A gravidez é uma etapa especial que pode, em alguns casos, despertar alguns medos e ansiedade. Por isso, nada melhor do que se manter informada, de forma a viver uma gravidez segura e mais tranquila.
A propósito do Dia Mundial da Grávida – que se assinala a 9 de setembro – importa esclarecer uma dúvida comum, relacionada com os riscos de uma gravidez numa idade mais avançada.
Efetivamente, resultado de vários fatores, temos assistido a um aumento de gravidez em mulheres com idade superior a 35 anos. Não existe nenhuma definição universal sobre a gravidez em idade avançada ou gravidez tardia em parte devido ao facto de o efeito da idade crescente ocorrer como um contínuo e não em função da idade limiar.
Regra geral mulheres que engravidam depois dos 35/38 anos conseguem lidar com o stress físico e emocional que a gravidez implica, embora haja uma prevalência aumentada de complicações quando comparamos com grupos de grávidas mais jovens.
Porque é que a idade influencia a gravidez?
O impacto da idade da mulher na gravidez relaciona-se com o processo da idade per si mas também com a coexistência de fatores mais prevalentes nesta faixas etárias, a saber: gravidez múltipla (gémeos), paridade aumentada (número de partos anteriores, doenças médicas crónicas (por exemplo, hipertensão e diabetes). Estes fatores podem contribuir para o aumento observado da morbilidade materna.
Estudos recentes revelam que neste grupo etário, as complicações da gravidez são as mesmas que as observadas nas mulheres mais jovens mas o risco é maior de aborto espontâneo (resultante do declínio da qualidade ovocitaria e das alterações uterinas e hormonais); gravidez ectópica (este risco depois dos 35 anos aumenta para 4 a 8 vezes mais do que o observado em mulheres mais jovens com idade inferior a 33 anos); anomalias cromossómicas (observa-se aumento constante de risco de trissomias à medida que a idade aumenta) e anomalias genéticas e congénitas.
Apesar de existir uma prevalência aumentada de complicações em idades mais avançadas, é importante reforçar que as complicações podem ser reduzidas com uma vigilância especial, acompanhamento médico adequado, monitorizações mais frequentes e intervenção atempada.
Como reduzir o risco de complicações?
As mulheres que correm um maior risco de complicações quando engravidam são aquelas que têm doenças crónicas como diabetes, hipertensão, cardiopatias, doenças renais e da tiroide, epilepsia, asma e outras doenças do foro respiratório.
As duas doenças médicas mais comuns a complicar a gravidez são a hipertensão arterial prévia ou desencadeada pela gravidez e a diabetes anterior à gravidez ou gestacional. Ambas as doenças estão aumentadas nas mulheres mais velhas, especialmente naquelas com obesidade e excesso ponderal.
Estas grávidas devem ser objeto de cuidados pré-natais específicos a acrescentar aos cuidados de rotina aplicáveis a todas as grávidas em geral.
Em primeiro lugar, o recurso a consulta de pré-conceção para programação da gravidez e otimização das terapêuticas usadas e outras atitudes de correção e preparação, bem como de identificação e correção dos fatores de risco potencialmente tratáveis e outros evitáveis.
Nas grávidas com idades mais tardias, o acompanhamento multidisciplinar adquire a sua importância maior na vigilância da gravidez associada a patologia que agrava o curso da gravidez e, não raras vezes, a própria doença é agravada pela gravidez obrigando a vigilância frequente, não só pelo obstetra mas pelo especialista envolvido no seguimento da patologia em questão: endocrinologista, internista, hematologista, nefrologista, cardiologista, são alguns exemplos das especialidades mais comuns.
Porque é que a consulta de pré-conceção é tão importante?
Ao contrário do que a generalidade das pessoas pensa, uma das fases mais importantes da “gravidez” é a fase pré-conceção. Promover a saúde neste período é uma forma de contribuir para o sucesso da gravidez, uma vez que muitos dos fatores que condicionam negativamente o futuro da gestação podem ser detetados, modificados ou eliminados antes de engravidar.
Assim, numa consulta pré-concecional as mulheres são devidamente informadas sobre os potenciais riscos que uma gravidez terá sobre a doença crónica que as afeta, bem como sobre as medidas que podem ser implementadas para minimizar estes riscos. Estas mulheres devem merecer atenção redobrada e ser objeto de uma avaliação cuidadosa por parte de uma equipa multidisciplinar que abranja as especialidades médicas envolvidas no seu tratamento.
Se por um lado os riscos podem aumentar com a idade, por outro, com os avanços da Medicina e um acompanhamento médico especializado, é possível minimizar estes riscos. Planear a gravidez, ter uma adequada avaliação pré-concecional, vigilância pré-natal e assistência especializada no parto, são os pilares fundamentais para uma gravidez bem-sucedida.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.