Até podiam ter sido uns fala-baratos até aos 11. Chegam aos 11, e calam-se. Sem motivo aparente. Pelo menos, que se dê por isso. Apenas se calam. E isto pode transformar-se num braço de ferro entre mães e filhos. Afinal, devemos insistir para que partilhem connosco o que lhes vai na alma ou deixá-los sossegados?
Segundo afirma a psiquiatra americana Ying Wang, em psychologytoday.com, devemos antes de mais reconhecer que a necessidade de os fazer falar é nossa, não deles.
“Como pais, ensinamos aos nossos filhos, e bem, a serem emocionalmente competentes, encorajando-os a falarem sobre o que sentem de maneira a melhor manejarem as suas emoções. Mas às vezes confunsimos ensinar competência emocionar com satisfazer a nossa própria necessidade de controlo”.
E então fazemos perguntas atrás de perguntas, que fazem com que a criança ou adolescente se feche ainda mais.
O que fazer? Segundo a psiquiatra, parece fácil mas para a maioria das mães (e pais) não é: recuar, respirar fundo, dizer que estamos ali para o ouvir quando – e se – ele precisar. Frizar que espera que ele tenha a confiança necessária para lhe dizer se se tratasse de alguma coisa verdadeiramente grave.
Ele parece-lhe triste? Deixou de comer ou dormir? Isola-se de todos? Se não, confie e deixe ao ritmo dele. Afinal, não falar não quer dizer necessariamente estar deprimido. Pode ser que ele ainda não esteja preparado para falar. Pode ser que, como diziam as nossas avós, na verdade não tenha nada aver com isso. Pode ser que lhe conte, pode ser que não lhe conte nesse dia mas mais tarde, pode ser que não lhe conte nunca. Crescer também é não contar tudo aos pais. E está tudo bem.
Claro que ‘confiar e deixar ao ritmo dele’ não significa que deixe de tentar uma comunicação.
O que podemos fazer, entretanto, para evitar o stress dos interrogatórios: fazer alguma coisa juntos que não seja ‘senta-se aqui comigo à minha frente e conta-me o que se passa’. Darem um passeio juntos (nem que seja em silêncio), passearem o cão, cozinharem, verem televisão conversando sobre o que veem. Pode pedir-lhe para lhe mostrar algum vídeo no YouTube. Pode partilhar com ele alguma memória de infância (de preferência uma memória divertida e que não seja um sermão do tipo ‘eu portava-me mesmo impecavelmente quando tinha a tua idade’). Pode contar-lhe um sonho de criança, pode mesmo partilhar com ele alguma coisa que a preocupe: os miúdos gostam de sentir que aquilo que pensam conta. Faça o que fizer, não insista para que lhe conte a vida dele. Ele há-de contar.
Enfim. Ou não.