Sabia que, segundo a Direcção-geral de Saúde (DGS) e uma equipa de investigadores da Faculdade de Farmácia de Lisboa, uma das piores formas de tuberculose, a XDR ou variante extensivamente resistente, é única no mundo, concentrando-se na zona de Lisboa e Vale do Tejo? Resiste a praticamente todos os antibióticos, é curável em apenas 40% dos casos, mortal para seropositivos e para 18% de outros doentes.
Quisemos saber se afinal há razão para alarme e falámos com Maria da Conceição Gomes, pneumologista coordenadora do Centro de Diagnóstico Pneumológico da Alameda (Lisboa) e membro da Associação Nacional de Tuberculose e Doenças Respiratórias. "A cura é mais difícil nestes casos mas estamos a trabalhar para que aumente", confirma-nos. Mas não se trata de uma epidemia nem há razão para alarme: há 25 casos registados de XDR, segundo os dados da DGS.
"Em Dezembro de 2008, a prevalência da tuberculose multi-resistente era de 74 casos, 34% dos quais com critérios de XDR e 66% residentes em Lisboa. Muitos destes doentes são pessoas desorganizadas, que não cumpriram as terapêuticas indicadas ou cuja terapêutica não foi a mais adequada. As pessoas não têm de entrar em pânico, temos é de ter consciência de que é preciso cooperar no tratamento."
Retrato de um velho inimigo
"Portugal sempre foi um país com uma alta incidência de tuberculose", revela-nos a pneumologista. "Em 2008, foram diagnosticados 2916 casos tuberculose, segundo a DGS, incluindo casos novos e retratamentos. Mas a incidência da doença tem vindo a diminuir." O número de casos caiu 7,2% em 2008. A tuberculose multi-resistente também diminuiu: representava apenas 2% do total de casos, em 2008. No entanto, continuamos acima da média europeia, que é de 17 casos por cada 100 mil habitantes. "Mas temos um bom sistema de controlo e notificação de casos, o que faz com que os números sejam reais", diz Maria da Conceição Gomes. A maioria dos casos regista-se em grandes cidades como Lisboa ou Porto. Os homens são duas vezes mais afectados do que as mulheres.
"As pessoas ainda têm muitos estigmas ainda em relação à tuberculose. Continuam a associá-la à morte e têm medo de dizer que estão doentes, por vezes porque alguém na sua família morreu dela, há muitos anos." Um destes estigmas é a noção errada que a doença quase só afecta doentes de VIH/sida ou toxicodependentes. "Não são apenas essas pessoas que ficam doentes. Somos um país em envelhecimento, com muitas doenças crónicas que debilitam a imunidade, como doenças oncológicas, reumáticas e a diabetes. Uma pessoa já vacinada pode ser contagiada com o bacilo se a sua imunidade estiver alterada. É preciso que a população portuguesa se lembre que a tuberculose ainda existe a tuberculose e que não é só o toxicodependente ou o doente de Sida que adoece."
Esteja alerta aos sinais
Por isso, é importante que as pessoas estejam informadas sobre os sintomas da doença:
– Tosse há mais de três ou quatro semanas
– Expectoração
– Cansaço
– Suores
– Febre baixa
– Sensação de aperto no tórax
– Perda progressiva de peso e apetite
O contágio dá-se por via aérea, de pessoa doente para um indivíduo saudável. Os bacilos podem viver cerca de 72 horas e depositar-se no chão, por isso é importante uma higiene criteriosa, sobretudo de locais fechados e com muita gente: lavar o chão e arejar o local com frequência são medidas aconselhadas por Maria da Conceição Gomes.
"Os doentes, quando sabem do diagnóstico, encaram-no como a pior das desgraças mas o mito da incurabilidade da doença está ultrapassado. Há que fazer o tratamento e rastrear as pessoas que convivem directamente com o doente", desdramatiza a especialista. O tratamento demora entre seis e nove meses e é preciso seguir à regra a toma diária de medicação prescrita, sob pena de se vir a desenvolver uma forma da doença resistente a tratamento.
Números negros da tuberculose
. Cerca de 1/3 da população mundial está infectada com o bacilo de Koch, mas apenas uma pequena parte desenvolve a doença quando o sistema imunitário fica debilitado.
. Aparecem, anualmente, 9 milhões de novos casos em todo o mundo
. Há 1,7 milhões de mortos por ano