A saúde ginecológica e reprodutiva constitui uma das vertentes da saúde das mulheres e é, por estas, geralmente bastante valorizada. Sobretudo durante a idade reprodutiva, a consulta de ginecologia é, muitas vezes, a única frequentada com regularidade. Assim, a consulta de ginecologia constitui, por tradição, uma excelente oportunidade de abordagem às questões de saúde da mulher, podendo (e devendo) este acompanhamento estender-se ao longo de toda a vida da mulher, desde a adolescência à pós-menopausa.
Na adolescência
A primeira consulta de saúde reprodutiva deve ocorrer, idealmente, na adolescência (algumas sociedades internacionais sugerem os 13 aos 15 anos). Esta consulta tem como objetivo providenciar aconselhamentos, cuidados antecipatórios e estratégias preventivas, em particular no âmbito da contraceção, das doenças sexualmente transmissíveis e da vacinação.
Em alguns casos a consulta é motivada por queixas do foro ginecológico, sendo as mais habituais a dor menstrual (dismenorreia), a ausência de menstruação (amenorreia), as irregularidades menstruais ou a menstruação abundante (menorragia). Nestes casos poderá ser necessário realizar exames auxiliares de diagnóstico, tais como exames laboratoriais – por exemplo doseamentos hormonais ou um hemograma – ou exames de imagiologia, sendo o mais comum a ecografia pélvica, que permite a avaliação de alterações da estrutura do útero ou dos ovários. Na suspeita de malformações uterinas, a ecografia ginecológica 3D ou a ressonância magnética pélvica permitem a avaliação destas situações.
A partir dos 20 anos
Entre a terceira e a quinta década de vida, as consultas de rotina são frequentemente motivadas por questões de planeamento familiar, nas suas vertentes de contracepção, pré-concepção ou estudo de infertilidade. É também nestes escalões etários que se iniciam os rastreios oncológicos. O rastreio do cancro do colo do útero prevê a realização de uma citologia do colo do útero (conhecida por papanicolaou) a partir dos 20 anos e após o início da atividade sexual. A partir dos 25 anos pode também ser realizada a pesquisa do vírus do papiloma humano (HPV), o que permite, no caso de retornar negativo, alargar a repetição do teste a cada 5 anos. O rastreio do cancro da mama deve iniciar-se entre os 40 e 50 anos com uma mamografia. Dependendo da história pessoal e familiar e da densidade mamária, a mamografia pode ser complementada com ecografia mamária, e repetida a cada 1-2 anos.
Quando surge a menopausa
A menopausa é um evento normal e fisiológico, que marca o fim da função ovárica, sendo habitualmente antecedida por um período de transição caracterizado por irregularidades menstruais acompanhadas por outras queixas, das quais as mais típicas são os sintomas vasomotores (os chamados fogachos). É frequente as mulheres solicitarem exames laboratoriais por pretenderem esclarecer a causa destes sintomas e preverem a sua evolução. Contudo, dada a natureza errática do funcionamento dos ovários nesta fase de transição, os doseamentos hormonais raramente retornam informação essencial ou modificadora de estratégias, pelo que na maioria dos casos devem ser evitados. Em contrapartida, hemorragias uterinas anómalas, designadamente menstruações abundantes ou qualquer perda de sangue que ocorra já depois de estabelecida a menopausa não devem ser ignorados e requerem um estudo imediato. Este poderá incluir análises laboratoriais e exames imagiológicos, como a ecografia transvaginal, histerossonografia (exame ecográfico em que se instila no interior do útero uma solução salina para estudar a anatomia da cavidade uterina) ou a histeroscopia (exame endoscópico que permite a visualização direta da cavidade uterina). Entretanto, esta fase de transição coincide muitas vezes com uma predisposição para a adopção de novos hábitos, o que pode e deve ser aproveitado para orientar as mulheres no sentido de um estilo de vida saudável.
A importância de uma abordagem multidisciplinar
Num cenário ideal, o cuidado da saúde da mulher deverá ser efetuado por uma equipa multidisciplinar compreendendo o ginecologista-obstetra, o médico de família e outros profissionais de saúde como enfermeiros, nutricionistas e psicólogos, em estreita colaboração na abordagem, não só a problemas de saúde detetados, mas também, e não menos importante, a estratégias preventivas.
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