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Além de termos níveis muito baixos de vitamina D – mais baixos até que os povos do norte da Europa, que têm muito menos exposição solar – um estudo recente revelou que grande parte da população portuguesa tem uma predisposição genética que não permite que façamos síntese da vitamina D, mesmo quando nos expomos ao sol. Como esta vitamina tem um papel fundamental também ao nível da imunidade, convém mesmo saber como andam os nossos valores para nos protegermos melhor a longo prazo. Falámos com Conceição Calhau, professora catedrática da Nova Medical School, para percebermos melhor como funciona esta vitamina (que não é bem vitamina, leia mais à frente para saber o que é), o que pode impedir a sua síntese, o que devemos fazer para colmatar a sua deficiência e melhorar a saúde em geral.

Portugal tem muito sol e baixos níveis de vitamina D
“Não é exclusivo de Portugal, as populações dos países do sul da Europa têm uma prevalência de deficiência de vitamina D muito superior às dos países do norte da Europa, e são três as razões porque isto acontece: em primeiro lugar, os países do norte da Europa não assumem que têm sol e por isso apostam em políticas de fortificação de alimentos com vitamina D, nos cereais por exemplo; depois, essas populações estão muito mais disponíveis para fortificações vitamínicas, tomam suplementos de vitamina D, como óleo de fígado de bacalhau. Por outro lado, nós em Portugal temos o preconceito de que como somos um país de sol não precisamos de fazer suplementação, nem temos políticas de fortificação de alimentos, além disso temos outra agravante: uma característica genética que é mais prevalente na população dos países do sul da Europa – em Portugal é ainda maior que em Espanha – que não nos dá as ferramentas para fazer a síntese de vitamina D, mesmo apanhando sol. As pessoas com esta característica genética têm uma suscetibilidade maior para ter deficiência de vitamina D.
A somarmos a isto vivemos em cidades, o que leva a que não andemos ao ar livre tanto tempo como era costume. O que acontece agora é que apanhamos sol de forma aguda no verão, de uma só vez, quando estamos de férias. Estas razões explicam a prevalência superior a 60% da população em Portugal com deficiência de vitamina D.”

A interferência de certos medicamentos
“É verdade que alguns medicamentos podem levar a um comprometimento dos níveis de vitamina D, como é o caso das terapêuticas com corticóides. Estes comprometem o metabolismo daquela vitamina e portanto é muito mais prevalente a deficiência de vitamina D nos indivíduos que tomam corticóides e por isso estes devem fazer maior vigilância. Isso acontece também com quem toma estatinas para baixar o colesterol, porque há uma inibição da síntese do colesterol pelas estatinas, e essa inibição compromete também a síntese da vitamina D.”

Obesidade piora ainda mais a deficiência
“No mundo ideal, naquilo que seria a fisiologia no seu melhor, nós faríamos a síntese da vitamina D porque nos expúnhamos ao sol através da atividade diária ao ar livre, a nossa alimentação seria mediterrânica, e o que armazenássemos no tecido adiposo no verão seria libertado no inverno. Isto seria o ideal. O que acontece na realidade é que não comemos de forma ideal, nem a nossa exposição é a adequada. Para além disso, quem tem peso a mais ou é obeso, tem mais outro problema adicional: um tecido adiposo que capta a vitamina D mas destrói-a rapidamente. Ou seja, quem tem excesso de tecido adiposo, as células do tecido adiposo, os adipócitos (que armazenam a gordura), começam a funcionar mal, aos quais chamamos adipócitos disfuncionais. Estes têm mais de uma enzima que degrada a vitamina D e faz com que a deficiência desta vitamina seja muito mais prevalente nos obesos por esta razão.”

Influenciadora… total
“Nós tínhamos, no século passado, uma ideia de que a vitamina D era importante para prevenir o raquitismo nas crianças e a osteomalácia e a osteoporose no adulto, e o cálculo das doses diárias necessárias desta vitamina só teve como objetivo evitar estas doenças.
Atualmente, sabemos muito mais sobre ela, sabemos, por exemplo, que é muito importante para o bom funcionamento do sistema imunitário. Este tem de ser capaz de reconhecer aquilo que é do próprio, aquilo que não é do próprio e, do que não é do próprio, o que é uma ameaça e o que não é ameaça. É por isso que quando há comprometimento do sistema imunitário surgem as doenças autoimunes porque ele deixa de ser capaz de reconhecer aquilo que é nosso, e começa a achar que é uma ameaça.
A vitamina D é também essencial para a proliferação das células e do seu controlo, o que quer dizer que em muitas situações nós temos a deficiência da vitamina D a associar-se a cancros, como o da próstata ou da mama, por exemplo.
Tem também muita importância na Esclerose Múltipla, uma doença rara nos países árabes, mas que, a partir dos anos 80, quando as mulheres passaram a ser obrigadas a usar aquelas vestimentas que cobrem o corpo, viram os números desta doença disparar.
Outra situação que está associada à deficiência de vitamina D é a hipertensão arterial. A vitamina D, ao contrário das outras vitaminas, é uma hormona, e enquanto hormona regula a síntese da renina, um dos elementos do sistema que no nosso organismo é responsável pelo controlo e regulação da pressão arterial. Digamos que a vitamina D é uma espécie de polícia, ela faz diminuir aquilo que faz aumentar a pressão arterial. Por isso, quando temos deficiência de vitamina D temos uma maior suscetibilidade à hipertensão arterial.

A importânciada vigilância e suplementação
É fundamental que as pessoas procurem os profissionais de saúde para vigiarem os valores de vitamina D. Não devem automedicar-se, porque a prescrição da suplementação deve ser feita à sua medida até ficar equilibrada e depois ir vigiando para manter os níveis. Se calhar também podem pedir para fazer um teste genético, porque sabendo que tenho um erro genético se calhar não tenho de andar a vigiar tantas vezes os níveis de vitamina D, porque a prescrição médica aqui também vai ser muito mais eficaz. Isto, no fundo, é uma aposta na Medicina de prevenção, se identificarmos os indivíduos de risco eles não terão depois as sequelas ou as doenças associadas à deficiência de vitamina D, com grande peso no SNS e no que é a qualidade de vida das pessoas.”

Atenção na perimenopausa e menopausa
É pena que uma parte dos profissionais de saúde só vigiem a densidade óssea depois da menopausa. A densidade óssea pode começar a ser comprometida numa idade jovem, dado que estes não estão a ingerir a quantidade de cálcio aconselhável ao reduzir drasticamente os laticínios e isso vai comprometer a massa óssea, além também de poderem ter níveis deficientes de vitamina D ao longo das suas vidas. Quando chegarem à menopausa, vão ter problemas ósseos. É claro que a suplementação na menopausa, caso seja necessário, é importante porque é uma fase de remoção óssea maior dado que os estrógenos baixam e aquilo que levaria à preservação da massa óssea vai baixar. O meu conselho é: mais atenção à ingestão de cálcio e à ingestão de vitamina D. Aconselhem-se com o vosso médico.”


Onde vamos buscar esta vitamina
Temos duas formas de obter esta vitamina: através da dieta (20%) e da luz solar, isto de uma forma geral. Mas a verdade é que nem os 20% nós conseguimos obter porque as fontes de vitamina D de que estamos a falar estão nos alimentos com gordura, peixes gordos, ovos, cogumelos e nos laticínios, por exemplo. E não conseguimos obter porquê? Porque, primeiro, não comemos muito peixes gordos e depois, mesmo que façam parte do nosso menu, como a vitamina D é lipossolúvel, ao grelharmos ou cozermos o peixe a gordura dissolve-se comprometendo assim a vitamina. Em relação aos laticínios, o problema é que cada vez maior porque as pessoas optam por não ingerir laticínios, ou escolhem as versões magras. E mais preocupante, os laticínios são fontes de cálcio e este mineral não funciona corretamente no nosso organismo se não tiver a ajuda da vitamina D para ser absorvido, ora se esta for insuficiente no organismo isso significa que vai haver um comprometimento da massa óssea.”

Não apanhe sol de uma só vez
O ideal é fazer longos passeios ao sol de inverno e verão, sendo que nesta estação mais quente não o deve fazer entre as 11h e as 16h. Mas aquilo que acontece hoje em dia é que raramente andamos ao ar livre e depois passamos 15 dias na praia a esturricar. Devemos usar protetor solar, mas um protetor de 15 spf impede a síntese de vitamina D em 95% e um de fator 30 quase 99%. Estamos a apanhar sol mas não a beneficiar dele como devíamos, daí que se aconselhe a exposição solar sem protetor fora das horas de maior calor e de forma gradual.”

O longo alcance da vitamina D
A deficiência de vitamina Dé uma condição clínica muitocomum e pode ter consequênciasmuito sérias na sua saúde.Independentemente de onde viva, numa zona mais sombria ou mais ensolarada,a silenciosa deficiência de vitamina D pode estar a boicotar os seus esforços para ter uma saúde de ferro. Para tal, convém sempre fazer análises ao sangue e seguir o conselho do seu médico.Ter bons níveis de vitamina D pode ajudar a prevenir os seguintes problemas de saúde:
• Baixa imunidade
• Obesidade
• Artrite
• Hipertensão
• Dores articulares e nas costas
• Diabetes
• Cãibras musculares
• Infeções das vias respiratórias
• Doenças infecciosas
• Fibromialgia 
• Cancros (de mama, do cólon,do pâncreas, da próstata e dos ovários).

Problemas de saúde que podem dar origem a maior défice
Pessoas que tenham a Doença Celíaca ou de Crohn, isto é, que têm fenómenos mal absortivos, doenças inflamatórias intestinais, devem fazer uma vigilância mais apertada da vitamina D porque também têm necessidades maiores desta vitamina, que é muitíssimo importante para a própria integridade da mucosa intestinal e para a sua funcionalidade.

Doenças mentais sob escrutínio
Já há muitos trabalhos na área da depressão que relacionam índices baixos de vitamina D com estados depressivos. Há trabalhos também que a ligam à esquizofrenia.
Quando a gravidez é durante o inverno, ou a mãe teve uma infeção viral durante a gravidez, temos mais probabilidade de esquizofrenia. É verdade que a esquizofrenia tem um componente genético, mas também tem outro componente que não é conhecido e é ambiental, há muitos investigadores a apontarem para o défice de vitamina D como causa. Por exemplo, temos mais esquizofrenia quando há migração das populações que vão de um país que tem mais sol para outro que tem menos sol.”

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