
Pois as alturas de stresse são mesmo do melhor que há para tirar dúvidas. Vamos lá saber se ele nasceu mesmo para si: faça os testes, e se ele chumbar em muitos deles, é melhor parar e pensar se valerá mesmo a pena começar o ano com ele.
– O teste do Natal
Começamos logo pelo básico: ele é anti-Natal, pró-Natal ou neutro, como a Suíça? Por princípio, desconfie sempre das pessoas anti-natal: não é que sejam más pessoas, mas geralmente não têm a alegria como um dos seus alicerces fundamentais. Se o Natal a ele não lhe diz nada, observe o resto: há os neutros, que não gostam do Natal mas não chateiam, não fazem Ligas Contra o Pai Natal no Facebook e até conseguem encontrar um peru de jeito para comer à consoada. Mas depois há o Anti-Natal Militante. Não oferece presente nenhum a ninguém porque é um ‘espírito livre’ acima das grilhetas capitalistas. Passa a vida a dizer que não liga nada àquilo, que o Natal é uma data comercial inventada pelas marcas para vender uma data de coisas inúteis e caras a gente ingénua e que devíamos bater-nos contra o consumismo galopante que só contribui para o endividamento das famílias, o egoísmo das crianças e o materialismo das relações. Escusado será dizer que, se não recebe presentes, fica pior que estragado.
– O teste dos presentes
Ele é um homem de família ou não? Se o ouve dizer: “Ai eu não tenho paciência para comprar presentes, quem trata disso é a minha irmã”, pode começar a abandonar a ideia de que ele vai ser um pai presente. E um pai com presentes ainda menos. Se ele diz que o Natal é uma fantochada inventada por merceeiros americanos, pode estar a braços com uma alma livre a quem o capitalismo inda não deitou as garras, mas também pode ter a cargo um egoista de primeira apanha que se serve de todos os pretextos para não desembolsar nem mais um euro
– O teste do hipermercado (1)Se o vê pegar numa Barbie e revirá-la de pernas para o ar à procura do preço, depois fazer a mesma coisa a todas as Barbies da prateleira até ficarem de olhos em bico, depois repetir a operação a todos os brinquedinhos que encontrar pela frente e depois achar que são TODOS demasiado caros para sua querida e única sobrinha, das duas uma: ou ele está mesmo a precisar de ajuda financeira ou você está mesmo a precisar de um namorado novo. A sobrinha, coitada, se não acabou de nascer presume-se que já saiba o que a casa (não) gasta.
– O teste do hipermercado (2)Este também revira as Barbies, mas não é para lhes procurar o preço, é mesmo para ver como é que funcionam. Dá corda aos brinquedos de corda, enfia o dedo por aquelas embalagens que dizem ‘test me’ ou ‘prueva-me’ consoante a filiação europeia, Abre as caixas e tira cá para fora e monta e lê as instruções e diz: “Olha aqui, Rita, isto diz que serve para ver no escuro, não é fixe?” e a gente lá suspira que sim, que é fixe, embora ainda mais fixe fosse sair dali a tempo de ir jantar à sua mãe, mas ele já se encavalitou num triciclo feito para alguém com menos anos e muito menos quilos, depois insiste em desmontar um boneco de meio torso que tem os orgãos para encaixar e murmura ‘isto será o pâncreas?’ com um ar absorto, já chocalhou uma boneca do tamanho dele que lhe gritou “Te quiero, mamá!” num castelhano fervoroso, e mais ou menos duas horas depois abandona o corredor dos brinquedos de rastos, deixando atrás dele um rasto de apitos, cantigas, uivos, sirenes, ‘Quero beijinhos!’ em várias línguas, e peluches pelo chão.
Conclusão: Será idolatrado pelos sobrinhos e futuros filhos, mas tem de se capacitar que, provavelmente, ele vai vibrar muito mais com os brinquedos do que eles.
– O teste da tia“Ai vai tu ver a tia Anica que eu a mim os lares deprimem-me”. Vá ver a tia Anica sozinha e peça-lhe que lhe apresente outro sobrinho.
– O teste da depressãoDepois de dias a vê-lo arrastar-se e a suspirar pesadamente e a responder por monossílabos, lá lhe conseguiu arrancar que não tinha onde passar o Natal e depois de muitos “ai mas de modo nenhum, mas que ideia, mas não quero incomodar” lá aceitou o seu convite e apareceu, curiosamente sem presentes nenhuns para ninguém, muito enfiado no cachecol porque anda sempre atacado de sinusites e rinites. É incapaz de fazer conversa com quem quer que seja porque as pessoas alegres o deprimem e as tristes o deprimem ainda mais, e depois de se perceber que também não é grande ajuda na cozinha lá fica a um canto sem saber por onde pegar no Natal, e em risco de se desfazer em lágrimas a qualquer instante. Tadinho, não precisa de uma namorada, precisa de uma avó.
“Hoje não posso sair contigo porque vou jantar com os meus amigos/os tipos lá do trabalho/o Sousa do Marketing/ o Tozinho-lembras-te-dele-já-te-falei-tantas vezes.” Ou então é a variante: “Ai eu no Natal não tenho paciência para nada, deixa passar estes dias que a gente depois vê o que é que faz”. Toda a gente sabe que o Natal é feito de almoços e jantares com as mais variadas pessoas, mas se ele não consegue encontrar um espacinho para si no meio de todas estas obrigações sociais é porque não ocupa um lugar lá muito importante na lista das suas prioridades…
– O teste dos ciúmes
E se for você quem tem os jantares? Ele franze o sobrolho, abana o narizinho e diz: “O quê, outra vez um jantar? Com a tia Adélia? Por que é que eu não posso ir? Com as meninas? Quais meninas? Com amigos? Quais amigos? O Rui também vai? Se o Rui também vai, por que é que eu não vou?” Se não pode fazer nada no Natal sem andar de braço dado com ele, pense no que é que vai ser uma vida inteira assim…
Presente para a mãe dele? “Ai que chatice, não faço a menor ideia, podias comprar tu…” Para a tia Marta? “Tu conheces a velha melhor do que eu. Compra tu.”. Para o Joãozinho? “Um bebé? Mas eu sei lá o que é que se dá a um bebé! Compra tu.” Para o Tiago? “O quê, mas um marmanjo daqueles inda quer presente? Olha compra tu.”
Conclusão: Arrisca-se a ter de comprar o seu próprio presente. Ou então, já sabe que ele vai ter com outra mulher e dizer-lhe. “Ai não faço ideia do que hei-de dar à Rita. Podias-me comprar tu…”
A gente passa dias e dias de dedito apontado à montra onde está um fantástico relógio e a dizer “Estás a ver, é ali aquele, entre o preto prquenino e do outro que parece umas algemas” e achámos que fomos suficientemente explícitas, e no grande dia ele aparece-nos com o ‘Guia das Aves de Portugal’. E nem sequer foi uma questão de preço… Ou então quisemos pô-lo à vontade, afinal o Natal é uma época de paz e amor, e dissemos: “Ó amor, não te preocupes, compra qualquer coisa que te parecer bonita” e ele aparece com uma camisola aos quadrados que só de olhar pica nos olhos. Este dá sempre ao lado: a gente gostava de um perfume (pronto, é pouco original, mas os nossos desejos mais profundos geralmente são pouco originais) ele oferece uma mala, a gente queria um livro ele dá um lenço, a gente menciona certa vez que gosta de golfinhos e a partir daí ele torna-se num caçador de golfinhos e bombardeia-nos com todo o ‘merchandising’ de golfinhos que encontra à face da Terra. Pergunta: que fazer com alguém que nos conhece tão mal?
– O teste da fugaE o pior nem é quando a gente queria um livro e ele dá um lenço. O pior é quando a gente o queria a ele e ele resolve bazar para Freixo-de-Espada-à- Cinta e só o vemos (quando vemos) no dia 17 da nova década… Alguns a gente sabe que andam a beber caipiroskas natalícias com meio mundo e o outro, a este perdemos-lhe o rasto… Ou está lá para cima na quinta da avó, e quando se liga para ele nunca tem rede (ali não há rede) e em casa nunca está ninguém, ou então ‘Ai o Zé Manel? O Zé Manel inda não o vi hoje, ó tia Armindinha, já viu o Zé Manel hoje?, não a tia Armindinha também não sabe do Zé Manel’. Ou então fecham-se num hotel do Algarve porque o Natal lhes dá azia e querem começar o ano com os pés na água, mas quando propõe ir lá ter dizem imediatamente que querem estar sozinhos, como a Greta Garbo. Ai quer estar sozinho? Então deixe-o sozinho.
– O teste do pacto
“Olha lá, ó Rita, como estamos em crise e o mundo não está para presentes, podiamos fazer um pacto: eu não te dou presente a ti e tu não me dás presente a mim.” AAAHHHHHH!!!!!! Há presentes para todas as bolsas. Não faça pactos anti-românticos! Não faça pactos nenhuns que envolvam ficar sem presentes! Em última análise, pode dar-lhe um fantástico presente: par de patins.