Recentemente, o Linkedin introduziu uma nova categoria – o Career Breaks – para utilizadores poderem completar os seus perfis. Esta nova categoria que pode parecer inocente ou até trivial, é um impulso à
normalização das situações de pausa na atividade laboral, seja ela de livre vontade ou inicialmente forçada.
Como todos sabemos, a carreira acompanha as diferentes etapas da nossa vida, adaptando-se a ela. Durante estes períodos, é normal existir uma inversão de prioridades e valores; ou, se preferirem, uma normal e natural mudança. As carreiras são feitas de ciclos, assim como tudo na vida. E, entre um ciclo e outro, às vezes, é necessário fazer uma pausa.
A importância desta nova opção criada pela plataforma Linkedin, rede profissional por excelência onde os recrutadores caçam talento e se desenvolve networking estratégico, vem ajudar e normalizar a ideia de que as carreiras nem sempre são lineares – e que, sim, podem existir pausas, “espaços em branco”, e que estes podem ser benéficos para o desenvolvimento e aprendizagem pessoais e profissionais.
Pausas longas para formação, licenças parentais, ou simplesmente para descanso pessoal, e desenvolvimento de projetos, são momentos em que inevitavelmente cada um de nós desenvolve as chamadas competências transversais. Estas competências são aquelas que levamos ao longo da nossa carreira, de função para função, de empresa para empresa, de cargo para cargo – como são por exemplo: a capacidade de comunicação, liderança, inteligência emocional, empatia, capacidade analítica, competências digitais, entre muitas outras – e que, no fundo, nos capacitam para diferentes cenários em qualquer organização. São também estas competências que se tornam o nosso diferencial face a outros profissionais do mercado.
Devemos ainda ter em atenção que, nos dias de hoje em que o tema da saúde mental é tão debatido, as pausas de carreira devem ser consideradas como momentos decisivos para a nossa felicidade, bem-estar e capacidade de desempenho. Uma pausa na carreira, com o foco certo, pode ser a melhor maneira de progredir na mesma a seguir. Normalizemos de uma vez por todas o fato de que o tempo de inatividade não é improdutivo; é, sim, essencial para o progresso. Abraçar a oportunidade de dar a si mesmo tempo e espaço para pensar, sentir e
experimentar não é contraditório ao progresso de sua carreira, pelo contrário: este tipo de autocuidado enquanto prática regular, trará um desempenho mais aprimorado.
Através do impulso dado pelo Linkedin, os recrutadores estão a deixar de catalogar as pausas de carreira como momentos negativos, e perceber que os candidatos que tomaram estas decisões são um poço de “talento oculto”, na sua maioria muito mais motivados e preparados para o retorno ao mercado de trabalho, e com uma gestão e
prioridades mais assertivas. Já para os candidatos que tiveram a coragem de tomar esta opção, a rede Linkedin
veio ajudar a acabar com o estigma e os rótulos que levavam a crer que estas pessoas estiveram simplesmente paradas sem nenhum acréscimo para a carreira neste período. Acaba ainda a necessidade de ter de camuflar estas pausas nos Currículos para que os candidatos não fossem automaticamente excluídos nas triagens.
A decisão do Linkedin de tornar a “interrupção de carreira” uma categoria oficial na seção Experiência do perfil do Linkedin valida a interrupção da carreira como uma parte natural no percurso de carreira daqueles que optam por esta via – e reconhece o valor da própria experiência de interrupção da carreira. Isso marca um grande salto nos processos de atração de talento, onde até agora os candidatos com este tipo de experiência são habitualmente preteridos face a outros. A todos os que tomam esta decisão, devem ter em conta no seu regresso ao mercado
de trabalho e em sede de entrevistas de emprego, a necessidade de realçar os pontos positivos, as aprendizagens, as possíveis experiências pessoais desenvolvidas; ou frisar apenas, se assim o for, como esta pausa contribuiu para o seu desenvolvimento e crescimento, e as razões pelas quais se sente pronto e preparado para o regresso. Em jeito de conclusão, como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade: “A Vida precisa de pausas.”
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.