A gravidez é um momento especial, durante o qual o organismo sofre várias adaptações e a tiroide não é exceção. Ao longo da gestação, a tiroide vai sofrendo várias alterações fisiológicas adaptativas, mas que, depois do parto, são reversíveis.
As hormonas tiroideias têm um papel crucial em todo este período. Por um lado, as alterações do normal funcionamento da tiroide podem estar associadas a infertilidade e, por outro, a várias complicações maternas e fetais, como aborto, hipertensão na gravidez, diabetes gestacional, ou mesmo parto pré-termo, malformações e alterações no desenvolvimento neuro-cognitivo das crianças.
Os estudos não são todos coincidentes, mas alguns apontam para que cerca de 8 a 12% dos abortos estejam relacionados com problemas da tiroide. Apesar de ainda não ser consensual, na comunidade científica é cada vez mais reconhecida a necessidade de realizar análises da função tiroideia a todas as mulheres que queiram engravidar.
É essencial que toda a mulher em idade fértil, com doença da tiroide, seja bem informada pelo seu endocrinologista acerca da importância da vigilância rigorosa da função tiroideia e da sua normalização quando está a planear uma gravidez. É extremamente importante esclarecer que não deverá suspender a terapêutica e que, inclusive, o aumento de dose ou substituição do medicamento poderá ser necessário. Costumamos dizer que o Endocrinologista deverá ser a segunda pessoa a quem se deve comunicar a gravidez!
Especificamente relacionado com as doenças da tiroide, o apertado controlo da função tiroideia, com os necessários ajustes na medicação, é crucial para o sucesso de uma gravidez, pelo que as grávidas com disfunção tiroideia devem ser acompanhadas de forma regular pelo seu médico Endocrinologista.
No período pós-parto, a montanha-russa de alterações hormonais e autoimunes também está associada a alterações da tiroide, sendo necessário manter uma vigilância apertada. Por exemplo, as grávidas que apresentam hipotiroidismo causado por Tiroidite autoimune crónica (ou de Hashimoto) têm maior probabilidade de desenvolver depressão pós-parto e exacerbação da tiroidite durante um período limitado de tempo.
Como o iodo está diretamente relacionado com a normal produção de hormonas tiroideias, é essencial falarmos de suplementação de iodo na gravidez e, sobretudo, de qual a sua importância.
O iodo é um micronutriente absolutamente necessário à vida. Uma vez que o iodo é o principal ingrediente para a produção de hormonas tiroideias, o seu défice pode levar a alterações funcionais de maior ou menor gravidade, podendo inclusivamente comprometer a produção de hormonas tiroideias e levar a disfunções graves. No passado pensava-se que a
deficiência de iodo estava apenas associada ao cretinismo (doença mental causada por hipotireiodismo congênito) e bócio (aumento do volume da tiroide), mas atualmente sabe-se que é responsável por um largo espectro de doenças, que podem começar na vida intrauterina e continuar a surgir na infância e vida adulta.
As alterações adaptativas e reversíveis que ocorrem durante a gravidez estão associadas a um aumento das necessidades de iodo, pelo que a Organização Mundial de saúde e a Direção Geral de Saúde recomendam a suplementação com Iodo a todas as mulheres na fase da preconceção, na gravidez e durante a amamentação, desde que não tenham doença da tiroide conhecida.
Por não ser produzido pelo nosso organismo, o iodo deve ser obtido através de fontes externas, como por exemplo, alimentos ou suplementos. Atualmente, o iodo faz parte dos suplementos vitamínicos recomendados às grávidas por rotina. Por exemplo, o uso por rotina de sal iodado na confeção e preparação das refeições é uma forma simples de aumentar o aporte deste nutriente.
Para terminar e desmistificar, quero salientar que apesar de a história familiar ser importante, não quer dizer que, se um ou os dois pais têm doença da tiroide, o filho vai obrigatoriamente ter problemas de tiroide. E ainda, que o facto de a mãe estar a fazer tratamento para o controlo da função tiroideia não é contraindicação para a amamentação.
Assim, apesar da tiroide ter um papel muito relevante desde a conceção ao aleitamento e mesmo quando uma mulher tem alterações da função tiroideia, com o tratamento e vigilância adequada no decorrer de todo este processo, o desfecho é muito bom: um bebé saudável!
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