1. Houve algum evento na sua vida que a tenha levado a decidir dedicar-se ao coaching?
Não houve um evento concreto, mas antes um desejo enorme de criar o meu caminho, deixar a minha marca e não me resignar a uma escolha de vida que não me deixava feliz. Durante muitos anos, acredito ter seguido, como costumamos dizer, em piloto automático: curso superior, trabalho bem-sucedido e estável numa das indústrias mais competitivas e um ritmo de vida que me permitia estar com as minhas pessoas, viajar, estudar.
Aparentemente, tudo apontava para seguir “só o que era esperado de mim” e ter uma vida feliz mas que, de alguma forma, me começava a sufocar por falta de “algo mais”. E quando decidi que a minha mudança de vida era inevitável, arregacei as mangas e pus-me a caminho. Comecei do zero aos 36 anos, tornei-me coach profissional acreditada pela maior organização de coaching mundial, comecei a fazer os meus workshops, a fazer sessões, até que escrevi o meu livro e daí até às Mindset Immersions foram apenas uns meses!
2. Como resumiria o que são as Mindset Immersions?
As Mindset Immersions nascem da minha paixão de viajar e do impacto que as minhas experiências como viajante tiveram – e continuam a ter – no meu processo de mudança pessoal. Conhecer novos lugares, culturas, abre-nos a alma, o coração e alarga horizontes. Deixa-nos num lugar “vulnerável” essencial para nos conectarmos connosco e com o que é importante. Pensei então “porque não proporcionar aos outros o que fui descobrindo por mim?” e na altura que lancei o livro percebi que tinha o conteúdo e a inspiração que faltavam para construir este programa imersivo.
As Mindset Immersions são, então, retiros que convidam a uma imersão em nós próprios, numa tomada de consciência ao nível da mente, corpo e espírito. Os workshops diários são desenhados para dar suporte a desenvolver competências como self awareness, gestão das emoções, coragem, resiliência, cultivar uma forma de ser mais alinhada com valores e propósito; integrados numa semana de alimentação saudável e consciente (inspiração vegetariana) e com prática de yoga e/ou outras atividades inspirem a uma maior conexão. Tudo isto em contexto de natureza e cultura inspiradoras, permitindo uma integração e vivência local e genuína.
[Próximas edições: Índia em Fevereiro e Bali em Março]
3. Há algum tipo de resultados imediatos nestes retiros?
Os resultados variam de pessoa para pessoa e eu tenho uma máxima: cada pessoa traz de cada retiro, como resultado, na verdadeira dimensão da sua entrega, do que lá coloca: abertura, curiosidade, compromisso consigo próprio. Depois disto, de uma forma geral, os resultados mais imediatos diria serem: criar mais momentos de reflexão e conexão do dia-a-dia, momentos de observação e presença, que se traduzem num maior auto-cuidado, no “sentir-se bem consigo próprio”, começar a adotar uma atitude mais proativa e de responsabilidade de criar a própria felicidade e bem-estar e que implica também ganhar uma nova perspetiva sobre a vida a qual inclui a integração valores, propósito e inspira a cultivar uma forma de estar de mais coragem, autenticidade e resiliência.
4. E a longo prazo, quais as principais mudanças?
A longo prazo eu diria que se traduz em algo menos “mensurável” e mais ao nível de Ser, do sentir: maior serenidade, aceitação (aceitar a vida como ela é e colocar o foco na responsabilidade individual e aprendizagem ao longo do caminho), generosidade (connosco próprios e com o que nos rodeia) e fé (o que quer que signifique para cada um) na vida.
5. Quais os momentos que mais a marcaram nestes eventos?
Esta é mais difícil de responder pois existem muitos momentos inspiradores, bonitos, de conexão, entrega e partilha. Mas um dos momentos que mais me marcou foi uma pessoa (homem) que chegou ao retiro por ir acompanhar outra e ia com zero espectativas mas com curiosidade genuína sobre o que iria ser o desenrolar do programa, da semana. A mesma pessoa que fez as partilhas mais profundas e genuínas e que, no final do retiro, trouxe uma folha amachucada com notas soltas do que sentia ser relevante e que foi a primeira pessoa que, no último dia, me pediu para fazermos uma pequena sessão individual para o ajudar a definir objetivos com base nas suas novas prioridades, no que tinha aprendido sobre si naqueles dias. Sentir que podemos contribuir para inspirar as pessoas a quererem estar mais próximas de si, do que realmente importa, é, para mim, o maior retorno que posso ter.
6. Como é que as pessoas se podem inscrever nestas experiências?
A informação (programa e inscrições) costuma ser divulgada nas redes sociais (Instagram), na newsletter e está sempre atualizada em www.alexandravinagre.com.
7. No seu livro “Até Onde Quer Chegar? – Construa o Mindset que transformará a sua vida” aborda a mudança. Quais as principais atitudes que devemos tomar para mudar algo na nossa vida?
Acredito que o pilar fundamental da mudança é a auto-consciência, ou auto-conhecimento, de nós próprios, das nossas emoções, pensamentos, crenças, intuições, forças e limitações. É daqui que trazemos a informação, as coordenadas, de onde estamos, do que nos serve, do que é realmente importante. É daqui que “partimos” e damos o primeiro passo para qualquer que seja a mudança. Uma atitude de curiosidade, observação e generosidade é fundamental neste ponto.
Outras atitudes igualmente importantes, para mim, são: sermos flexíveis/ágeis face à mudança para podermos ir ajustando os passos ao longo do caminho e, por vezes, poder ajustar para um caminho diferente do que esperávamos inicialmente; cultivar emoções positivas e treinar a nossa mente para se focar no que podemos construir, aprender, celebrar… contribuindo para desenvolvermos mais recursos emocionais, mais resiliência.
8. E o que fazer quando alguém não sabe que precisa de mudar algo, de modo a ser mais feliz?
Esta é uma pergunta muito interessante e recorrente. Em coaching, uma das premissas que consideramos quando trabalhamos com alguém é que essa pessoa está “ok”, o que quer dizer que está tudo bem, que tem em si os recursos e capacidades que necessita, e que não precisa “ser ajudada”. Com isto quero dizer que a mudança é algo que tem de vir de dentro, da consciência do próprio, da sua vontade e não de alguém exterior que assume que “o outro tem de mudar” à luz da sua perspetiva.
Se uma pessoa tiver a consciência e vontade de construir uma vida que lhe traga maior felicidade e quer ser “parte activa” da sua mudança, tomando iniciativa, aí sim, é um ponto de partida com o qual podemos trabalhar em sede de coaching. Se passarmos para uma esfera pessoal, fora do âmbito de coaching, e como familiar ou amigo de alguém que, aparentemente, demonstra não estar feliz, podemos dar suporte colocando questões que ajudem a pessoa a ganhar mais clareza e direção, dando feedback honesto e aberto sobre factos observáveis (ex: tenho observado que o teu comportamento a,b, ou c têm tido impacto no teu bem-estar, energia, atitude).
9. Porque crê que é tão difícil mudar?
A mudança, da forma como a estamos a abordar aqui (como algo que alguém quer fazer para transformar a sua vida para melhor) é, geralmente, difícil e desafiante, mas possível! Como seres de hábitos e por termos anos de experiências e rotinas anteriores, o nosso cérebro está programado para as manter: é mais fácil, seguro e conhecido. Tipicamente as mudanças implicam criar novos hábitos, novos comportamentos, e isso requer que o nosso cérebro aprenda algo de novo ou reaprenda a fazer algo que já fazia, mas agora de forma diferente. Esse processo demora, requer compromisso e consistência até o cérebro se começar tornar “hábil” e começarmos a integrar o novo comportamento e a observar resultados.
Uma das formas (que utiliza também uma das capacidades do cérebro: criar imagens) que pode tornar este processo mais motivador é criar uma imagem do que queremos mudar colocando questões como: o que quero mudar? – aqui ter em atenção em formular na positiva (ex: “não quero mais viver stressado” está formulado na negativa, não nos dá imagem do que queremos alcançar. Reformular este objetivo na positiva poderia ser algo como “quero ter um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”); Porque é importante concretizar esta mudança?; O que vai trazer à minha vida?; O que se torna possível? Ao criar esta imagem mais detalhada do impacto positivo da mudança na nossa vida, torna-se mais motivador caminhar na direcção da mesma.