É relaxado ou acelerado? Com paciência ou sem paciência? Saiba se ele vai ser um pai galinha ou um pai ausente quando chegarem as crianças.
O Herói
Ele vai buscá-la de descapotável, aparece como o Richard Gere à Júlia Roberts no ‘Sonho de Mulher’ (ou enfim… acha ele…) com um ramo de rosas e a Maria Callas no volume máximo. Leva-a a jantar todos os dias à luz de uma vela diferente num restaurante diferente, pega-lhe na mãozinha e descreve as noites ao luar que vão passar rodeados de nativos com flores no cabelo em Bora-Bora na lua de mel.
– Que pai vai dar: depende. É que o super-romântico nem sempre se dá muito bem com a vida real. Vai stressar porque quer ir ao cinema ver a Catherine Deneuve e o Joãozinho não pára de berrrar, vai ficar chocado porque nunca pensou que o corpo de uma mulher se alterasse tanto durante a gravidez e levasse tanto tempo a voltar ao lugar, vai cair para o lado se alguém conseguir convencê-lo a assistir ao parto, e vai enervar-se imenso por ter alguém a mexer-lhe no capacete do Darth Vader que diz: “May the Force be With You” e que ele comprou teoricamente para o puto. Geralmente não aguenta a pressão e acaba por se divorciar e dar em pai solteiro, o que é ainda mais dramático. Aqui há três hipóteses: ou se habitua a limpar vomitado verde e a decorar os horários da escola, ou passa a namorar uma loira com um coração maternal que se encarrega ela própria de limpar o vomitado e decorar os horários, ou então deixa-os na avó, que é mais prático, e sai para jantar com a loira de descapotável e ramos de rosas como o Richard Gere e, bem, já sabem o resto.
O Melga
“Olha vê lá. Trouxeste o casaco? Não achas que te vais constipar? Hoje passei demasiado tempo sentado, fiz mal. O meu tio Vítor passou três meses de cama depois de uma operação e morreu de tromboflebite. Doi-me um bocado a cabeça. Li na net que pode ser o primeiro sintoma de aneurisma cerebral. Também tenho aqui um alto na barriga, achas que é cancro? Desligaste o gás? Trancaste a porta? Fechaste bem todas as torneiras? Hoje em dia, não podemos dar-nos ao luxo de gastar água. Espera lá, prometi à minha mãe que lhe ligava quando estivéssemos a sair…”
– Que pai vai dar: Prepare-se para ter nos braços um Pai-Galinha. As urgências do hospital vão ser a sua segunda casa, quando não a primeira, e o pobre pediatra vai amaldiçoar a hora em que lhe deu o telemóvel e lhe disse para ligar sempre que fosse preciso. Vai ser um pai preocupado e dar à criança grandes sermões sobre Ecologia, Ambiente, Valores, Tabaco e Sexo. Vive em cima do miúdo: ele é que lhe faz a sopa, ele é que lhe muda a fralda (cheira-a, inclusive), ele é que lhe conta setecentas vezes histórias de quando era pequenino, especialmente a sua preferida (a de quando estava fazer requilibrismo no muro da avó e caiu cá em baixo de uma altura de mais ou menos 30 metros e foi levado de urgência para o hospital e levou dez pontos no toutiço) Vai stressar por tudo: porque a criança demora a nascer ou porque nasceu depressa demais (pode fazer coágulos no cérebro), porque tem um ar um bocado amarelo, porque respira demasiado depressa, porque respira demasiado devagar, porque ainda não tem dentes, porque lhe parece que tem a boca um bocado ao lado, porque tem a testa um bocado quente, porque a professora de matemática não gosta dela, porque ainda não chegou a casa e já são dez horas e ela ainda só tem 28 anos.
O Xoninhas
Fica duas horas parado dentro do carro à espera que você escolha o sítio onde vão jantar, é incapaz de decidir onde é que quer ir nas férias, nunca arranjou coragem para a pedir em casamento até ao dia em que você teve de lhe perguntar: ouve lá, é sim ou sopas? E ele engasgou-se com a canja e respondeu com um ar atarantado: que é que queres dizer com isso?
– Que pai vai dar: O Pai Banana. Nunca vai ouvir alguma coisa parecida com uma ordem sair da sua boca. Prepare-se para assumir os comandos da nave espacial, porque este é do tipo que acha que as crianças coitadinhas vão ficar traumatizadas se lhes negarem um chocolate ou lhes derem um ralhete. Acha que as crianças devem ser educadas pelo exemplo, mas curiosamente elas parecem bastante insensíveis ao exemplo, e andam pela casa aos uivos enroladas nas cortinas da sala e brandindo sabres da ‘Guerra das Estrelas’ até que a mãe chegue e lhes dê uns gritos, antidemocráticos mas eficazes.
O Tradicional
Faz tudo como manda o figurino: anel de noivado, declaração e pedido de mão ao sogro. Sempre quis ser pai desde que nasceu, não por qualquer razão em especial mas porque é aquilo que é suposto um Homem fazer em determinada altura da sua vida, como fazer a primeira comunhão, tirar a carta, ou casar-se. Claro que o sonho dele não é simplesmente ser pai mas Patriarca, sentado à cabeceira da mesa com 4 meninos de um lado e 4 meninas do outro, todos a tratá-lo reverentemente por Senhor Meu Pai, como nos romances do século XIX. Escusado será dizer que casamento será sempre pela igreja, e nada de dar nomes muito originais às crianças: a primeira tem o nome da mãezinha dele, se for menina, ou do paizinho seu, se for menino, a menos que haja uma tradição de família, como chamar Constança ou Zé Maria ao primeiro a nascer.
– Que pai vai dar: O Patriarca. Tem uma ideia muito clara daquilo que um Pai faz (ensinar a jogar golfe e a andar a cavalo, dar a mesada, oferecer-lhe o primeiro carro e passar-lhe preciosas dicas sobre como não Delapidar a Herança) e daquilo que faz a Mãe (tudo o resto, de que ele nem se apercebe). É um pai pouco stressado porque tem dinheiro, sempre teve, e sabe que isso resolve (quase) tudo. Está tão habituado a tudo seguir conforme o figurino que pode correr o risco de lhe sair alguma carta fora do baralho: geralmente há sempre uma criança que aos 18 anos foge para Espanha com um domador de elefantes como a Estefânia do Mónaco, ou outra que se inscreve na Juventude Comunista aos 14.
O Desligado
Geralmente, já é desligado durante o namoro, só que o amor faz-nos crer que ele nos ama apaixonadamente mesmo que só nos telefone quando não tem nada para fazer ao Sábado à tarde, quando o computador avariou ou já não há nem um limão para comer no frigorífico. Casa-se (quer dizer, geralmente concubina-se, não é homem de papel passado, diz que o seu amor não depende de um papel e da aprovação da sociedade, quando no fundo não tem é coragem de se comprometer) um bocado por desfastio e para ter alguém que lhe trate da roupa e lhe cosa as peúgas, e é apanhado desprevenido pela chegada da criança.
– Que pai vai dar: Ou o Pai Obcecado, que acha que a criança lhe deve todo o amor que a sociedade lhe negou, e a quem tenta comprar por todos os meios ao seu alcance, deixando as partes desagradáveis para a mãe, ou o pai Desligado, que não suporta ouvi-lo gritar, grita ‘Ó Maria Aldina cala aí o miúdo que eu já não aguento ouvi-lo”, põe tampões nos ouvidos para conseguir dormir, nem pensar em se levantar da cama a meio da noite e ir buscá-lo à discoteca nem lhe passa pela cabeça. Não sustenta vícios nem malandros.
O Executivo
Leva o namoro muito a sério porque faz parte do seu ‘status’ ter alguém que não se vista à bimba para levar às festas da empresa e aos jantares em casa dos amigos. Ter crianças também faz parte do quadro, de preferência duas, para aparecerem na ‘Caras’ vestidinhas de igual com a roupa da loja de bebés que a mãe dirige, e ele a dizer que se preocupa em acompanhar os seus filhos sempre que pode, apesar de ter uma vida bastante ocupada.
– Que pai vai dar: Costuma dar em Pai Ausente, porque não foi habituado a pensar que as crianças são uma parte essencial de se ser um Homem de Sucesso, para se ser Homem de Sucesso é preciso passar imenso tempo no escritório e não se pode sair de uma reunião a meio para se levar a Mariazinha ao pediatra nem faltar um dia porque o Duarte está com uma otite. É o pai que só se preocupa quando há chatices e tem de fazer sentir que a Autoridade está atenta. De resto, ainda pensa que as fraldas são de pano, que as mulheres têm mais jeito para tratar de bebés, que as mães têm sexto sentido, e só não acredita na cegonha porque até hoje ainda não viu nenhuma.
O Sensato
É o tipo de homem que raramente stressa: ‘tudo se resolve’ é o seu lema. Geralmente escolhe (ou enfim… é escolhido por) uma mulher igualmente sensata, o que ajuda. Costumam desembaraçar-se melhor do que a maioria das pessoas quando se trata de escolher fraldas ou dar a papa à criança, porque conseguem essa proeza de dar uma gargalhada quando as coisas dão para o torto, e de perceber o que é realmente importante. Geralmente, o realmente importante para eles não passa por obrigar a criança a comer a sopa toda…
– Que pai vai dar: O pai Informado. Se calhar até nunca tinha pensado muito nisso, em ser pai, foi sempre daquelas coisas que aconteciam aos outros, como os cancros e os desastres de automóvel, mas de repente vê-se a braços com um mundo totalmente novo. Como não é homem de se deixar ficar de braços cruzados, mete-se no primeiro hipermercado que lhe aparece à frente e sai de lá com um carrego industrial de livros para mães e pais. Em três dias, sabe as fases da criança, que tipo de leite se dá em que idade, como lidar com uma birra, e como falar-lhes de droga e sexo. Enfim, ainda o puto não fez três meses e ele já lhe comprou uma mota de água e o inscreveu no Benfica, é verdade, mas até o pai mais sensato tem delírios.
