Às vezes é difícil reconhecer o momento exato em que um hábito inofensivo de procrastinação se transforma numa compulsão. Mas uma coisa é certa: para escolher uma intervenção eficaz, é necessário entender a origem do problema.
“Embora a procrastinação seja geralmente considerada ‘preguiça’, ela tende a ter raízes no medo, na vergonha, no ressentimento ou até mesmo num senso negativo de si mesmo(a)”, explica o psicólogo Mark Travers à revista “Psychology Today”.
O especialista identifica ainda os três tipos de procrastinadores:
O perfecionista
Tem dificuldades em realizar tarefas básicas, porque o perfecionismo não deixa espaço para erros, progresso gradual ou experimentação, nem permite uma curva de aprendizagem. Essas exigências impossíveis podem tornar a vida num inferno e fazer com que a procrastinação pareça um porto seguro.
Um estudo mencionado por Travers concluiu que a procrastinação baseada na perfeição pode, a longo prazo, afetar negativamente o nível de satisfação com a vida. Simplificando: são dois nós do mesmo circuito. Só é possível quebrar esse circuito tratando-se com respeito e compaixão.
Dar pequenos passos em direção aos seus objetivos e comemorar as pequenas vitórias pode neutralizar o desejo de procrastinar por temer o fracasso. Lembre-se: a jornada para tornar-se melhor a cada dia é muito mais benéfica do que a expectativa irracional de ser imediatamente o melhor.
O auto-sabotador
Sente um desconforto implacável relativamente à incerteza e à mudança. Por isso, procrastina para evitá-las. Na maioria das vezes, é para evitar sair da zona de conforto, privando-se da oportunidade de crescer ou ter sucesso.
Neste cenário, a procrastinação torna-se uma técnica auto-calmante — uma atividade não desafiadora e não ameaçadora com a familiaridade de um cobertor confortável. Os auto-sabotadores entregam-se à ‘procrastinação produtiva’ para aliviar a dor de adiar uma tarefa importante e mais urgente (por exemplo, remarcar uma sessão de terapia para limpar o quarto).
A vitimização auto-imposta destas pessoas vem do medo vago do desconhecido. O antídoto para isso reside na clareza. Evitar é fácil quando o que está em jogo, bem como os resultados da missão, não são claros. Na próxima vez que você procrastinar uma tarefa para seu conforto, pergunte-se o seguinte:
- Qual é o custo de oportunidade da escolha que estou a fazer?
- Quando adio algo indefinidamente, do que estou a proteger-me ao certo?
- Quero passar pela dor temporária do crescimento ou pela dor permanente da estagnação?
Desafiar as suas crenças e padrões de pensamento fundamentais, observando e questionando o seu comportamento, eliminará gradualmente o seu hábito de procrastinação.
Este método provem da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC, na sigla inglesa), uma intervenção psicológica popular que provou ser eficaz no tratamento da procrastinação, de acordo com uma pesquisa publicada na revista científica “Behavior Therapy”.
O caçador de adrenalina
Tende a deixar todos os projetos para a última da hora, porque ‘trabalha melhor sob stress’. Algumas pessoas fazem-no porque essa pressão sabe-lhes bem; outras porque entendem tardiamente as consequências dos próprios atos. A raiz deste tipo de procrastinação costuma estar na personalidade do indivíduo e, justamente, na sua tendência para a impulsividade.
Segundo um estudo publicado na revista científica “Personality and Individual Differences”, estas pessoas são pouco conscienciosas e facilmente influenciadas pelo seu humor, bem como pela gratificação a curto prazo. A autorregulação é uma característica importante da conscienciosidade, e a procrastinação é essencialmente uma falha na autorregulação.
A solução para o caçador de adrenalina é fazer uma pausa em momentos cruciais e avaliar a gravidade da situação. Muitas vezes, isso pode ser alcançado eficazmente através do mindfulness, seja a escrever num diário, praticar meditação ou conversar com alguém que o(a) responsabilize.