Entre as muitas alterações físicas impostas pela menopausa, a perda de colagénio é a que mais se reflete na pele. “Nos primeiros cinco anos, há uma redução de 20% do colagénio da mulher. Nos 20 anos seguintes, reduz 2% a cada ano”, começa por explicar João Maia Silva, Coordenador de Dermatologia do Hospital CUF Descobertas. Sendo esta a proteína responsável pelo sustento da pele, pela sua firmeza e elasticidade, é fácil imaginar as implicações práticas da sua perda. Mas esta não é, de longe, a única consequência desta fase da vida da mulher, que começa um ano após a última menstruação. Segundo o especialista, estes são os sinais a que deve estar atenta:
PERIGO REAL
“O sol tem um efeito cumulativo”, diz o especialista. Isso significa que todas as horas de sol nas férias grandes da nossa infância se juntam às aventuras experimentais da adolescência, em busca do tom dourado perfeito, num bolo que, claro, inclui também as folgas soalheiras da vida adulta. Todas estas agressões – porque, sim, o bronze é um mecanismo de defesa – além de envelhecer, põem em risco a saúde da pele. Mais do que nunca, “é preciso estar atento ao cancro de pele” e, neste campo, a palavra de ordem é “autovigilância”. Pintas escuras, escamas ou feridas que não cicatrizam – nenhuma destas é natural. A recomendação é que consulte o seu dermatologista a cada dois anos.
MANCHAS
Os efeitos da exposição solar surgem aos 30 ou 40 anos quando, de um dia para o outro, nos olhamos ao espelho e perguntamos ‘de onde é que estas manchas apareceram?’. Brotam no rosto, no dorso do braço e nas mãos. “São as chamadas flores do cemitério” – quem é que achou que este nome era uma ideia feliz? “É possível tratá-las”, garante o especialista. Mas o grande conselho – adivinhe – é usar protetor solar.
RUGAS
Além das manchas, e como consequência não só da perda de colagénio mas também da redistribuição de gordura, alterações da estrutura óssea e, invariavelmente, da gravidade, começam também a aparecer cada vez mais rugas. Para isto, como em (quase) tudo na vida, o segredo é “começar mais cedo, antes da desgraça e ir fazendo manutenção”. Manutenção? Já lá vamos.
PELE SECA
Como consequência da diminuição de estrogénio, a pele fica mais seca. “É viver com isso”, diz-nos o pragmatismo de Maia Silva, e não deixa de ter razão. Há que ter atenção à limpeza, não queremos retirar toda a gordura à pele. Devemos enriquecer a barreira cutânea, para evitar ao máximo a perda epidérmica. “Há cremes que chamam a água e, depois, há cremes que mantêm a água na pele.” Devemos usar os dois. “Quando aplica um creme hidratante e ele desaparece logo, significa que o produto teve capacidade de chamar água, mas não teve capacidade de a manter.”
PELE SENSÍVEL
Limpezas em casa, um simples passeio, ou até produtos que já usava e agora não tolera: a pele fica irritada com mais facilidade. Por estar mais seca, prurido também é natural. Aquele creme que usa há anos mas que agora causa alguma reação? Não enlouqueceu, estas coisas acontecem mesmo. Mas se continua a dar-se bem com o que sempre usou, é continuar: “Não há habituação a cremes, isso não existe.”
ACNE TARDIO
Sim, ouviu bem. Essa condição que lembra a adolescência pode, muito bem, aparecer também na menopausa. Irónico, não é? De novo, culpa das hormonas. Como em tudo, há solução. “O importante é reconhecer o mais cedo possível e procurar ajuda.”
EQUIMOSES
Se descobre nódoas negras que não sabe de onde vêm, vai piorar. Com a perda de estrogénio e colagénio, a pele fica mais frágil, os vasos rompem com mais facilidade e isso resulta numa maior facilidade em desenvolver equimoses. O dorso das mãos e o antebraço são as zonas mais comuns.
CICATRIZAÇÃO
Não é impressão sua, a capacidade cicatrizante do seu corpo está mesmo mais lenta. Há que “ter mais paciência, garantir que não se desenvolve uma infeção e ajudar com cremes próprios, cicatrizantes”.
PELOS FACIAIS
Com a redução das hormonas femininas e o aumento das masculinas, é natural o aparecimento de pelos faciais. Além da sempre garantida pinça, existem cremes para amenizar e há também opções a laser. Se for a tempo, e os pelos ainda não forem brancos, comece já a tratar disso. Quando o pelo perde o pigmento a tarefa é mais difícil, contudo possível.
ALOPÉCIA ANDROGENÉTICA
Nascem onde não devem, mas caem onde deviam permanecer – também culpa das hormonas masculinas. Boas notícias, há forma de controlar a queda. “Temos de garantir que a linha de montagem está preparada (controlando as hormonas masculinas) e assegurar que a fábrica continua a trabalhar (estimulando o crescimento).” Para isso, há tratamentos (tópicos e suplementos): consulte o seu dermatologista.
E EM CASA, O QUE PODEMOS FAZER?
O segredo está na consistência. “É uma questão de manutenção, mais do que tratamentos milagrosos.” O protetor solar deve ser o seu melhor amigo. É a melhor forma de prevenir manchas e rugas (e cancro de pele). Deve procurar construir uma rotina de cuidados da pele que inclua derivados da vitamina A, os conhecidos retinóides, dado que estimulam a produção de colagénio. Quererá também incluir vitamina C, para colmatar o stresse oxidativo. Ácidos exfoliantes são úteis, na medida em que promovem a renovação celular – prefira os AHAs (alfa-hidroxiácidos), como o ácido glicólico. Por último, niacinamida: com efeito anti-inflamatório, ótima para reduzir a hiperpigmentação. “Atenção à tolerância e à fotossensibilidade”, lembra Maia Silva. Deve testar cada um destes produtos numa área pequena para despistar reações, incluir um de cada vez na rotina. E atenção ao sol, já que alguns destes ingredientes vão sensibilizar a pele.
O ideal será aliar a rotação entre estes ativos à hidratação. É provável que sinta necessidade de trocar o seu creme por um mais nutritivo, rico em óleos. Queremos manter a gordura natural da pele. O mesmo vale para o corpo – sim, também terá tendência para ficar mais seca, com a idade.
Numa nota positiva, se já chegou a esta fase, entenda-a como a motivação de que precisava para começar a cuidar mais da sua pele – aquela resolução de Ano Novo de há demasiados anos velhos. Se já tinha uma rotina construída, mantenha-a e desfrute: agora, mais do que nunca, começa a perceber que todos os anos de protetor solar valeram a pena.
“UMA CORZINHA COM PÓ DE ARROZ”
No que à maquilhagem diz respeito, falámos com José Teixeira, maquilhador da Dior International ProTeam. “Os cosméticos mais indicados para a pele após a menopausa serão aqueles classificados como de ‘longa duração’ e com maior cobertura. Costumam ser resistentes ao suor e não transferir.”No entanto, alerta o maquilhador, “produtos com muita cobertura tendem a acentuar as linhas de expressão e os de longa duraçãoa causar desconforto numa pele já de si mais frágil e seca”. Como encontrar o equilíbrio? José Teixeira deixa umas dicas:
• Para contrariar a pele baça e com falta de luminosidade, escolha uma base de longa duração luminosa;
• Prefira o corretor a uma base com maior cobertura, que poderá acentuar a textura e linhas da pele. Reforce a cobertura pontualmente, apenas onde necessitar.Na olheira, evite o canto externo, uma vez que é uma zona tendencialmente mais seca e com mais rugas;
• Evite colocar base junto à linha do cabelo;
• Utilize pó matificante. Se for necessário,leve um consigo na carteira;
• Refresque o rosto ao longo do diacom uma bruma hidratante;
• Aplique o blush em sítios estratégicos: encoste 2 dedos ao sulco nasogeniano e aplique o blush daí para fora e para cima.