Lá porque se casou, não é razão para deixar de…
– Usar minissaia
Se já usava antes de casar, porquê deixar agora? Se começa a entrar naquela do ‘ai não uso porque o meu Zé Roberto não gosta’, começa na saia e daqui a nada não usa batom porque o Zé Roberto acha peganhento, não tira um curso de contabilidade porque o Zé Roberto gosta de a ter em casa à noite para lhe massajar as costas, e não sai com a sua amiga Joana porque o Zé Roberto não gosta que ela seja estrábica. Afinal, não é o Zé Roberto que vai usar minissaia, e você não é propriedade dele… Mostre o que quiser e eles que se cuidem.
Depois do casamento, até as almas mais gregárias começam a sair só aos casaizinhos: por um lado, sentem que há assuntos que não interessam às solteiras. A birra da criança, a marca de fraldas ou um espantoso modelo de aspirador não parecem interessar-lhes por aí além. Por outro lado, consciente ou inconscientemente, ninguém quer correr o risco de haver um terceiro elemento dentro do casamento, por mais sólido que ele seja (nunca achamos que é suficientemente sólido, já se sabe como os homens são e é melhor não provocar). O que é uma pena: está bem que não é andar constantemente em grupo como quando se tinha 15 anos, mas continua a haver uma parte da nossa alma que o amor da nossa vida não preenche. A vida não é um jogo de solteiros e casados: agora casou, pronto, adeus amigas solteiras, não faz bem à saúde de ninguém. Não só elas precisam de si como você precisa delas.
Quem diz o George Clooney diz o Jorge Carlos ou outro Jorge qualquer. Lá porque casou com o Zé Roberto, não quer dizer que tenha ficado automaticamente cega, surda e homem. Casadas, solteiras, viúvas ou concubinadas, toda a gente tem o direito a sonhar acordada. Claro que, se o Zé Roberto é ciumento, convém não andar constantemente a gritar-lhe: “Ai ó Zé, que lindos olhos que tem o Rui Manel. Olha-me aquele traseiro tão jeitoso! Aposto que passa horas no stair-master!”
Não há nada melhor que umas feriazinhas separados para que ele se esqueça da maneira irritante como você enrola o cabelo ou morde as peles das unhas, e só tenha saudades da maneira adorável como você passa a mão pelo cabelo ou acorda toda despenteada. Além disso, prova que tem confiança nele e dá-lhe a ilusão (só ilusão, claro) de que ele não está numa prisão só porque se casou. Se acha que ele vai aproveitar as férias para descobrir finalmente de que cor é o sutiã da Carla Sofia, talvez seja melhor terem uma conversinha. Além disso, pense que, se ele quer mesmo saber de que cor é o sutiã da Carla Sofia, não precisa de férias nenhumas, faz-se em qualquer altura…
Lá porque as nossas avós diziam que uma vez casada se estava ‘arrumada’, não é razão para se trancar em casa a ver a telenovela e adormecer no sofá antes de saber se o Vanderlei vai casar com a Juraci. Também não é preciso dançar até cair todas as noites, mas um casamento é um princípio e não um fim: agora é que o namoro vai começar. E se não tirar pelo menos um dia da semana para se divertirem juntos, daqui a uns tempos estar casada há-de ser a vida chata do costume… Claro que, se já namoram há 17 anos, é um bocado difícil achar que o namoro começou nesse dia, mas mesmo com 17 anos de aturanço mútuo é possível encontrar qualquer coisa divertida para fazerem juntos ao sábado em vez de discutir de quem é a vez de levar o cão lá fora. Pois, pode parecer pouco romântico ter de planear com antecedência um ‘dia da diversão’, mas ainda menos romântico é esse dia nunca existir…
O quê, passar horas preciosas a aprender islandês enquanto ele coitadinho fica a descascar batatas para o jantar? E depois se lhe dá para convidar a vizinha de cima? E a de baixo? E se ela traz uma amiga? E se dão em fazer aquilo sempre que você sai para aprender islandês? Se calhar é melhor não… Não caia nisto: o melhor remédio para um casamento saudável é deixá-lo respirar. Se aprenderem qualquer coisa em separado, sempre têm conversa para o jantar. E se aprenderem qualquer coisa juntos, ainda melhor: desde que não seja a rumba cubana, se já sabe que ele é um pé de chumbo e um ouvido ainda mais de chumbo.
Se passar a vida a pôr o outro em primeiro lugar, se começar a pensar em si como aquela que dá e no Zé Roberto como aquele que recebe, não se espante que isso se torne um hábito, e mais espantoso ainda, que o Zé Roberto nem sequer lhe agradeça, porque os homens acham sempre que eles é que são uns sacrificados. Conclusão: não vale mesmo a pena sacrificar-se, a não ser que seja um caso de vida ou de morte tipo doar-lhe um rim. Tem que haver um acordo entre as duas partes: como fazer um acordo com uma cabeça de abóbora? Pois com persistência. Pode ser difícil, mas por algum lado tem de se começar.
Afinal, todas as razões que a levavam lá antes do casamento continuam a existir depois: continua a ter celulite para combater, calorias para gastar, e amigos para ver. Caso prefira almoçar com o Zé Roberto a fazer abdominais, tente convencê-lo a vir fazer abdominais consigo. Inda há-de ver o Zé Roberto com a barriga aos quadradinhos e uma t-shirt verde-alface a dizer ‘Meia-maratona de Lisboa’.
Tirando a fase da lua-de-mel (bem, às vezes nem tirando a fase da lua-de-mel) parece que a coisa perde a graça depois do casamento, que já não há aquela adrenalina de quando podia entrar a mãe dele no quarto a qualquer altura, quando só se podiam encontrar às vezes, quando ainda não tinha bem a certeza se era a mulher da vida dele. A vida e as certezas fazem muitos estragos num casamento, mas com alguma boa-vontade há sempre forma de dar a volta e não deixar que o romantismo se afogue nas contas para pagar, nos horários trocados e no cansaço do dia-a-dia.