As pessoas com 80 e mais anos, assim como os doentes com indicação, estão a ser vacinadas contra a gripe desde o dia 7 de setembro. Uma campanha nacional de vacinação, com início este ano numa data mais precoce para conseguirmos vacinar mais pessoas e atingirmos uma elevada taxa de vacinação antes do inverno começar. O objetivo é vacinar cerca de 3 milhões de pessoas em 100 dias!
A gripe é uma infeção vírica sazonal, muito contagiosa, típica do inverno, muitas vezes confundida com uma banal constipação. A confusão é devida à semelhança de alguns sintomas: congestão nasal (nariz entupido), dor de cabeça e de garganta e até febre. Mas, apesar de semelhante nas queixas, tem gravidade potencial diferente. No mínimo, provoca dores no corpo que nada têm a ver com a banal constipação. Talvez por isso, é habitual ouvir dizer que se está “engripado” quando se está constipado, o que quer dizer que não é bem gripe! E também é frequente ouvir “fui vacinado e constipei-me na mesma…!” Claro, a vacina da gripe não tem nada a ver com constipações.
Especialmente nos doentes crónicos e nos idosos, a gripe pode evoluir para uma doença preocupante e até fatal. Os doentes respiratórios, os diabéticos e os cardíacos são particularmente vulneráveis, assim como as pessoas com 65 anos ou mais. Se juntarmos doença e idade é ainda mais preocupante. Sendo uma doença potencialmente grave, justifica-se a vacinação do maior número possível de pessoas vulneráveis. Sendo assim tão importante, a vacina da gripe é gratuita e está disponível nos centros de saúde.
Como temos uma vacina sem efeitos secundários, e já muito utilizada há muitos anos, e sendo a gripe uma infeção que pode ser grave num grupo de pessoas tão bem conhecido, a atitude mais correta é disponibilizar esta vacina em tempo útil. A campanha de vacinação começou pelas pessoas mais velhas e progressivamente serão integradas mais pessoas até chegarmos aos cidadãos de 65 anos. É um programa bem delineado e planeado de modo a conseguirmos o êxito de vacinação. Como tem acontecido desde há vários anos, a vacinação contra a gripe atinge elevadas taxas de pessoas vacinadas como é necessário para a doença ser evitada ou minimizada. No entanto, há vários aspetos de cobertura vacinal que importa apreciar com atenção. É fundamental vacinar o maior número possível de pessoas de risco em tempo útil. Significa vacinar duas a três semanas antes dos dias frios típicos de inverno. Nos últimos anos, atingimos taxas de vacinação elevada (acima de 80%), mas arriscamos muito porque vacinamos tarde de mais apesar de vacinarmos muitas pessoas! O ideal seria atingirmos elevadas taxas de vacinação para a gripe no final de novembro, ou o mais tardar, no início de dezembro, ou seja, antes da chegada dos dias frios. Mas não é isso que tem acontecido.
Na última campanha de vacinação contra a gripe, no final de novembro de 2021, tínhamos menos pessoas vacinadas em relação ao ano anterior. Desde 2014, nunca atingimos os 60% na população com 65 e mais anos e menos ainda nos doentes crónicos elegíveis para vacinação prioritária e gratuita. Pior ainda é verificar que a taxa de doentes com risco cardiovascular baixou de 54% em 2020 para 52% em 2021. Se já estávamos mal, pior ficamos! Porquê se a vacina é gratuita para estes grupos de risco?
O isolamento a que fomos forçados nos últimos dois invernos e o uso de máscaras faciais ajudaram muito a dificultar a propagação do vírus da gripe. Por outro lado, os últimos dois invernos não terão sido muito rigorosos. Mas se tivermos um inverno frio nos próximos meses de dezembro e de janeiro e se não tivermos cuidado com o aquecimento das casas e com a utilização de roupa adequada, as pessoas não vacinadas contra a gripe terão grande probabilidade de contrair a doença. Os idosos e os doentes crónicos correriam um risco maior e desnecessário de contrair gripe grave se não estivessem vacinados. Será possível corrigir a estratégia?
Procuremos meios de intensificar a campanha de vacinação contra a gripe nas próximas semanas. Ajudemos a promover a vacinação contra a gripe, rapidamente. Não há frio sem gripe nem gripe sem frio.
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