O tema não é novo e há muito que se debate a carga horária laboral e o impacto que tem nas famílias e, sobretudo, nas crianças. Quanto mais os pais trabalham, mais tempo as crianças ficam na escola e isto parece ser um círculo vicioso sem fim à vista. Carlos Neto, sendo uma das vozes mais audíveis no resgate da infância e do direito das crianças a brincar, esteve no programa “A Nossa Tarde”, da RTP, apresentado por Tânia Ribas de Oliveira, a falar precisamente sobre isto e sobre a importância de uma escola humanizada, democrática, respeitosa e mais natural.
“A escola a tempo inteiro é uma vergonha nacional. As crianças são vítimas do trabalho dos pais. A escola tem que ser um espaço prazeroso, de busca de conhecimento, temos que ter crianças a saber investigar, explorar, a serem artistas, para se interessarem pelo processo de assimilação do conhecimento e serem ativos. Temos um problema sério de sedentarismo, temos que por as crianças a mexer mais o corpo. Não podemos ter escolas onde se proíbe brincar lá fora”, começou por dizer o Professo Catedrático, alertando para aquilo que chama de “ópio mental dos ecrãs”. “Há 20 anos ouvíamos barulho junto de uma escola, hoje só se ouve silêncio porque as crianças saem das aulas e já estão agarradas ao telemóvel. São as escolas que hoje promovem o sedentarismo e temos que mudar o seu modelo de funcionamento pedagógico”, disse.
Ainda assim, reconhece que a revolução da educação não se faz nem à pressa, nem de forma imediata, mas que a mudança tem que acontecer. Para Carlos Neto, há uma escolarização excessiva e uma expetativa parental mais orientada para os resultados. E, na sua opinião, a escola devia também apostar no desenvolvimento de competências sociais das crianças, e não tanto na competição das notas, das médias e dos rankings. “Temos que apostar em políticas públicas para que os pais tenham mais direitos de tempo de família, de qualidade, para conhecerem os filhos. Temos que fazer uma grande revisão da lei laboral e melhorar os dispositivos legais que já existem. Devia haver mais tempo de aprendizagem formatada na escola e tempo não formal. Acho que para aquelas crianças que têm pais a trabalhar muitas horas, a escola devia ter um conjunto de ofertas que permitissem que as crianças brincassem o resto da tarde, que tivessem experiências prazerosas nas artes, no desporto e na atividade física”, partilhou.