Para a maioria das pessoas, o desejo de constituir família é algo natural. Há quem o idealize desde cedo, há quem decida adiar o projeto e pense nele mais tarde, mas independentemente de momentos ou calendários, aquilo que achamos que é a norma é planear, engravidar e ter um filho.Saúde mental e infertilidade: como navegar os desafios da PMA
Ou seja, crescemos com a ideia e com a expectativa de chegar a essa fase, se for um dos nossos desejos, e de ser fácil transitar para a parentalidade. Mas nem sempre é assim. E para quem enfrenta problemas de fertilidade e tem de recorrer a técnicas de procriação medicamente assistida (PMA), pode sentir algum impacto no que se refere à sua saúde mental.
Sintomas de ansiedade, questões ao nível da autoestima e até mesmo do próprio autoconceito são frequentes porque, de facto, estas pessoas deparam-se com uma barreira que não era esperada, apercebendo-se dela de forma repentina, o que configura uma tomada de consciência que é, em si, abrupta.
A ideia de recorrer a um tratamento com o qual a maior parte das vezes não estão familiarizados, ainda que, hoje, este seja um tema mais falado, pode realmente ser exigente, pois coloca os casais ou as mulheres perante a tomada de uma série de decisões. E também com a gestão da ansiedade durante o período que antecede o tratamento e, posteriormente, no período de espera pelos resultados.
Para reduzir todo este impacto, a ênfase deverá estar sempre na construção de uma comunicação aberta e de uma partilha emocional, evitando camuflar e interiorizar uma série de emoções. Quando esta é uma decisão que é feita efetivamente com um parceiro ou parceira, deve existir uma comunicação entre o casal, até para garantir que estão os dois na mesma fase, em termos de evolução para esta tomada de consciência da decisão de engravidar.
A retaguarda é outro aspeto muito importante, o facto de termos uma rede de suporte, seja através da família ou amigos, no qual se possam apoiar. Falamos aqui de um grupo restrito de pessoas capazes de ajudar a lidar com os momentos de maior ansiedade e até, numa futura situação, com a gravidez.
É também importante a questão da informação e do conhecimento sobre o tema. É que, ao sabermos exatamente aquilo sobre o qual estamos a passar, o procedimento sugerido, as fases do mesmo, as suas implicações, etc., isso também vai reduzir efetivamente os níveis de ansiedade. E a importância de realizar atividades que nos deem prazer, sejam atividades físicas, ou atividades mais de relaxamento, que ajudem na gestão da ansiedade em todo o processo.
Há, depois, um aspeto que considero essencial: o acompanhamento psicológico, ter alguém que nos ajude com aquilo que são os nossos pensamentos e os nossos comportamentos e percebermos que estes pensamentos e comportamentos vão ter um impacto direto nas situações que enfrentamos. E se tivermos cuidado com eles, se percebermos que, de facto, vão influenciar a nossa sensação de bem-estar ou, pelo contrário, de sofrimento, isso é extremamente importante.
Na Procriar o acompanhamento à paciente é feito de forma conjunta, há uma comunicação aberta entre paciente, equipa médica, enfermagem, embriologistas e a psicóloga.
Esta é uma ajuda que permite uma reflexão em conjunto sobre todas as decisões e o impacto das mesmas, um momento de partilha de angústias, de colocar todas as questões, mesmo aquelas que parecem não fazer absolutamente sentido nenhum, que todos nós, fruto do nosso desenvolvimento e das nossas crenças, vamos construindo.
Mas antes de toda esta situação, antes ainda da ideia de os tratamentos de PMA serem uma hipótese, é importante falar da preservação da fertilidade – criopreservar os óvulos. Esta é das melhores estratégias que atualmente as mulheres podemos adotar. A mulher pode ser confrontada com situações como o caso de uma doença ou cirurgia que venham reduzir a capacidade reprodutiva, ou até mesmo por razões sociais ou profissionais.
A opção de preservar a fertilidade garante-nos as melhores probabilidades de podermos concretizar o desejo, mais tarde, de uma gravidez. Por esse motivo, acredito que a preservação da fertilidade é um conselho muito importante para as gerações de hoje em dia.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.