Existe uma imagem clássica que nos chega do cinema que é a de um casal deitado na cama depois de ter tido relações sexuais a fumar um cigarro. Não sei em que películas é que aparece esta cena, nem sei tão pouco se ela de facto surgiu em muitos filmes, ainda que se trate de uma imagem que pertence ao imaginário de todos nós. Infelizmente, e por incrível que possa parecer, são poucos os filmes em que um preservativo surje associado à relação sexual. Nem na pornografia é mostrado como se coloca um preservativo! Nestes filmes, quando são utilizados (e não o são assim com tanta frequência) aparecem já como que magicamente colocados, sem se perceber como surgiram nem quem tomou a iniciativa de os colocar. Talvez o preservativo seja considerado um objecto demasiado explícito… O certo é que existe um certo pudor em falar e em mostrar preservativos nos filmes para o grande público, o que acaba por limitar o importante potencial educativo que o cinema pode ter, também ao nível da sexualidade. Todos nós temos tendência para imitar modelos e comportamentos que surgem retratados nos meios de comunicação social, o que é ainda mais verdade entre os jovens. Assim, está a falhar no cinema uma importante mensagem de educação sexual.
Todas estas ideias surgem-me a propósito de um estudo recente realizado pela Deco de acordo com o qual um dos motivos apontados pelos inquiridos para não utilizarem o preservativo é o seu elevado preço. Não pude deixar de pensar que apesar do elevado preço do tabaco, a grande maioria dos fumadores não deixa de fumar… Creio que, pelo menos em parte, mais do que o preço são as dificuldades em comprar preservativos numa farmácia ou mesmo num supermercado que fazem com que muitos acabem por não os utilizar. Porém, e continuando com este paralelismo entre cigarros e preservativos que me parece curioso, sabemos que em países nos quais o tabaco aumentou para preços exorbitantes o seu consumo decresceu. Quero com isto chamar a atenção de que, se a promoção de comportamentos saudáveis é, além de todos nós, da responsabilidade de governantes, baixar o preço dos preservativos (e certamente aumentar o preço do tabaco também!) seriam medidas importantes a tomar para melhorar a saúde dos portugueses.
Algumas pessoas impõem sobre os seus parceiros a não utilização do preservativo. Muitas impõem sobre as outras o fumo do seu cigarro. Em ambos os casos estamos perante situações de falta de respeito pela saúde e bem-estar de outros, uma vez que os cigarros dão prazer mas são maus para a saúde e os preservativos, de acordo com alguns retiram o prazer, mas são protectores da saúde. Falta ainda em Portugal uma cultura da saúde, ou seja, uma cultura em que as pessoas assumam como óbvio o facto de que certos comportamentos são maus para o seu corpo, que podem ficar doentes devido a eles e que, além disso, a protecção da saúde do outro é, mais do que um acto de amor, um acto de responsabilidade e respeito para com ele. Porém, ainda muito há por fazer para que aí possamos chegar. É daquelas áreas em que educação cívica e promoção da saúde se encontram de mãos dadas e, a bem da verdade, nenhuma delas é o nosso forte…