“Spare” mostrou-nos um lado diferente de Harry. Apesar de já ter sido um dos elementos mais populares da família real britânica, o príncipe revelou ao mundo que se sempre se considerou uma ovelha negra; um suplente (a tradução literal do título do livro).
Quem leu a memória autobiográfica viu no autor uma pessoa que vivia na sombra e desconectada da família, em grande parte, por se sentir menos importante do que o irmão mais velho. Uma realidade que levou a psicoterapeuta Kaytee Gillis a refletir sobre a questão e, no final das contas, a fazer a ponte entre os Windsor e os indivíduos que passam pelo seu gabinete.
“Entre os meus clientes, muitos dos quais são sobreviventes de famílias que se envolveram em padrões disfuncionais, muitos podem identificar-se com os padrões descritos em ‘Spare’”, diz à revista “Psychology Today”.
Segundo a especialista, eis cinco temas comuns que o livro nos mostra sobre a forma como os indivíduos, no seio de uma família, interagem entre si:
- A disfuncionalidade não vê níveis socioeconómicos
Apesar de determinados estereótipos na nossa sociedade nos fazerem acreditar que apenas as famílias carenciadas são disfuncionais, na verdade, há tantos (ou mais) padrões prejudiciais no seio de famílias endinheiradas e com poder para escondê-los. A fortuna e o status não importam; - Os outros questionarão a versão de quem denuncia
O elemento que fala abertamente sobre a dinâmica familiar, geralmente, encontra muita resistência de outros parentes, que agem no sentido de negar a realidade do sobrevivente, ou até mesmo levá-lo a pensar que está a exagerar; - A família receberá o benefício da dúvida
Há poder nos números e, muitas vezes, esse poder vem daqueles que não querem falar contra quem está no controlo. Quando alguém se apresenta e partilha a própria história, muitas vezes, encontra resistência de pessoas dentro e fora da família; - Acredita-se que quem fala desonra a família
Aquele que fala sobre a própria história é culpado porque “ousa falar contra quem lhe deu tudo”. Em vez de olhar para as ações daqueles que causaram o dano, a sociedade culpa os sobreviventes por falarem e desonrarem a família; - A ovelha negra tende a ser o bode expiatório
Que é como quem diz o culpado pelos problemas da família: “Se, pelo menos, o João não tivesse um problema de abuso de substâncias” ; “Os nossos problemas começaram quando o João começou a portar-se mal na escola”. Embora seja frequentemente o alvo da disfunção familiar, o bode expiatório costuma ser o mais honesto sobre o historial da família.