De acordo com os números da 10ª edição do Atlas da Diabetes da Federação Internacional da Diabetes, que será brevemente publicada, destaca-se um crescimento alarmante da prevalência global da diabetes, pelo que é imperativo divulgar estratégias para a prevenção da doença, que constitui um desafio para a saúde e bem-estar da sociedade. Contudo, é também crucial falar sobre a diabetes em si, cujo crescimento nos últimos dois anos foi de 16 por cento (o que representa mais de 74 milhões de casos), de forma a capacitar as pessoas com este diagnóstico, para que ajam no sentido de prevenir eventuais complicações.
Produzida pelo pâncreas, a insulina é uma hormona que atua no sentido de permitir que a glicose passe da corrente sanguínea para as células do corpo, sendo assim necessária para que o organismo possa utilizar a glicose no processo de produção de energia. Falamos em diabetes mellitus quando o pâncreas deixa de poder produzir insulina ou quando não a fabrica em quantidades suficientes, ou ainda quando o corpo não consegue fazer um uso adequado da insulina que produz, verificando-se a chamada resistência à insulina. Como resultado, esta doença metabólica crónica caracteriza-se pela subida anormal e não controlada dos níveis de glicemia (quantidade de glicose no sangue).
Podendo estar associada a diversas complicações clínicas passíveis de afetar a saúde e a qualidade de vida das pessoas com diabetes, a hiperglicemia (aumento excessivo dos níveis de glicemia), com o passar do tempo, pode provocar danos em vários tecidos do corpo e afetar os vasos sanguíneos e os nervos, bem como diferentes órgãos. Paralelamente, estes pacientes apresentam também um maior risco de desenvolver infeções.
A úlcera do pé diabético é uma complicação frequente e séria associada a esta doença crónica, estando vários mecanismos relacionados com o seu aparecimento, tais como a neuropatia diabética, a doença vascular periférica e as alterações biomecânicas.
As neuropatias são caracterizadas pela perda progressiva de fibras nervosas, sendo a neuropatia diabética uma das possíveis complicações da diabetes, com o aumento da glicose no sangue a ser descrito como uma das causas mais relevantes. As extremidades do corpo estão assim entre as áreas mais afetadas e, em particular, podem surgir alterações nos pés.
No que diz respeito às alterações na parte sensitiva, a perda da sensibilidade merece particular atenção, dado que a perda da sensibilidade protetora plantar pode fazer com que as lesões não sejam percecionadas, acompanhadas e tratadas, o que pode ocasionar infeções e levar às amputações. Além disso, a pessoa pode deixar de sentir estímulos de temperatura. Face às lesões nos nervos e à sensação afetada, existe a possibilidade de se verificarem alterações na marcha e na forma como o indivíduo distribui o seu peso corporal, levando a uma maior concentração da pressão em determinadas áreas do pé, o que favorece o surgimento de calosidades.
Já a doença arterial periférica resulta na perturbação da circulação sanguínea em uma ou mais extremidades, existindo uma limitação no fornecimento de oxigénio e nutrientes, face à componente obstrutiva da doença. A aterosclerose é o principal componente responsável por esta condição, que constitui um dos principais fatores que contribuem para a lesão no pé diabético e que compromete a cicatrização das úlceras, podendo mesmo levar à morte dos tecidos.
Para a prevenção de possíveis problemas de saúde associados à diabetes mellitus, controlar os níveis de glicose no sangue é a chave, o que implica que os pacientes sigam o tratamento definido pela equipa de profissionais de saúde que os acompanham e que se mantenham vigilantes. A adoção de um estilo de vida saudável, assente numa alimentação adequada e na prática de exercício físico, tendo em conta as recomendações médicas, é também muito importante.
Simultaneamente, as pessoas com diabetes devem ter cuidados acrescidos com os seus pés, procurando erradicar os fatores de riscos das úlceras, como os traumas a que os pés podem estar sujeitos. Assim, para proteger os pés de lesões, evitar andar descalço e os saltos altos, preferir um calçado fechado, que se ajuste corretamente ao pé e que ofereça um suporte adequado, com um bom amortecimento e uma biqueira larga, optar por meias sem elásticos ou costuras, aliar uma higiene e hidratação diárias, não utilizar fontes de calor para aquecer os pés e cuidar bem das unhas, limando-as a direito com limas de cartão, são bons princípios. Observar minuciosamente os pés, ao final do dia, procurando modificações na pele e unhas, bem como consultar regularmente um podologista são também cuidados fundamentais.
O podologista, enquanto profissional habilitado na prevenção, diagnóstico e tratamento das patologias do membro inferior, procurará evitar a ulceração, identificando o risco para a úlcera diabética, que é também influenciado pela idade do utente, pela duração da diabetes e pela presença de úlcera e/ou amputação anterior. Já o tratamento terá em conta as características da lesão e se existe ou não infeção, de forma a evitar complicações mais graves.
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