A moda é muito mais que beleza ou vestir bem. Ela está diretamente ligada ao que acontece no mundo e à forma como a sociedade lida com tais mudanças. E é inegável que desde março de 2020, muitas coisas mudaram.
Os tempos que correm mostram que tudo merece ser reavaliado, desde as relações pessoais e profissionais até à maneira como as pessoas se vestem e olham para as tendências fortes que são lançadas a cada temporada. Na qualidade de designer de joias, e com tudo isto em mente, reuni algumas transformações que já estão em curso na indústria e aquilo que podemos esperar do novo ano que se avizinha.
Valores de acordo com a economia atual
O mundo inteiro está a sofrer com os impactos negativos da pandemia no setor económico. Para além das medidas de contenção terem provocado uma redução salarial elevada, a necessidade de compra de alguns produtos tem sido questionada pelos consumidores e, por conseguinte, as empresas que pretendam manter-se no ativo terão de rever conceitos. E isso inclui os preços.
A moda não é exceção. O poder de compra diminuiu de uma forma geral, sendo que o consumo por impulso, que marcou o início da pandemia, foi decrescendo. As pessoas estão focadas naquilo de que realmente precisam e analisam a relação custo/benefício de cada compra. Portanto, as marcas devem repensar a forma como chegam ao preço final dos produtos e, muito provavelmente, adequar-se a esta nova demanda.
Roupas para dentro e fora de casa
A moda não serve apenas para vestir pessoas para ocasiões e locais especiais; ela existe para dar soluções à sociedade. Numa altura em que o teletrabalho reina, a oferta terá de passar não apenas por roupas confortáveis, mas também por peças que sejam fáceis de lavar e passar a ferro, visando a praticidade, sem deixar de lado a vaidade de quem quer sentir-se bem vestido dentro de casa.
As pessoas abandonaram o uso de pijamas em tempo integral, que aconteceu muito no início do isolamento. Agora, acordam, vestem-se e permanecem “arranjadas” dentro de casa. Mas estar “arranjado” agora tem outro significado, incluindo peças que remetem à sensação de conforto e, ao mesmo tempo, também podem ser usadas se surgir a necessidade de sair à rua.
Simbologias e memória afetiva
Nós, designers e estilistas, teremos de ressignificar o nosso trabalho. As pessoas procuram peças que lhes passem algum tipo de mensagem; uma simbologia. Eu, por exemplo, passei a consumir muito o que me traz sensações de proteção. E isso será uma tendência na moda de uma forma geral. O público vai procurar roupas, acessórios etc., que lhes transmitam algo positivo. Coleções com simbologias ligadas à proteção e ao aconchego, com desenhos e formas que remetam a momentos felizes, vão estar em alta.
Atemporalidade
Se antes comprávamos algo apenas para uma ocasião e não demorávamos a deixar esse artigo de lado, por conta das tendências, agora acredito que esse conceito passará a fazer mais parte de um conceito criado para o mercado de luxo. O mundo de alta-costura deverá permanecer inabalado, já que tem um público muito específico e com um poder de compra que não sofreu desgaste com a pandemia.
Mas de uma forma geral, pensando em todos os perfil de público, o consumo será direcionado para acessórios, roupas e modelos de calçado que possam ser usados em diferentes ocasiões, ou seja, que não sigam tendências muito específicas. Será a celebração das boas e velhas calças de ganga; das camisolas em cores que se complementam; dos blazers; das calças; dos vertidos com cortes mais justos (porém, confortáveis); dos acessórios com cor e estilo, mas sem exageros.
Moda consciente e respeito pelo meio ambiente
A moda é um reflexo da sociedade e os profissionais que fazem moda não podem alienar a realidade, fingindo que nada está a acontecer ao seu redor. As marcas têm de rever os processos de produção e torná-los cada vez mais sustentáveis. É preciso um olhar mais atento ao que é criado. Uma nova tecnologia para um novo tecido, por exemplo, não pode ser tão interessante a ponto de poluir o meio ambiente ou de causar estragos no habitat de outros seres.
O uso de peles, que já não deveria ser tolerado há muito tempo, a partir de agora é inaceitável. Os testes em animais também devem ser banidos. Estamos a viver uma situação que, ao que tudo indica, teve início exatamente por conta da interferência do Homem na vida animal. Temos de passar a olhar para eles com cuidado ou respeito, ou pagaremos um preço ainda mais alto pelos males que estamos a causar à Natureza no futuro.