A modelo brasileira de 32 anos, Lea T. está a mudar mentalidades, dentro e fora, do mundo da moda e é o novo rosto da marca Redken. Leandro Medeiros Cerezo foi o nome que lhe foi dado à nascença num corpo de homem, mas é num corpo de mulher que está a conquistar o mundo, a avaliar pelas centenas de likes conquistados com a publicação de uma das fotografias da campanha no Instagram.
Tudo começou pela mão do diretor criativo da Givenchy e amigo, Riccardo Tisci, quando desafiou Lea T. a explorar o seu lado feminino, como confessou em entrevista à Vogue francesa: “Uma noite Tisci encorajou-me a usar saltos numa festa (…) Fomos comprar sapatos drag queen e descolorámos as minhas sombracelhas. Foi uma revelação.”
Na altura, Lea T. escondia-se atrás das luzes da ribalta, nos bastidores dos desfiles de moda, assistindo Ricardo Tisci. Contudo, não precisou de muito tempo, para saltar do anonimato e tornar-se numa musa da moda. Foi em 2010, na campanha Outono-Inverno da Givenchy. Desde então, a modelo tem vindo a somar vários trabalhos importantes para a sua carreira e para a luta pela aceitação, destacando-se, por exemplo, a Vogue Paris, a LOVE Magazine, onde apareceu na capa da revista a beijar Kate Moss, e agora a Redken.
Um contrato para a nova campanha mundial da empresa norte-americana de produtos para o cabelo e com o qual a modelo brasileira se sente realizada: “Adoro trabalhar com a Redken porque apreciam todos os tipos de beleza”. “Acreditam na individualidade, e penso que isso é muito importante” afirma.
Atualmente, Lea T. é uma das modelos mais famosas no mundo e tem tudo com que sempre sonhou – beleza, fama e muito dinheiro. No entanto, em entrevista ao programa “The Oprah Winfrey Show”(veja um trecho da entrevista no fim deste artigo), em 2011, desabafou sobre a dificuldade de nascer num corpo errado e as batalhas pessoais e mentais que se têm de travar, como por exemplo, com a família. No seu caso com a mãe, uma pessoa bastante religiosa. “Isto é muito difícil, porque tu lutas contra todo o mundo. Tu lutas contra a tua família, tu lutas contra ti própria…Porque tens de mudar tudo em ti” confessou.
“Desejava ser gay, porque para a minha família, isto seria menos doloroso. E então eu conseguiria… ter uma vida normal” desabafou, na altura, à Oprah e acrescenta: “Desejava conseguir aceitar o meu corpo como um homem. Seria bastante mais fácil para mim, se conseguisse ser como um homem e ter uma namorada, uma família, filhos, casar, tudo o que é de uma vida normal. Mas isto é qualquer coisa que está na nossa cabeça – nascer no corpo errado”. Entretanto, Lea T. já realizou a cirurgia de redesignação sexual, em Março de 2012, e é a musa do seu amigo e impulsionador desta mudança, Riccardo Tisci.
Esta é a primeira vez que uma modelo transgénero irá ser o rosto de uma campanha a nível mundial, contudo não é único indício que a indústria da moda está a quebrar com todos os preconceitos e a caminhar, a passos largos, para ser uma indústria, mais aberta. Recordem-se os casos da atriz Lupita Nyong’o, como a primeira mulher negra a ser o rosto da Lancôme, e de Neelam Gill, a primeira mulher indiana da marca Burberry referidos pelo jornal Guardian.