BEATRIZ GOMES DIAS
BE, Vereadora na Câmara Municipal de Lisboa
Quando surgiu o seu interesse pela política?
Os meus pais eram politizados, era um assunto presente em família. Aos 19 anos inscrevi-ne na SOS Racismo porque o combate ao racismo e à discriminação racial já era uma causa que me mobilizava. Na faculdade, participei em iniciativas do PSR [antecessor do BE], o projeto político que na altura melhor respondia às minhas preocupações, era progressista e de esquerda. O BE mantém essa matriz e é também comprometido com a luta feminista, antirracista, contra as desigualdades, no combate à homofobia, todas as formas de discriminação, que considero essenciais para a transformação social.
O que significa para si ser a primeira vereadora negra na maior câmara do país?
Significa bastante, estou a representar uma parte da sociedade portuguesa muito pouco representada na política. A nossa candidatura à CML teve como base um programa de intervenção na cidade muito importante, de combate às desigualdades, às múltiplas discriminações, de resposta à falta de habitação a preços acessíveis e à emergência climática. A minha eleição é também uma conquista do movimento social antirracista pois afirma as pessoas racializadas como sujeitos políticos também.
E outras conquistas políticas?
A minha eleição como deputada foi também uma conquista que permitiu influenciar o debate político, dando centralidade ao combate ao racismo e discriminação racial. Depois, a alteração da Lei da Nacionalidade, a reorganização do SEF, deixando de existir uma polícia específica para migrantes, e a criação de uma agência para as migrações e o asilo.
Uma palavra que a define: Coragem
Em algum momento pensou desistir
da luta política?
Nunca, mas houve momentos de grande opressão, quando sou alvo de insultos, ou são divulgadas notícias falsas sobre mim, quando sou tratada de uma forma que me subalterniza. Mas nessas alturas há uma ideia que me acompanha: o caminho que hoje estou a percorrer foi construído com luta e sacrifício por muitas pessoas antes de mim.
O que mais aprecia
e o que a tira do sério na política?
O que me tira do sério é a desonestidade, as mentiras, usar o ódio e a divisão como arma política, a desinformação. O que mais aprecio é a possibilidade de poder contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Quais são os maiores entraves à participação das mulheres na política?
O facto de vivermos numa sociedade patriarcal que naturaliza a discriminação de género. Existe a ideia de que os homens são mais vocacionados para a política do que as mulheres, e isso continua a ter impacto na socialização. O novo parlamento eleito tem menos mulheres que o que foi dissolvido. O BE é o partido que tem maior número de mulheres na sua bancada: 60%.
3 mulheres inspiradoras
A minha mãe, foi ela que me ensinou a ser independente, a acreditar nas minhas qualidades e capacidades; Angela Davis, enquanto ativista política; e Nina Simone, artista extraordinária que fez ativismo político através da música. E todas as mulheres que combateram pela emancipação, na libertação dos povos dos territórios ocupados por Portugal.
O que faz nos seus tempos livres?
Leio, vejo documentários, costuro, faço peças de bijutaria.
Um discurso que a tenha marcado
O da artista sul-africana Miriam Makeba na ONU, em 1963.
Uma frase motivadora que costume citar
‘Ainda assim eu me levanto’, de Maya Angelou.
*Partidos políticos que tinham deputadas na AR em 2022.