Tiborna de Açorda de Poejo
“Este «prato» é uma versão bem glamourizada de um ritual que tinha quando era
criança: com as minhas vizinhas da frente, Nídia e Fedra, íamos para o quintal de casa
da sua Avó Raquelina brincar e comer ameixas e lanchar a tarde toda.
A d.ª Raquelina fazia muitas vezes pico para a açorda durante a tarde, para depois
jantar. E os picos mudavam consoante a estação do ano e as ervas disponíveis. Eu digo
sempre que a açorda é a sopa miso dos alentejanos e a d.ª Raquelina é apenas um dos
pilares desta minha afirmação sem fundamento científico nenhum. Acontece que nós
interrompíamos as brincadeiras com muita frequência para ir à terrina do pico da
açorda molhar pedaços de pão e comer. Depois a d.ª Raquelina chateava-se e com
razão, porque lhe tínhamos comido a futura açorda toda e tinha de a fazer outra vez,
mas só quando fôssemos para as nossas casas e ela soubesse que não haveria mais
furtos. Esta tiborna é para a d.ª Raquelina.
INGREDIENTES
1 ramo de poejo
1 dente de alho
Azeite q.b.
1 gema de ovo + 1 ovo 1 fatia de bom pão
Água q.b.
Vinagre q.b.
Sal q.b.
Quejio de ovelha bem curado q.b.
Pimenta q.b.
PREPARAÇÃO:
1. Comece por fazer o pico: lave e enxugue muito bem o poejo e migue-o grosseiramente para um almofariz. Descasque o alho e migue-o para o almofariz. Acrescente um fiozinho de azeite e bata tudo muito bem, até obter uma espécie de papa. Adicione a gema de ovo e crie uma pasta mais densa.
2.Toste a fatia de pão numa frigideira com um pouco de azeite, até que esta fique bem dourada de ambos os lados.
3. Escalfe o ovo em água a ferver com um fio de vinagre e uma pitada de sal durante cerca de 4 minutos e retire.
4. Agora, monte a sua tiborna: unte o pão com a pasta de poejo, disponha-lhe o ovo e lasque o queijo por cima do ovo. Salpique com sal e pimenta e sirva.
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Pudim Salgado de Pão
“Tendo um doutoramento honoris causa em reaproveitamento de sobras de pão, e uma
vez que se pode fazer pudim de pão doce ou salgado, eis o pudim de pão, mas em versão
salgada, template supremo para reaproveitar não só pão, mas também legumes, carnes,
peixes…! Posto isto e sem mais demoras, a receita.”
INGREDIENTES
300g de abóbora manteiga
100g de cogumelos marron
Azeite, sal e pimenta q.b.
Tomilho e alecrim frescos a gosto
2 col. (sopa) de manteiga
5 ovos inteiros
100ml de natas frescas
1 col. (chá) de alho seco em pó
Pitada de noz-moscada moída
200g de requeijão
300g de pão cortado em cubos
100g de queijo ralado
PREPARAÇÃO
1. Comece por pré-aquecer o forno a 200°C.
2. Descasque a abóbora e corte-a em cubos. Corte os cogumelos em quartos e disponha-os num tabuleiro. Tempere com azeite, sal e pimenta, acrescente parte do tomilho e do alecrim frescos e leve ao forno a tostar durante 15min. ou até as pontas estarem tostadas. Retire do forno, junte a manteiga, envolva e deixe arrefecer. Reduza a temperatura do forno para 180°C.
3.Unte uma forma ou um tabuleiro com manteiga e reserve. Bata os ovos com as natas frescas, tempere com sal, pimenta, alho em pó e noz-moscada e reserve.
4. Numa taça ampla, combine o requeijão esfarelado com as mãos, os legumes assados e o pão cortado em cubos, tempere e envolva bem. Adicione o queijo ralado e transfira para o tabuleiro. Regue com os ovos batidos, disponha o restante tomilho e o alecrim por cima e mexa o tabuleiro para que tudo encontre um lugar e o pão encontre o ovo.
5.Leve ao forno a tostar durante cerca de 35 a 45 minutos.
6. Retire o pudim do forno assim que estiver dourado, mas espere que arrefeça um pouco antes de servir.
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“A minha Avó tratava de fazer fatias douradas, ou fatias paridas, para o lanche. Servia-
-as acompanhadas de um copo de leite gelado, e era uma maravilha! Na mesa da
cozinha da casa que era do Caia e que, depois, passou para a de Campo Maior, uma
mesa de ferro preta e branca, de design escandinavo dos anos 40, com bancos que
encaixavam por baixo da mesa, numa harmonia de que não precisávamos no nosso
mobiliário tradicional, a minha Avó estendia uma toalha de renda e punha a mesa
com os nossos pratos de metal gravados com animais, talheres também gravados e um
copo de vidro colorido. Depois, servia em cada prato uma fatia de pão frito, carregada
de açúcar amarelo e canela, e o tal leite gelado, que assim que entrava nos copos
coloridos lhes exacerbava as cores. Acho que aprendi a beleza da dicotomia com
a minha Avó e as suas sobreposições.”
Fatias douradas
INGREDIENTES
½ l de leite (gordo, de preferência)
4 ovos
Pitada de sal
1 colher de sopa de canela em pó
100 g de açúcar amarelo
6 fatias de pão com 1 ou 2 dias
1,5 l de óleo para fritar (aproximadamente)
PREPARAÇÃO
1. Preparar fatias douradas é muito simples. Comece por dispor os vários elementos em três pratos fundos, pela seguinte ordem: primeiro, o prato do leite; depois, o prato com os ovos batidos com a pitada de sal; e, por último, o prato com a canela em pó misturada no açúcar. Posto isto, quem gosta do pão com côdea não apara a côdea, já quem prefere uma experiência muito suave apara a côdea do pão.
2. Seguidamente, mergulhe as fatias, uma a uma, no leite, do leite transfira as fatias para o prato dos ovos batidos e daqui mergulhe-as na «piscina» de óleo quente até que fiquem douradas. Retiram-se as fatias douradas com uma escumadeira diretamente para uma folha de papel absorvente e daí «rebolam-se» no prato de açúcar e canela. É uma espécie de viagem da fatia dourada, que termina no prato…