circuncidados apresentam uma maior predisposição para este problema, em média 10 a 20 vezes mais. Após o primeiro ano de vida, as principais afectadas são as meninas. A contaminação é normalmente feita a partir da flora bacteriana da região perianal (à volta do ânus). Por essa razão é muito importante ensinar a sua filha a limpar sempre primeiro o ‘pipi’ e só depois o rabo.
As crianças apresentam basicamente os mesmos sinais que os adultos: ardor e vontade de fazer xixi com maior frequência. A criança pode apresentar-se irrequieta, irritada, perder o apetite e emagrecer.
Acaba por ter medo de ir à casa de banho pois já sabe que vai sentir dor. Podem ocorrer outros sintomas como dor abdominal, náuseas, vómitos, diarreia, febre e icterícia (a pele amarelada).
A confirmação da infecção faz-se pela presença de leucócitos, sangue e bactérias na análise à urina e bactérias na urocultura. Recolher a urina para análise pode ser complicado quando estamos a lidar com crianças menores de cinco anos. Os pediatras conseguem fazer, no próprio consultório, um exame simples que consiste em colocar um ‘pauzinho’ que muda de cor no xixi que a criança faz num bacio ou mesmo no papel que é posto em cima da marquesa.
Quando a análise é feita no hospital costuma ser colocado um saco colector. O tratamento é feito através de antibióticos, mas deve ter-se o cuidado de dar muitos líquidos a beber à criança.
10 cuidados que deve ter
1. Use cuecas de algodão porque absorvem a transpiração e impedem a proliferação de bactérias.
2. Evite os pensinhos dia-a-dia.
3. Não esqueça: o papel higiénico deve ser passado da vagina em direcção ao ânus e nunca ao contrário. Melhor ainda será lavar-se no bidé, com água corrente.
4. Custa um bocadinho sair da cama com o frio, mas deve urinar sempre após uma relação sexual. De contrário, os microorganismos poderão multiplicar-se na bexiga. Convém também beber um copo de água, para encher a bexiga.
5. Não esvazie completamente a bexiga antes do acto sexual. De contrário, o pénis poderá traumatizar a bexiga porque a urina funciona como um amortecedor de possíveis traumas.
6. Beba pelo menos 1,5L de água por dia, pois a urina em quantidade lava a bexiga, impedindo a acumulação de bactérias.
7. Evitar produtos que possam irritar a região da uretra e vagina, como duches vaginais, espermicidas, diafragmas e desodorizantes íntimos.
8. Não esteja muitas horas sem fazer xixi.
9. Caso tenha tendência para infecções urinárias evite os banhos de imersão pois água contaminada com restos fecais pode penetrar na vagina.
10. Convém ter alguns cuidados durante o sexo: garanta uma correcta lubrificação vaginal, se não a tem naturalmente recorra a um lubrificante artificial. Evite posições dolorosas pois o traumatismo do revestimento da vagina favorece o crescimento de bactérias nessa região. Evite o coito anal sem preservativo.
O que é o Coli Bacilo?
As cistites mais frequentes são causadas por germes oriundos dos intestinos. Um deles é a bactéria ‘Escherichia Coli’, que se encontra nas fezes e que, em situações especiais, migra contaminando os órgãos genitais. Caso se multiplique pode invadir a uretra e localizar-se na bexiga causando uma infecção. Existem, no entanto, outros agentes infecciosos que podem causar este problema de saúde, não sendo o coli bacilo o único mau da fita.
Consultora para este artigo: Drª Patrícia Pinto Teixeira, médica especialista em Ginecologia-Obstetrícia, n.º telefone do consultório 214683387 ou Hospital SAMS tel. 21 8422213