Bate, bate coraçãoUm estudo publicado na revista médica ‘Circulation’ revelou que há cada vez mais mulheres jovens a ter ataques cardíacos. A culpa, apontam os especialistas, está no estilo de vida muito sedentário e no aparecimento de doenças como diabetes, hipertensão e colesterol elevado cada vez mais cedo. Se juntarmos a isso uma alimentação desequilibrada, rica em gorduras más e açúcares, temos uma mistura explosiva.
Atenção aos sintomas
O ataque cardíaco (ou enfarte agudo do miocárdio) acontece quando uma, ou mais, artérias que irrigam o coração ficam obstruídas, impedindo-o assim de receber o fluxo de sangue carregado de oxigénio e nutrientes que precisa para funcionar. Quanto mais tempo estiverem obstruídas, mais perigoso se torna porque leva à morte uma grande parte do tecido cardíaco, fazendo com que o coração deixe de conseguir bombear sangue… o que pode ser fatal.
Na generalidade, homens e mulheres começam a ter problemas cardíacos em idades diferentes, os homens pelos 40 anos e as mulheres dez anos mais tarde, depois da menopausa, quando ocorre também um aumento de peso que pode dar origem a diabetes, hipertensão e colesterol elevado.
Verificou-se que, por apresentarem sintomas diferentes (e muitas vezes menos exuberantes) que os dos homens, e por ser pouco frequente as mulheres com idade inferior a 50 anos terem enfartes, a classe médica chega ao diagnóstico mais tardiamente, o que diminui as hipóteses de tratamento. Outro fator que também pode comprometer a recuperação é o facto de muitas vezes nós próprias não identificarmos bem os sintomas e adiarmos a ida ao hospital. A ideia que se tem de alguém a ter um ataque cardíaco é que essa pessoa sente uma dor lancinante no peito que pode prender o braço do lado do coração. Mas com as mulheres muitas vezes essa dor é mais subtil, assim como os outros sinais de alerta. Veja na lista em baixo quais são os sintomas a que deve estar atenta. Não se esqueça que pode sentir um ou mais:
• Desconforto e sensação de peso no peito (que pode ou não estar associada à sensação de dor no braço)
• Desconforto ou dor noutra parte superior do corpo: pescoço, maxilar, costas
• Sensação de dor ou mal-estar no estômago, indigestão, indisposição
• Falta de ar
• Náuseas
• Suores frios
• Sensação de desmaio
• Cansaço extremo (não conseguir executar tarefas quotidianas)
Perigos escondidos
Não é só nos sintomas que somos diferentes dos homens, fisiologicamente o nosso coração também o é: as nossas artérias coronárias são mais estreitas e a frequência cardíaca ligeiramente mais elevada (78 batimentos por minuto, contra 70bpm no sexo masculino), tudo isto torna-nos mais vulneráveis a doença cardíaca. Para Bairey Merz, diretora do Women’s Heart Centre do Instituto Cedars-Sinai, nos Estados Unidos, a manifestação da própria doença coronária é diferente entre os sexos: enquanto nos homens há formação de placas nas artérias principais à volta do coração, os exames feitos às mulheres mostram que muitas vezes têm as grandes artérias limpas e que o problema se concentra nas de menor dimensão, que param de contrair e dilatar, o que leva a uma menor irrigação sanguínea, menos oxigénio a circular para o coração, e à morte de tecido.
Aposte na prevenção
Seja no sentido de diminuir o risco de vir a ter um ataque cardíaco, seja como prevenção secundária, ou seja, reduzir ou anular a probabilidade de sofrer um novo enfarte. Os conselhos são igualmente eficazes em ambas as situações.
• Faça uma alimentação saudável, aumente a quantidade de vegetais que ingere (mais sopas, saladas, batidos), o que não faltam são livros com receitas saborosas com estes alimentos. Faça experiências, não desanime se não lhe souber tão bem. Se estiver habituada a sabores fortes, vai levar algum tempo a apreciar algo mais suave, mas a verdade é que a persistência compensa. Coma doces só em dias de festa, e quanto a gorduras, prefira as de boa qualidade, como o abacate, por exemplo. Não se esqueça de que a linhaça, rica em ómega 3, é uma amiga do coração. Ponha na sua sopa, na aveia ou batidos. Obrigatório cortar no sal, aumentar as leguminosas, optar pela aveia ao pequeno almoço e comer mais fruta, frutos secos e do bosque também. Estes alimentos ajudam-na a ficar saciada, são ricos em fibra e têm propriedades anti-inflamatórias, além disso ajudam a diminuir a possibilidade de ter diabetes, colesterol elevado e tensão alta, três fatores de risco.
• Deixe de fumar, o tabaco é ainda mais prejudicial para as mulheres que os homens.
• Faça exercício regularmente. Inscreva-se num ginásio, ofereça-se para passear o cão do vizinho, do primo, eles vão adorar a nova pet walker e os benefícios para a sua saúde são inestimáveis.
• Durma pelo menos 7h por noite. Sabe-se que quem dorme poucas horas produz não só mais cortisol, a hormona do stresse, que se for segregada de forma continuada pode dar origem a uma hipertensão –, como mais grelina, a hormona que nos faz comer mais, daí que se diga que dormir pouco nos faz engordar, o que por sua vez pode levar a uma diabetes. Logo aqui temos dois fatores de risco para um enfarte: hipertensão e diabetes.
• Mantenha o perímetro abdominal abaixo dos 80cm, este número garante (com a ajuda dos pontos anteriores) um menor risco de ataque cardíaco.
• Se suspeita que pode ter depressão, consulte um médico para arranjar uma solução à sua medida. Sabe-se hoje que as pessoas com depressão correm maior risco de ter doenças cardiovasculares (enfartes, AVC…). Se se sente muito sozinha, já pensou em arranjar um amigo de 4 patas? Fazem-nos companhia, ajudam a baixar a tensão arterial e estão sempre contentes por nos ver e prontos para nos dar carinho. Mas não compre, adote!
• Vigie a sua tensão, o ideal é 120/80mmHg.
• O colesterol total não deve ultrapassar as 200mg/dL (o LDL, o mau colesterol, abaixo das 100mg/dL e o bom, HDL, acima das 50mg/dL).
Doença cardíaca – Fatores de risco
• Tabaco
• Diabetes
• Hipertensão
• Colesterol elevado
• Idade
• Sedentarismo
• Familiares com patologias cardíacas
• Dormir poucas horas
• Má alimentação
• Depressão
• Complicações durante a gravidez: diabetes gestacional ou pré-eclâmpsia