“Que o alimento seja o teu remédio e que o teu remédio seja o teu alimento” afirmava Hipócrates, e um estudo recente1 confirma associações diretas entre a exposição a produtos ultraprocessados e 32 indicadores de saúde. A qualidade da nossa saúde mental, respiratória, cardiovascular, gastrointestinal e metabólica está relacionada com o volume de produtos ultraprocessados que consumimos.Comida real: moda ou hábito?
Vai começar a fazer a sua parte? Escolha em consciência e, para isso, saiba mais sobre o que come, evitando modas.
Comecemos pelos ultraprocessados: são produtos alimentícios resultantes de múltiplos processos industriais que incluem corantes, emulsionantes, aromatizantes e outros aditivos, para além de terem grandes quantidades de açúcar, gordura e sal. A comida real está no pólo oposto. Implica que descasquemos mais e que, se tivermos que desempacotar, a lista de ingredientes tenha apenas nomes que conhecemos. O primeiro desafio é no momento de compra: leia a lista de ingredientes e, se não conhecer mais do que dois componentes, deixe o produto na prateleira. Será melhor para a carteira e para a sua saúde.
Considerar comida real uma moda é perpetuar gerações com baixos níveis de saúde e pouca qualidade de vida. A saúde é uma equação complexa, que na prática se traduz em cuidar da nossa alimentação, do sono, da hidratação, do exercício físico e das nossas emoções.
Será necessário comprar os alimentos que vêm do outro lado do mundo para ter uma alimentação equilibrada? Claro que não. Todos os anos surge um superalimento que pouco acrescenta realmente à saúde e que tem equivalentes locais que fazem o mesmo com distinção.
Uma alimentação equilibrada pressupõe o consumo de alimentos reais (que estão no seu formato inteiro e completo), de época e locais. São o que o nosso corpo precisa naquela altura do ano. Seria estranho comer melancia no Natal, certo? Porque a fruta serve para nos ajudar a regular a temperatura corporal (mais alta no verão) e para promover os níveis de hidratação. Em dezembro queremos algo que nos conforte e aqueça. Claro que uma alimentação equilibrada não exclui exceções, que existem e bem, mas não banalizemos as exceções que facilmente se tornarão um hábito. E já sabemos que o hábito faz o monge.
Implementar uma rotina alimentar equilibrada será a base da pirâmide da saúde, pois os alimentos que escolhemos ingerir são o combustível para funcionarmos bem diariamente. Assim como não colocaríamos combustível de má qualidade num Ferrari, porque o fazemos com o nosso corpo diariamente? Comece por cuidar bem das suas células, colocando nutrientes de boa qualidade à sua disposição (por exemplo, leve sempre consigo uma opção equilibrada de lanche (uma fruta, uns frutos secos, uma barra de cereais sem aditivos ou açúcar adicionado, uma granola sem açúcar). Isso influenciará não só os seus pensamentos, como a sua saúde real diariamente.
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1 Lane M M, Gamage E, Du S, Ashtree D N, McGuinness A J, Gauci S et al. Ultra-processed food exposure and adverse health outcomes: umbrella review of epidemiological meta-analyses BMJ 2024; 384 :e077310 doi:10.1136/bmj-2023-077310
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