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Dias longos, pés descalços, muita brincadeira, novas amizades. O verão chega em junho e traz consigo a promessa de dias felizes, memórias doces, cheiro a maresia, e tantas outras coisas, saibamos nós encontrá-las.
Mas o verão apresenta-se, não raras vezes, como uma época difícil, a dar dores de cabeça aos pais, que não têm dois meses e meio de férias como os filhos. Na verdade, e para muitos, a grande preocupação passa por decidir como mantê-las felizes e seguras enquanto trabalham. E, se há quem tenha a sorte de poder contar com o apoio dos avós, familiares ou amigos, há também quem, não podendo contar com esse suporte, se veja a braços com um desafio hercúleo: o de decidir como entreter ou ocupar as crianças um verão inteiro.
Ora, talvez pudesse ser um possível ponto de partida começar por pensar o que gostávamos nós, na nossa infância, de fazer nas férias grandes. É certo que os tempos eram outros, a estrutura familiar de apoio era também ela diferente da dos dias de hoje, mas a verdade é que, se recuarmos à nossa infância, talvez encontremos algumas ideias bem interessantes, e atuais. Nem todos tivemos as mesmas vivências, nem todos tivemos a hipótese de experimentar o mesmo, mas há algo, seguramente, que conseguimos ir buscar para pôr em prática e que, para além de deixar as crianças felizes, irá elevar os níveis de satisfação dos adultos-pais. Resta descobrir o que seja.
Uma outra ideia será, defendo eu, perguntar-lhes a elas, crianças, o que gostariam de fazer nas férias de verão. Façam uma checklist, pais e filhos, e comparem. Acordem o que conseguem e o que é possível fazerem. Decidam pelo que reúne maior consenso. Estabeleçam prioridades ou tirem à sorte. Vale tudo para saborear o verão da melhor maneira: em família.
Mais, não se esqueçam que as crianças não são pássaros de gaiola. São livres, gostam de brincar, não temem experimentar e precisam de tempo, lento e demorado, do tempo que não têm durante o extenso período de escola, do tempo que teimamos em encurtar quando lhes balizamos as horas do dia, dos dias de férias.
Talvez haja algo que eu possa partilhar e que, parecendo demasiado simples, óbvio diria, é a mais pura das verdades, acreditem. Quando um educador ou professor pergunta, ou pede para escrever, a uma criança, no regresso à escola, o que mais gostou de fazer nas férias de verão, nas palavras surgem coisas muitos simples e, raramente, ligadas a atividades desenvolvidas fora do espaço família. Jogar às cartas ou ao jogo do galo; pintar desenhos; fazer um bolo ou um jantar especial para os primos; fazer uma mangueirada ou brincar com balões de água; ter um dia especial da semana para comer gelado; fazer uma hamburgueria em casa com pacotes para as batatas e tudo; jogar às rimas e às matrículas durante a viagem para algum lado; ir para uma tenda e ir à praia mesmo sem sol; comer primeiro a sobremesa e a seguir o jantar; poder comprar o que se quiser num café com um euro; fazer copos de papel para beber água da fonte ou fazer um quantos-queres são apenas algumas pérolas de um verão que rima com diversão, animação, emoção, coração e tantas outras rimas com as quais podemos nós, pais e famílias, pôr o verão a rimar.
Férias pedagógicas sim, campos de férias são opção e Centros de Estudos e ATL’s também. Porque não temos três meses de férias como eles e precisamos de ajuda. Porque precisamos de trabalhar, sabendo-os em segurança e a aproveitar as férias. Porque três meses para ocupar não é fácil.
Mas precisamos, acima de tudo, que as crianças guardem das férias de verão da sua infância memórias de dias felizes, pois é nelas, mais tarde, que encontrarão conforto para dias mais difíceis.
E há tanto que pode ser feito, sem grande investimento, mas com algo extremamente importante: tempo. O nosso, sobretudo.
Algumas ideias:
– Ler, muito, em conjunto (pais também e não apenas os miúdos), de tudo (também vale o jornal do futebol) e em todo o lado (casa de banho incluída)
– Visitar uma biblioteca municipal e requisitar um livro (não precisam de comprar os livros e as crianças aprendem com o comprometimento de lerem o livro no tempo de que dispõem)
– Brincar com água: vale tudo – balões de água, pistolas de água, mangueiras, piscinas, lavar roupa ou bonecos num alguidar, regar (a minha filha Eva, a do meio, disse-me que não poderia nunca escrever um artigo sobre férias de verão sem falar em brincadeiras com água)
– Cozinhar: os menos prendados podem optar por gelatina ou limonada; os mais corajosos por bolachas ou um bolo colorido (já experimentei com corantes e funciona)
– Fazer uma caminhada pelo bairro e tentar conhecer os vizinhos que não conhecem (fazem exercício, desenvolvem a empatia e ainda podem ter a sorte de receber uma tigela com figos)
– Pintar pedras (confesso que prefiro esta opção a pintar desenhos)
– Fazer um piquenique (faço menos do que gostaria, vou colocar na minha cheklist deste ano)
– Ser estilista: pegar numa peça de roupa e deixá-los transformá-la (com a condição de que terão de a vestir depois)
– Construir um álbum de fotografias (em conjunto escolher fotografias de dias felizes, legendá-los e revivê-los)
– Ir a uma festa de aldeia (e tentar convencer os miúdos, sobretudo os mais velhos, a dançar – boa sorte, já tentei, mas não consegui)
– Visitar um museu: há tantos e, muitas vezes, quase sempre, tão pertinho de nós (por aqui temos o Museu Nacional Ferroviário)
E a grande dica para este verão: uma Caixinha do Tempo.
Receita: arranjem uma caixa à vossa medida; decorem-na em conjunto; guardem nela memórias dos vossos dias felizes (fotografias, talões de compra, bilhetes de cinema, desenhos, postais, flores, conchas…), das férias de verão dos miúdos, das vossas férias de verão. Guardem-na num lugar de destaque e regressem a ela sempre que precisarem!