Nem sempre damos a devida importância ao facto de andarmos mais cansadas física e mentalmente, ou a sintomas como queda de cabelo e problemas de libido, mas negligenciá-los é abrir caminho para a anemia se instalar silenciosamente. As mulheres em idade fértil, e sobretudo depois dos 40 anos, são um dos principais grupos de risco deste que é considerado pela OMS um problema de saúde pública mundial, diz António Robalo Nunes, médico especialista em imuno-hemoterapia. “Crê-se que, a nível mundial, uma em cada quatro pessoas sofra de alguma forma de anemia.”
O que é a anemia?
Para que o oxigénio chegue às nossas células, contamos com a hemoglobina, uma proteína composta sobretudo por ferro, presente nos glóbulos vermelhos. “Um homem adulto tem anemia quando regista valores abaixo dos 13g de hemoglobina por dl de sangue. Numa mulher, esses valores são abaixo de 12g por dl”, explica o hemoterapeuta. “A mulher tem um valor mais baixo porque menstrua todos os meses. Esta é a definição aritmética; outra, mais biológica e que me parece mais real, define-a como um nível de hemoglobina menor do que está previsto para a idade, sexo e condição de um indivíduo, que possa ter alguma repercussão na sua capacidade de desenvolver as suas atividades diárias de forma normal.”
Quais são as causas?
A anemia pode ser originada por centenas de doenças e problemas de saúde, como insuficiência renal, hemorragias intestinais, doenças da medula óssea – onde os glóbulos vermelhos e outros constituintes do sangue são produzidos –, doenças inflamatórias e infeções. Mas a principal causa para o seu aparecimento são as deficiências nutricionais.
“O ferro tem um papel principal na produção de glóbulos vermelhos saudáveis, mas precisa de um bom coro, composto pelas vitamina B12, ácido fólico, zinco, cádmio, vitamina A, menos representados mas muito importantes para o equilíbrio do processo.”
Porém, o hemograma não precisa de gritar anemia para que já exista deficiência de ferro a necessitar de tratamento. Antes de chegar aos glóbulos, o ferro está disponível numa espécie de depósito a prazo. O seu exame de sangue pode até mostrar muita ‘liquidez’ aparente e os depósitos de ferro estarem quase vazios. Com o tempo, esta falta de capital acabará por levar a uma produção de glóbulos vermelhos deficientes em tamanho e em conteúdo de hemoglobina.
O seu médico pode descobrir outros parâmetros além da hemoglobina, no seu exame de sangue, que demonstram se tem ou não falta de ferro. Mas a suspeita de que algo não está bem tem de partir primeiro de si e para isso é preciso tomar atenção aos sinais de alerta (ver caixa).
Maior risco quando há menstruações abundantes
“Fico muito perturbado quando ouço que é normal a mulher estar mais cansada porque trabalha muito. É preciso desconfiar sempre que pode tratar-se de uma anemia por falta de ferro e ir à procura dela em análises laboratoriais”, alerta Robalo Nunes. “Vemos, aqui na consulta, muitas mulheres quase a entrar na menopausa que estão anémicas ou ainda não estão mas já têm deficiências de ferro. Apresentam queixas inespecíficas e inexplicáveis, como irritabilidade, cansaço, dificuldades de concentração. Muitas tiveram, ao longo da vida, menstruações invulgarmente abundantes, que não valorizavam porque era normal para elas, o que não quer dizer que o fosse em termos globais. Hoje, temos formas rápidas e fáceis de tratar a anemia, quer com suplementos de ferro, quer com a sua administração intravenosa, que tem uma ação muito rápida e eficaz; pomos rapidamente as mulheres com uma disponibilidade física e mental que nunca se lembravam de ter tido. Não precisamos de as deixar chegar à anemia grave para as tratar. Mulheres com menstruações abundantes devem estar mais atentas a esta questão e procurar apoio médico. São perdas regulares, mensais, que desequilibram o sistema e que é preciso compensar.”
Esteja atenta aos sinais de alerta
Os sintomas de anemia são suficientemente inespecíficos para poder ser explicados por uma vida stressante, diz o hemoterapeuta Robalo Nunes. Somando dois mais dois, estes são aqueles que devem levá-la ao médico:
• Dores de cabeça
• Taquicardia ou sensação de batimentos cardíacos irregulares
• Cansaço e fadiga que não passam, mesmo com o descanso
• Intolerância ao esforço
• Dificuldade nas digestões
• Alterações no desejo sexual
• Alterações menstruais
• Alterações nas unhas e cabelo (queda, cabelo e unhas quebradiços ou fracos)
• Sensações de secura da língua
• Diminuição da função cognitiva, com dificuldades de concentração e memória, por exemplo. “No idoso, isto é muitas vezes tomado como sinal da idade, mas às vezes tem uma causa nutricional. Muitos idosos vivem sozinhos, em situações de carência, e refugiam-se no chá e torradas, que não tem quase nenhum valor nutricional.”