Apesar de pouco frequente, e com incidência e mortalidade (felizmente) a diminuir, na Europa, estima-se que, por cada 100.000 mulheres, cerca de 10 são afetadas por cancro do ovário e este cancro é a 5ª causa de morte nas mulheres, a seguir ao cancro da mama, do pulmão, do intestino e do pâncreas. Em Portugal ocorrem, por ano, cerca de 500 novos casos de cancro do ovário.
Como todos os órgãos do nosso corpo, os ovários são formados por células, algumas das quais se chamam células epiteliais. Estas células sofrem transformações e habitualmente este processo é ordenado e controlado pelo nosso próprio corpo. No entanto, em determinadas situações, as células podem multiplicar-se sem controle e este é o princípio de aparecimento do cancro, nomeadamente do cancro do ovário.
A multiplicação descontrolada de algumas das células com o tempo vai provocar o aparecimento de um ou vários nódulos ou massas a que habitualmente chamamos tumor maligno ou cancro. No caso do ovário e da trompa, além de serem dois órgãos muito próximos fisicamente e muito relacionados em termos de função, os cancros que os afetam partilham muitas vezes as mesmas causas e tratamentos.
Um dos fatores de risco mais importantes para desenvolver esta doença é uma história familiar de cancro do ovário ou da trompa. Mulheres com um familiar de primeiro grau com estes cancros têm o dobro do risco de desenvolver a doença. Hoje, em (quase) todas as mulheres com diagnóstico deste cancro é mandatório fazer uma análise no sangue para pesquisar a existência de uma mutação nos genes BRCA 1 e BRCA 2).
Esta mutação existe, dependendo do tipo de cancro, em 6 % a 23 % de todos os cancros do ovário. Quando uma mulher, pertencente a uma família onde esta alteração genética existe, herda essa mutação e passa a ter uma probabilidade muito maior de desenvolver cancro do ovário ou da trompa, quando comparada com uma mulher que não herdou essa mutação.
Estas mulheres, sem cancro, mas portadoras desta alteração genética, são muitas vezes aconselhadas, depois de terem completado os seus planos de maternidade, a retirarem os ovários e as trompas de modo a reduzirem de forma muito expressiva o risco de virem a desenvolver doença. Além disso na própria mulher com cancro do ovário e com esta mutação são implementados tratamentos inovadores (inibidores da PARP) com o objectivo de melhorar o prognóstco da doença.
Outros factores considerados também de risco são: a Idade (o risco de cancro do ovário aumenta com a idade); a obesidade; ter tido a primeira menstruação antes dos 12 anos, uma menopausa depois dos 52 anos, nunca ter engravidado ou primeira gravidez após os 35 anos. São considerados factores protectores o uso de contracetivos orais e a laqueação das trompas. Importa sublinhar que ter um ou mais fatores de risco, não quer obrigatoriamente dizer que a mulher venha a ter cancro.
Da mesma forma, não ter fatores de risco ou ter um ou mais fatores protetores não impede que o mesmo possa ocorrer. Alguns fatores de risco podem ser modificados pelo comportamento e pelos hábitos de vida da mulher, enquanto outros não. Tal como noutros cancros, as células de cancro do ovário têm a capacidade de entrar noutros noutros órgãos e invadi-los.
O cancro do ovário quando cresce e invade outros órgãos, habitualmente fá-lo para as trompas, para o útero e para uma membrana que reveste os órgãos da região abdominal e pélvica, chamada peritoneu. Para além deste tipo de invasão, as células de cancro têm ainda a capacidade de entrar no sangue ou na linfa e espalhar-se a outros locais distantes do corpo. A este processo chamamos metastização.
Habitualmente e, infelizmente, o cancro do ovário pode crescer inicialmente sem dar sintomas e só quando invade outros órgãos, numa fase mais tardia, dar queixas; estas queixas podem ser dor ou sensação de inchaço abdominal, sensação de enfartamento, necessidade de urinar com mais frequência. Como estes sintomas podem aparecer noutras situações que não apenas o cancro do ovário é importante valorizá-los sobretudo se não existiam, se são frequentes ocorrendo muitas vezes durante um mês e se esta frequência se tem agravado como tempo. Se isto acontecer, a mulher não deve hesitar e deve consultar o seu médico assistente.
É frequente que as mulheres com cancro do ovário notem o abdómen mais volumoso e que o médico confirme este inchaço durante a observação: isto deve-se à formação de líquido chamado ascite e que, apesar de poder aparecer noutras doenças, é frequente no cancro do ovário. Para diagnosticar e perceber se a doença está localizada ao ovário ou já se estendeu a outros órgãos do corpo é necessário realizar alguns exames tais como análises de sangue, ecografia pélvica, tomografia computorizada (TC) ou ressonância magnética.
Além disso é sempre necessário fazer uma biópsia: por vezes esta biópsia é feita durante a cirurgia de tratamento do cancro do ovário; outras vezes, quando se considera que a doença não deve ser imediatamente operada, realiza-se a biópsia antes do início de qualquer tratamento. O tratamento correto do cancro do ovário deve ser realizado por equipas que incluem médicos (nomeadamente ginecologistas e oncologistas) com experiência no tratamento desta doença. Os tratamentos incluem a cirurgia que retira os ovários, útero, trompas de Falópio, mas também outros órgãos da cavidade abdominal e pélvica que estejam atingidos pela doença; quimioterapia e, em casos selecionados de tratamentos inovadores, alguns deles orais.
A sequência destes tratamentos varia de acordo com cada caso. Numa perspetiva otimista e como já referido, a incidência e mortalidade desta doença têm vindo a diminuir, mas existem cada vez mais mulheres vivas e com doença o que quer dizer que os tratamentos, sobretudo tratamentos inovadores, dos quais dispomos hoje em dia, permitem, cada vez mais, que as doentes com cancro do ovário, vivam mais tempo e melhor.
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