Para melhor entender esta condição, é importante distinguir a enxaqueca de outras dores de cabeça e identificar os seus desencadeantes e os sinais de alarme que devem motivar a visita ao médico.
A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça com características muito específicas e, frequentemente, muito debilitantes: dor pulsátil/latejante, de um lado da cabeça, que pode ser acompanhada de náuseas, vómitos, e sensibilidade à luz e ao som. Frequentemente, impede a atividade habitual, seja no trabalho seja em casa, quer por intolerância à luz, pela intensidade da dor quer pela lentificação do pensamento. Estes sintomas podem durar até 3 dias e ocorrer com frequência muito variável ao longo do mês. Sugere-se a utilização de um calendário em papel ou eletrónico para o registo e acompanhamento dos episódios.
O diagnóstico é realizado pelo médico neurologista revendo a descrição dos sintomas do doente e realizando uma avaliação geral e neurológica. Os exames complementares de diagnóstico como a imagiologia cerebral são solicitados em casos particulares de dúvida diagnóstica e/ou sinais de alarme. É essencial procurar o médico se a dor de cabeça for acompanhada de sintomas de alarme como mudança do seu padrão, dor de cabeça súbita “explosiva”, outros sintomas neurológicos acompanhantes como fraqueza num lado do corpo, dificuldade em falar ou sintomas gerais como febre ou perda de peso.
A abordagem da enxaqueca implica medidas de prevenção dos fatores desencadeantes. O stress é reconhecido como um dos principais desencadeantes de crises de enxaqueca. Estudos indicam que o stress pode contribuir para o aparecimento de enxaqueca bem como para que uma enxaqueca pouco frequente se torne mais frequente ou crónica. Além disso, episódios de vida stressantes podem despertar enxaqueca. O contrário também se verifica, após exposição prolongada a stress, pode ocorrer agravamento da enxaqueca no período de relaxamento. Existem vários estudos que tentam explicar esta intrincada relação, mas a informação ainda é limitada. Medidas de gestão do stress como terapias de relaxamento, terapia cognitivo-comportamental ou Mindfulness têm mostrado benefício na melhoria do stress e no controlo da enxaqueca.
Além do stress, existem diversos outros fatores que podem desencadear episódios de enxaqueca. Entre eles, destacam-se a alimentação: alimentos que contêm tiramina (como queijos curados), glutamato monossódico, cafeína, e álcool, especialmente o vinho tinto, são frequentemente citados como potenciais despoletantes. Mudanças no padrão de sono, seja por falta ou excesso, também são reconhecidas. Fatores ambientais como luzes intensas, ruídos fortes ou alterações climáticas, e até mesmo odores intensos podem precipitar episódios de enxaqueca. A desidratação e o jejum prolongado são igualmente fatores a ter em consideração.
A relação entre enxaqueca e hormonas na mulher é particularmente significativa. É evidente nas variações do ciclo menstrual, onde muitas mulheres experienciam enxaqueca, conhecida como “enxaqueca menstrual”, que geralmente ocorre nos dias que antecedem ou imediatamente após o início da menstruação. Estas enxaquecas estão associadas às flutuações nos níveis de estrogénios, particularmente à queda abrupta desta hormona. Da mesma forma, períodos de alteração hormonal significativa, como a gravidez e a menopausa, também podem afetar a frequência e intensidade da enxaqueca. Durante a gravidez, grande parte das mulheres reportam uma redução nas crises de enxaqueca. Na menopausa, a enxaqueca pode intensificar-se devido às flutuações hormonais, mas muitas mulheres relatam uma melhoria após este período.
O tratamento agudo da enxaqueca, deve realizar-se precocemente no início do episódio. O doente deve utilizar a sua medicação aguda como paracetamol, anti-inflamatórios, triptanos ou medicamentos que diminuem a náusea e os vómitos, de acordo com as recomendações do seu médico.
O tratamento preventivo da enxaqueca deve ser oferecido quando os episódios são frequentes e debilitantes. Existem medicamentos orais desenvolvidos para outras doenças que podem ser úteis na enxaqueca, como antidepressivos, antiepiléticos ou antihipertensores, bem como tratamentos orais específicos da enxaqueca como os gepants; em casos mais graves, a toxina botulínica ou os anticorpos monoclonais anti-CGRP ou anti-recetor do CGRP podem estar indicados.
Em conclusão, um diagnóstico preciso, acompanhamento médico regular e tratamento adequado podem fazer uma diferença significativa na vida dos doentes com enxaqueca. É crucial que os doentes não apenas tratem a enxaqueca, mas também abordem o stress e os outros desencadeantes identificados como um componente essencial do seu plano de tratamento global.
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